Embora não dê a menor importância para isso, acho interessante como tanto o rock quanto a guitarra são dados como mortos ano após ano. Se o que se espera do estilo e instrumento for a velha releitura do passado, deve-se buscar outras fontes. Mas se há interesse pela repaginação de ambos, o trabalho da St. Vincent é uma excelente pedida, sendo o álbum Strange Mercy (2011) dos mais criativos da última década.
St. Vincent nada mais é que a Annie Clark, uma compositora inquieta e guitarrista estranhamente virtuosa. Sua canções trazem fortes elementos de pop e art rock dentro de uma visão futurística.
"Chloe In The Afternoon" abre o disco colocando sintetizadores etéreos, um beat consistente de bateria e guitarras saturadíssimas para dialogar enquanto ela invoca a Björk através de um canto apaziguador. A junção dos timbres dentro do arranjo é espetacular e nada convencional.
A pulsação e a linha melódica da guitarra (que através do fuzz, soa mais como um sintetizador) em "Cruel" é altamente pop (ou ao menos indie pop). Há uma clima solar à la Vampire Weekend na faixa. Atenção para seu solo rasgante e as orquestrações por trás do arranjo.
É incrível como mesmo a balada "Cheerleader" cresce através de timbres "crocantes". Alias, sua produção reverberosa e volumosa (principalmente no refrão) é espetacular.
Uma das características mais interessantes no tocar da St. Vincent é como ela aplica cascata de arpejos em timbres limpos de guitarra, vide o que acontece pontualmente na inusitada "Surgeon". Há ainda melodias meio orientais, baixos esquisitíssimos e um excelente solo de guitarra.
O indie rock parece respirar novos ares em "Northern Lights", mas uma vez com timbres saturados deliciosos (beirando o noise), batida insistente de timbre lo-fi e engenhosas passagens de guitarra.
Em "Stange Mercy" fica explicita a qualidade interpretativa vocal da Annie Clark, que responde a si mesma com acordes quase jazzisticos. Bonita faixa de sonoridade claustrofobicamente cristalina.
É curiosa o uso de coro vocal em "Neutered Fruit", que trafega meio a um beat esquelético e calorosas guitarras. Essa mesma abordagem se faz vale na excelente "Dilettante".
Como um ambient pop, "Champagne Year" evolui de maneira espetacular. Apontando para o oposto, "Hysterical Strenght" é estranhamente dançante. A música traz toques de Roxy Music.
"Year Of The Tiger" fecha majestosamente o álbum quando sua sonoridade já está estabelecida e assimilada. Não há mais timbre corrosivo, doçura interpretativa e produção/arranjo inusitado que possa causar estranhamento. Há apenas deslumbramento.
De personalidade fortíssima e canções acima da média, St. Vincent faz a diferença com ferramentas conhecidas. Seu talento é gritante.
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