quinta-feira, 6 de agosto de 2020

TEM QUE OUVIR: Baroness - Purple (2015)

Dentre tantas bandas de rock deste milênio, o Baroness é das mais legais de acompanhar. O grupo da Georgia se consagrou com discos altamente regulares, unindo peso e melodias cativantes com uma capacidade impressionante. O ponto mais elevado deles veio com o quarto trabalho, Purple (2015), lançado após o quase acidente fatal no ônibus de tour da banda. A bela arte gráfica novamente é de autoria do vocalista/guitarrista John Dyer Baizley.


Assim como o Mastodon, o Baroness consegue flertar com o rock progressivo sem soar pedante. Isso fica evidente logo em "Morningstar", faixa de riff poderoso, grandes passagens de bateria, harmonia bem desenvolvida e linhas vocais memoráveis, com direito a belo refrão. Tremenda abertura.

"Shock Me" poderia facilmente ser um single do Ghost. O refrão, a melodia e as dobras vocais sugerem um flerte com o rock alternativo mais radiofônico, mas nem por isso deixa de encantar e ousar, principalmente na convenção instrumental pré-solo de guitarra (ótimo solo, por sinal). Por sua vez, a ótima "The Iron Bell" não faria feio no repertório do Foo Fighters. Eletrizante.

Para um grupo com os pés fincados no sludge metal, é surpreendente o direcionamento composicional de "Try To Disappear". A faixa é praticamente um "pop-metal" (tag terrível, mas que faz sentido). Atenção para a variedade timbristica das guitarras e a performance intensa do baterista Sebastian Thomson.

"Karosene" é das minhas prediletas do discos. Violões e melodias ganchudas não eram tão bem usadas no metal desde o Black Album (1991). Exagero? Não acho. Fora que a faixa tem um ritmo frenético.

Falando em Metallica, o cuidado na construção sonora de "Chlorine & Wine" lembra alguns dos momentos melodicamente mais inspirados do grupo. Ótima composição, performance e arranjo.

Embora a vinheta instrumental "Fugue" não seja isoladamente das faixas mais atrativas, ela funciona dentro do contexto do disco.

Riffs nocauteantes como o de "Desperation Burns" tem tudo para fazer desde fãs mais tradicionais de rock até headbangers a perceberem as qualidades do grupo. É primorosa a interação entre as guitarra, baixo e bateria na canção.

A derradeira "If I Have To Wake Up (Would You Stop The Rain?)" é mais um momento de perspicácia melódica via um lodo sonoro. Assim como todo o disco, a canção soa saturada, reverberosa, suja e "crocante". Há uma organicidade convidativa em meio as distorções. Vale dizer que quem assina a produção do álbum é o Dave Fridmann.

Embora não tenha atingido o grande público, o grupo construiu um repertório de prestigio, com capacidade para maiores façanhas em termos de popularidade. Isso tudo sem abrir mão do peso e criatividade. É metal e é pop. É o rock que tem algo a dizer.

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