domingo, 29 de novembro de 2020

TEM QUE OUVIR: Angel Olsen - My Woman (2016)

Na década de 2010, ocorreu (novamente) uma ascensão significativa de cantoras-compositoras confessionais no indie rock. Neste segmento, Angel Olsen é das mais aclamadas. Embora de regularidade discográfica, é possível apontar My Woman (2016), seu terceiro álbum, como destaque.


Por mais que o nome do trabalho possa parecer o encontro da artista com seu eu lírico (e de certa forma é), musicalmente, é interessante como ele remete a cada instante a diferentes mulheres que pavimentaram a história do rock e da música pop.

O inicio dream pop com "Intern" lembra o lado mais atmosférico da Lana Del Rey. É uma bonita canção, de teor e interpretação apaixonada.

Embora o sentimento se mantenha em "Never Be Mine", a crueza das guitarras (incluindo guitarra acústica), a voz espaçada e o som orgânico de bateria está muito mais próximo das baladas pop sessentista das girls groups. A vontade que temos ao ouvir a canção é de abraçar a Angel Olsen.

Os timbres saturados, quase lo-fi, de "Shut Up Kiss Me", trazem uma rebeldia que remete ao começo da carreira da PJ Harvey. Adoro sua melodia e o poder do refrão, com direito a levada marcial na caixa da bateria.

De voz impecável e guitarras garageiras, o que poderia soar esquelético, se revela uma intensa performance rockeira em "Give It Up". Tremenda composição.

"Not Gonna Kill You" parece o cruzamento da psicodelia do Jefferson Airplane com o plus da abordagem feminina que surgiu nos anos 1990 via a rispidez grunge. Em determinado momento, sua voz ecoa para o além em meio a viradas de bateria. Adoro como a faixa se desenvolve.

Muito mais melancólica, "Heart Shaped Face" tem um faro sessentista. O som de reverb de mola aplicado na guitarra, o baixo opaco, a espontaneidade dos grooves de batera... tudo é de sujeira límpida. Aqui vale destacar a mão do Justin Raisen na produção.

A longa "Sister" remete aos momentos mais angelicais do Velvet Underground. É composição linda e tremendamente emocional. Sua metade final deságua em momentos de pura euforia sônica, com direito a guitarras cortantes à la Neil Young.

O dream pop volta a dar as caras no clima celestial de "Those Were The Days", uma tremenda faixa pop, suspirada ao pé do ouvido e com timbres/arranjo deliciosamente vagaroso. Repare como o som de bateria parece se espalhar pela sala de captação do estúdio.

"Woman" consegue com poucos elementos construir um cenário sofisticado, apaixonado e até mesmo delirante. A performance vocal e o clima de jam no instrumental são exuberantes, algo que chega a lembrar a fase Transa do Caetano e até mesmo as guitarras do Lanny Gordin. Um espetáculo!

A derradeira "Pops" traz o piano para o olho do furação emocional. É o lo-fi do auge da cristalinidade.

Sem invencionismo besta, mas com tremenda qualidade composicional, interpretativa e de produção, My Woman tem tudo para ganhar os corações de quem gosta de boas canções, seja no pop ou rock.

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