domingo, 18 de outubro de 2020

TEM QUE OUVIR: Sun Kil Moon - Benji (2014)

Mark Kozelek é um dos artistas mais atuantes no rock alternativo americano desde o final da década de 1980, quando liderava o Red House Painters, grupo precursor do slowcore. Já no início do milênio, ele concentrou suas forças num novo projeto, o Sun Kil Moon, muito mais pessoal e orientado para a folk music. Embora com diversos discos na bagagem, Benji (2014) foi um destaque por elevar ao limite a máxima de todo grande cancioneiro, que é de contar boas histórias.


De voz grave, plena e com forte sotaque rural de Ohio - meio sonolento, meio ébrio -, Kozelek abre o trabalho cantando sobre uma prima distante que morreu num terrível incêndio. Embora sem grande invencionismo sonoro, "Carissa" emociona e deixa o ouvinte em alerta.

Tragédia familiares com fogo voltam a atormentar em "Tuck Driver", com direito a uma abordagem violonística um tanto quanto erudita, muito por conta do dedilhado com som de unha e do bordão grave por toda a música. Uma canção gélida envolto ao calor da história.

Em "I Can't Live Without My Mother's Love", um timbre cru e cristalino de violão de nylon serve de cama para a declaração de amor a sua mãe. É uma abordagem simples, mas extremamente honesta e atemporal.

Seu pai também é homenageado, vide "I Love My Dad". É sensacional o relato de quando o pequeno Kozelek conheceu um colega de classe albino e, seu pai, como forma de naturalizar o "problema", o apresentou um disco do Edgar Winter. Adoro a forma de rock acústico da canção.

"Dogs" é a primeira faixa com banda. Por ela Kozelek aborda amores e fodas passageiras. O verso final é de conclusão esplêndida. Sua voz dobrada - uma murmurada e outra bem aguda - lembra um pouco o Neil Young, embora a "energia" esteja mais para os momentos mais caipiras do Meat Puppets.

O sangue de crianças inocentes escorre pelo falante em "Pray For Newtown". Uma composição dolorosa que aborda a posse de arma em seu ponto mais trágico.

Nunca um velho amigo de um pai soou tão bucolicamente interessante quanto em "Jim Wise". É a história de um homem só, em prisão domiciliar, aguardando seu julgamento após assassinar a esposa. Um teclado lo-fi sonoriza o enredo.

A pureza da captação do dedilhado em "I Watched The Film The Song Remains The Same" conforta o ouvinte, embora a voz e alma do Kozelek soe ultra melancólica. Aqui ele percorre por suas impressões diante do clássico filme do Led Zeppelin, passando por confronto com os valentões da escola, quando assinou o primeiro contrato com uma gravadora, indo para uma visita a um velho amigo e até mesmo sobre sua futura sepultura. Um épico sobre a vida em 10 minutos acompanhado por arpejos de violão que mais parecem uma cascata de água.

Incrível como o Kozelek consegue soar denso e pesado apenas com sua voz e violão (papel e caneta colaboram, claro) em "Richard Ramirez Died Today Of Nature Causes". A canção tem muito das baladas acústicas do Kurt Cobain.

Mais três histórias impressionantemente dramáticas surgem em "Micheline" e nós somos capturados por tamanhas desgraças. Incrivelmente, muito pelo canto e a harmonia, a música soa mais bonita do que angustiante.

"Ben's My Friend" fecha o álbum com um som de banda maravilhosamente orgânico, que parece respirar pela sala de captação. Há groove e até mesmo um clima aor diante do solo de saxofone e das frases de violão flamenco.

Ao abordar a morte, Kozelek canta sobre vidas. Incrivelmente o álbum flui de forma majestosa e singular.

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