Grandes momentos do Ringo Starr

Ringo Starr fez 80 anos. Todavia, embora passado tanto tempo, tem quem ainda ache ele um "cara de sorte", que pouco colaborou para a sonoridade dos Beatles.

Claro, num grupo com tantos integrantes talentosos, é normal considera-lo o menos importante. Todavia, não é isso o que vejo por aí. Tem quem realmente considere ele irrelevante, o que é um tremendo erro.

Não sou grande entusiasta da sua voz, mas há inúmeros momentos em que ele brilha na bateria. Inclusive, ele fazia isso numa época em que muitos grupos ainda usavam músicos de estúdio. E se há dúvida ainda de sua capacidade musical, basta ver qualquer performance dele ao vivo. Seu ritmo é certeiro, constante e cheio de personalidade.

Listarei alguns momentos do Ringo que sempre saltaram aos ouvidos. Muitos deles são bem manjados, mas vale reouvir prestando atenção no seu desempenho.

Rain 
Sempre que se falar em performance do Ringo na bateria, as pessoas lembram de "Rain". Uma atuação descontrolada (no bom sentido), onde ele encaixa viradas por toda a música. Isso dentro de uma canção docemente psicodélica.

I Want To Hold Your Hand

Através de faixas como "I Want To Hold Your Hand", Ringo definiu muito da linguagem do chimbal no rock n' roll. Inclusive, é legal como ele ataca o prato quase de lado, meio que "pincelando" o instrumento. Adoro também as palmas. Vale reparar que, embora captada com poucos microfones, sua bateria soa poderosa.

I Feel Fine

Com swing meio soul, meio jazzy, Ringo usa os tons em meio a levada de "I Feel Fine". No refrão é possível perceber o uso do aro da caixa. Um arranjo intrincado e performance inspirada.

Ticket To Ride

Daqueles momentos em que uma levada básica já resolveria, mas que o Ringo trabalha seu instrumento como ferramenta de composição. Uma levada arrebatadora e única.

Taxman

Sim, a linha de baixo é espetacular, mas já repararam como a levada de bateria permite que ela aconteça. Não há congestionamento, apenas acentuação. 

She Said She Said

Um absurdo! Uma das performance mais legais de bateria na história do rock. Groove criativo, com deslocamento do acento e muitas surpresas.

Tomorrow Never Knows

Uma das faixas mais celebradas quando o assunto é a criatividade do quarteto, guarda em sua composição um loop de bateria fantástico. Excelente timbre de bateria.

Good Morning Good Morning 

Longe de estar entre minhas faixas prediletas dos Beatles, mas a performance do Ringo sempre saltou aos meus ouvidos. É uma pancada!

Strawberry Fields Forever

Só pela primeira virada - meio descompassada, que parece que vai dar errado, mas que gera uma resolução perfeita -, Ringo já deveria ser reconhecido como o brilhante instrumentista que é.

Baby You're A Rich Man

Faixa pouco lembrada, mas que o Ringo brilhantemente trabalha não somente sua bateria, mas também maracas, pandeireta e palmas. Ótimo arranjo e execução.

Come Together

Uma vez vi o Dave Grohl falando "se você consegue soar "cool" somente tocando o surdo - como nos versos de "Come Together" -, então você certamente é especial". Isso sem mencionar a criativa linha de bateria da introdução, o bumbo antes dos refrões, além do próprio refrão, somente com básicas batidas de bumbo e caixa. Genial.

Here Comes the Sun

Ringo Starr toca em diferentes compassos (11/8, 4/4 e 7/8) numa das principais baladas do grupos e muitos ouvintes sequer percebem. Fluidez e simplicidade dentro de uma forma complexa.

The End 

A faixa derradeira dos Beatles. Todos solam, inclusivo Ringo, que manda viradas cheias de personalidade. Sua marcação no bumbo entre as frases de tons é ainda hoje imitada pelo Abe Laboriel Jr. nos shows do Paul McCartney.

It Don't Come Easy

É verdade que a carreira solo do Ringo é a menos interessante dos integrantes dos Beatles (competição difícil também, hein!), mas nada justifica ela nunca ser mencionada. O álbum Ringo (1973), por exemplo, é bem bom. Lá está essa ótima faixa, dona de bom arranjo e levada discretamente contagiante. Se ainda não conhece, eis uma oportunidade.

I Found Out
Ao ouvir a carreira solo dos integrantes dos Beatles, vale perceber a mão do Ringo nos discos de seus companheiros. Veja, por exemplo, sua participação no clássico Plastic Ono Band (1970) do John Lennon. Faixas como "I Found Out" crescem muito por conta de sua batida dura e seca, além de viradas elegantes.  

Vida longa ao Ringo.