domingo, 8 de novembro de 2020

TEM QUE OUVIR: Daughters - You Won't Get What You Want (2018)

Conheci o Daughters no meio da década de 2010 por conta do terceiro trabalho da banda, Daughters (2010), que causou certo burburinho entre os que gostam de rock estranho, denso, sujo e ruidoso. Eu adorei o disco, mas confesso que o grupo escapou do meu radar. Só fui me atentar novamente para a banda no trabalho seguinte, lançado após longos oito anos. Me refiro ao You Won't Get What You Want (2018), lançado pela Ipecac Recordings, gravadora do Mike Patton.


De nome obscuro de noise rock, o grupo ascendeu para um dos grande fenômenos musicais de rock desta década. Muito por conta do resultado sonoro, mas também devido as resenhas apaixonadas de caras como Anthony Fantano e mídias tradicionais como a Pitchfork, que colocaram o álbum ainda mais em evidência.

Explorando um clima angustiante, "City Song" consegue com poucos elementos construir um cenário nebuloso que combina pós-punk e rock industrial da maneira mais vanguardista possível. É incrível como a bateria soa volumosa e os sintetizadores funcionam como um ruído saturadíssimo. A percussão intrincada dito o ritmo da poesia até desaguar numa avalanche fria e metalizada.

Seja pelo arranjo, performance ou densidade da gravação, "Lond Road, No Turns" é absurdamente singular. É um noise rock que cresce em meio ao caos sonoro e a paranoia mental. Inviável tentar descrever a intensidade da canção.

Como uma mistura sombria de Swans com Nick Cave, "Satan In The Wait" hipnotiza por sua repetição transpirante que serve de fundo para um letra que não sou capaz de entender, mas ainda assim fico maravilhado.

A performance destruidora em "The Flammable Man" é um exemplo da intensidade muscular da execução, que gera uma explosão violenta de baixo, guitarra e bateria como em poucos (ou nenhum) momento na história da música.

De atitude punk, "The Lord Song" nos atropela e incendeia nossos corpos em desesperadores 2 minutos e 46 segundos.

Depois de tamanhas pedradas, a sensual "Less Sex" une o blues ao industrial com categoria e beleza impressionante. Com uma batida de "bossa nova do inferno", "Daughter" também funciona no álbum como um momento mais introspectivo. Há um forte elemento gótico na canção.

"The Reason They Hate Me" é um pouco mais convencional (na forma) se comparada as outras faixas, mas nem por isso deixa de ser atraente. De certa forma, ele me parece uma projeção temporal do som garageiro sessentista, ou seja, cortante feito uma navalha. 

Uma batida singular, um baixo gorduroso e uma guitarra paranoica musicam o enredo aterrorizante de "Ocean Song" sem desviar a atenção do ouvinte por um segundo sequer nos mais de sete minutos. Uma sinfonia de horror. Cabuloso!

Em "Guest House" o quarteto alcança voos altíssimos com uma estranheza visceral assombrosa. Um final no mínimo acachapante.

Diante de um resultado tão cáustico, é compreensível que o disco tenha ficado restrito a um nicho de fiéis admiradores. Tudo bem, na escuridão do underground eles estão sob os holofotes. E pode ter certeza, sua fama (cult) só vai crescer com o tempo.

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