Em tempos de redes sociais e "noticias bombásticas" efêmeras, algo que parece liquidado no pop é a simples e boa canção. Claro, a Beyoncé ou Frank Ocean podem me desmentir, mas até mesmo seus grandes momentos musicais são acompanhados de fatores extra musical que colocam a canção (involuntariamente ou não) em segundo plano.
Essa minha pequena critica não cabe a Natalie Laura Mering, ou melhor, a Weyes Blood, uma cantora-compositora americana com aura de fada, mas distante da persona blasé de interpretes como Lana Del Rey. Dona de uma voz etérea digna de "Kate Bush encontra Karen Carpenter", ela trouxe novamente aos holofotes o esplendor do soft rock/chamber pop das década de 60 e 70. Isso fica explicito logo na abertura do Titanic Rising com a balada cinematográfica "A Lot's Gonna Change".
Embrulhado numa capa belíssima, com produção vintage e arranjos elegantes - muito disso graças a sempre competente Sub Pop e a assinatura do Jonathan Rado (Foxygen) na produção -, o álbum nos leva para uma viagem sonora distante da urgência contemporânea.
De interpretação e melodia cuidadosa, "Andromedra" é um dream pop que vai deliciosamente anestesiando o ouvinte conforme evoluí. Um espetáculo!
O single "Everyday", de clipe divertidíssimo e arranjo não menos cativantes - palminhas, baixo opaco, coro de vozes numa melodia psicodelicamente sessentista, refrão certeiro, órgão barroco e piano de saloon -, é de eficiência pop gritante.
A forma com que "Something To Believe" se desenvolve é digno de uma balada progressiva, vista a grandiosidade da canção.
Guiado por arpejos velozes sintetizados, "Movies" é uma peça de esplendor solitário, expondo uma interpretação exuberante e dramaticamente frágil. Lindo e impressionante!
Se a Lana Del Rey fizesse uma parceria com o Moody Blues, o resultado seria próximo ao alcançado em "Mirror Forever", dona de arranjo vocal singelo. Outra referência é a Joni Mitchell, presente na abordagem acústica de "Wild Time".
De melodia celestial, cordas glamourosas e produção cheia/reverberosa à la Phil Spector, "Picture Me Better" é um sopro divino. A vinheta orquestrada "Nearer To Thee" é a flechada final. Chique.
Embora com tantos resquícios sonoros do passado, o disco não soa velho ou pastiche. Na verdade é uma projeção atual dos mesmos conflitos, angustias, desilusões e amores que produziram canções eternas no passado. Isso nunca vai ser um problema, embora pareça cada vez mais raro.

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