domingo, 12 de julho de 2020

TEM QUE OUVIR: Adele - 21 (2011)

Provavelmente nenhum disco lançado na última década vendeu tanto quanto o 21 (2011), o segundo álbum do Adele. Entretanto, ainda que ninguém negue o êxito comercial e o talento da cantora-compositora britânica, há quem a veja como "cafona". Não é o meu caso. Produzida por nomes como Rick Rubin e Jim Abbiss, o que transparece em seu trabalho é o poder cativante das canções e interpretações cheias de alma.


Com vozeirão soul/gospel, simpatia irradiante e atributos físicos que fogem do esteriótipo das ditas "divas pop", Adele tomou de assalto a lacuna deixada pela Amy Winehouse, só que desta vez via uma persona com o pé no chão.

O super-hit "Rolling In The Deep" abre o disco com um daqueles refrões arrasa quarteirão. Toda sua técnica e paixão interpretativa são evidenciadas na canção. O bumbo pulsante durante toda a faixa dita o ritmo contagiante.

A sonoridade orgânica e até mesmo a sujeira vocal em "Rumour Has It" traz aquela atmosfera sessentista que tanto adoramos. Atenção para as palmas e dobras vocais feitas por ela mesmo, como se ela quisesse numa pessoa só personificar as girls groups. Há uma ponte na metade da canção de arranjo cinematográfico lindíssimo. Ótimos órgãos, guitarras e timbre reverberoso de bateria completam a faixa.

Em tempos onde baladas pianísticas soam tão pouco inspiradas, "Turning Tables" saí na frente de largada. Bonita melodia.

Somando à pieguice country/americana um arrojo melódico improvável, "Don't You Remember" soa espantosamente bem. A equipe do Rick Rubin brilhou na captação dessa faixa. Mixagem cristalina, aconchegante e grandiosa.

De refrão altamente ganchudo, "Set Fire To The Rain" foi outro enorme sucesso. E nem com sua massiva rotação nas rádios, novelas, loja de departamento ou o que quer que fosse, deixei de desgostar de seu arranjo poderoso e interpretação intensa.

O balanço tipicamente r&b de "He Won't Go" se diferencia de outras artistas contemporâneas por sua elegância vocal tão forte quanto contida. Digamos que o groove de bateria, a orquestração (com direito a harpa), os acordes espaçados de piano o baixo do Pino Palladino também fizeram um diferencial.

Essa aura que parece captar a pureza do estúdio é sentida também em "I'll Be Waiting", faixa que deixaria muito rockeiro de joelhos diante da estrela pop.

É atestado de má vontade ouvir o canto da Adele na balada "Take It All" e não reconhecer seu talento vocal, que traz verdade para a desilusão amorosa da letra. Não somente por ser calcada no piano, mas tem muito de Elton John na composição. O mesmo vale para "One And Only", com direito a melodia, timbre de órgão, piano e groove de bateria apaixonante.

A bonita versão para "Lovesong" do The Cure posiciona o ouvinte para o que de fato é Adele, uma estrela pop, com conhecimento de causa musical e humanamente melancólica.

São inúmeros os discos feitos após fim de relacionamento e com papel, caneta e piano servindo de auto análise. Dentre tantos frutos deste sentimento, o hit "Someone Like You" tinha tudo para ser apenas "mais um" ou, o pior, soar falso. Entretanto, cada palavra é cantada brilhantemente remoendo o passado. Um ode a não banalização do coração partido no pop. Tocou demasiadamente? Sim, mas aí não é culpa da canção.

Vale dizer que quando o álbum foi lançado, ainda existia lojas de disco. Frequentava uma delas na época, que em uma de minhas passadas de 15 minutos, vi três moças na sequência entrando pedindo pelo CD. E isso se repetiu por todo o mundo. Ingressos esgotados, capas de revistas e o Grammy de melhor disco de ano foram apenas consequências.

3 comentários:

  1. Na boa, sem ofender, que CDzinho bem chato esse da Adele, hein... Realmente não entendo como "21" conseguiu fazer tanto sucesso no mundo todo e ser premiado pela crítica. Músicas como "Rolling in the Deep", "Someone Like You" e "Set Fire to the Rain" até hoje são de doer os ouvidos de qualquer um quando são tocadas no rádio. Não sou grande admirador da cantora inglesa e sempre considerei-a uma artista bastante ultrapassada. Mas o disco está aí, para quem é fã mesmo dela!

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    1. Hahahaha pegou pesado com a Adele. Mas tá certo, cada um com sua percepção. Eu gosto bastante. Pode não ser transgressor, mas não considero ultrapassado. É a forma canção na música pop com muito êxito sonoro, interpretativo e composicional.

      Abraço e obrigado pelo comentário.

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    2. Peguei pesado sim, mas no bom sentido, como eu disse, sem ofender nem prejudicar ninguém, tá bom? Valeu, chefe!

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