Mark Kozelek é um dos artistas mais atuantes no rock alternativo americano desde o final da década de 1980, quando liderava o Red House Painters, grupo precursor do slowcore. Já no início do milênio, ele concentrou suas forças num novo projeto, o Sun Kil Moon, muito mais orientado para a folk music. Embora com diversos discos na bagagem, Benji (2014) foi um destaque por elevar ao limite da canção a máxima de contar boas histórias.
De voz grave, plena e com forte sotaque rural de Ohio, Kozelek abre o trabalho cantando sobre uma prima distante que morreu num terrível incêndio. Sem grande invencionismo sonoro, "Carissa" emociona e deixa o ouvinte em alerta.
Tragédia familiares com fogo voltam a atormentar em "Tuck Driver", com direito a uma abordagem violonística um tanto quanto erudita, muito por conta do dedilhado com som de unha e do bordão grave por toda a música. Uma canção gélida envolto ao calor da história.
Em "I Can't Live Without My Mother's Love", um timbre cru e cristalino de violão de nylon serve de cama para a declaração de amor a sua mãe. È uma canção de abordagem simples, mas extremamente honesta e atemporal.
Seu pai também é homenageado, vide "I Love My Dad". É sensacional o relato de quando o pequeno Kozelek conheceu um colega de classe albino e seu pai como forma de naturalizar o "problema" o apresentou um disco do Edgar Winter. Adoro a forma de rock acústico da canção.
"Dogs" é a primeira faixa com formato de banda. Por ela Kozelek aborda amores e fodas passageiras. O verso final é de conclusão esplêndida. Sua voz dobrada (uma murmurada e outra bem aguda) lembra um pouco o Neil Young, embora a "energia" esteja mais para os momentos mais caipiras do Meat Puppets.
O sangue de crianças inocentes escorre pelo falante em "Pray For Newtown". Uma canção dolorosa que aborda a posse de arma em seu ponto mais trágico.
Nunca um velho amigo de um pai soou tão bucolicamente interessante quanto em "Jim Wise", um homem só, em prisão domiciliar, aguardando seu julgamento após assassinar a esposa. Um teclado lo-fi musica a história.
A pureza da captação do dedilhado em "I Watched The Film The Song Remains The Same" conforta o ouvinte, embora o que se ouça saindo pela voz e alma do Kozelek seja ultra melancólico. Desde quando ele assistiu o clássico filme do Led Zeppelin, passando pelos valentões da escola, até quando assinou seu primeiro contrato com uma gravadora, indo para uma visita a um velho amigo que fará na semana que vem e até mesmo sobre sua futura sepultura. Um épico sobre a vida em 10 minutos acompanhado por arpejos de violão que mais parece uma cascata de água.
Incrível como o Kozelek consegue soar denso e pesado apenas com sua voz e violão (papel e caneta colaboram, claro) em "Richard Ramirez Died Today Of Nature Causes". A canção tem muito das baladas acústicas do Kurt Cobain.
Mais três histórias impressionantemente dramáticas surgem em "Micheline" e nós somos capturados por tamanhas desgraças. Incrivelmente, muito pelo canto e a harmonia, a música soa mais bonita do que angustiante.
"Ben's My Friend" fecha o álbum com um som de banda maravilhosamente orgânico, que parece respirar pela sala de captação. Há groove e até mesmo um clima aor diante do solo de saxofone e das frases de violão flamenco.
Ao abordar a morte, Kozelek canta sobre vidas. Incrivelmente o álbum flui de forma majestosa e singular.
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