sábado, 25 de abril de 2020

TEM QUE OUVIR: Car Seat Headrest - Twin Fantasy (Face to Face) (2018)

Pessoalmente, o álbum Twin Fantasy tem uma similaridade com o Milo Goes To College. Antes mesmo de saber do que se tratava, já reconhecia a capa de ambos em camisetas, redes sociais e tatuagens. Entretanto, se com o disco do Descendents bastou uma única audição para entender o prestigio, o álbum do Car Seat Headrest me pareceu um culto besta com ares de meme.

Acontece que o disco lançado no Brandcamp pelo Will Toledo em 2011 sob o nome de Car Seat Headrest era tão mal gravado que honestamente não consegui ver valor nas composições. Eu gosto de produções lo-fi, mas ali simplesmente não funcionou (para mim, claro, visto seu status de "cult").

De alguma forma, essa tosquidão sonora devia incomodar também o artista, dado que em 2018, já com o ótimo Teens Of Denial (2016) na bagagem, ele decidiu regravar as músicas em seu formato definitivo. Eis que saiu Twin Fantasy (Face To Face), lançado pela Matador e embalado na mesma capa do álbum original. Seus fãs foram a loucura e os que desconheciam logo se convenceram da qualidade.


Embora relançadas, todas as composições soam com enorme frescor. Por melhor arranjadas/captadas/executadas/mixadas que estejam, há ainda espontaneidade e sujeira na gravação. Se antes não consegui valorizar as composições, aqui fica claro a excelência de letras, que fazem o contraponto entre o emotivo e o bizarro. Tudo com uma energia jovem ao interpretar temas como sexualidade, conflitos emocionais, cotidiano e drogas.

Com uma melodia não menos que memorável e desenvolvimento explosivo, "My Boy (Twin Fantasy)" é um faixa de abertura e tanto. Entretanto, ela não prevê o que estaria por vir.

"Beach Life-In-Death" é um estranho épico do indie rock que resume a qualidade lirica do Toledo. A letra tão humorada quanto cruel é fluída e dialoga perfeitamente com as guitarras estridentes em melodias tortas e levadas de bateria capazes de causar arritmia. A interpretação vocal apaixonada também dá força a gravação (ninguém berrou com tanta honestidade a frase "I don't want to have schizophrenia"). Já os timbres lo-fi trazem rispidez para uma produção intensa. E por mais interminável que a música pareça, ela passa longe do tédio, estando mais para uma montanha-russa. Espetacular!

Muito mais contida, embora igualmente confessional, "Sober To Death" é a prova do polimento que as composições mereciam. Já a curtinha "Stop Smoking (We Love You)", no auge da simplicidade, ganha pela sinceridade. Por sua vez, os timbres explorados "Nervous Young Inhumans" parecem querer levar a canção a uma combustão.

Além de nos avisar previamente que estamos prestes a conferir um refrão altamente recompensador, "Bodys" agrada pela maneira com que as dobras vocais se misturam. A guitarra insistente também fortalece a evolução da faixa. Praticamente um encontro do LCD Soundsystem com o Strokes.

De energia interpretativa avassaladora e dinâmica "ora baixa, ora alta" à la Pixies/Nirvana, "Cute Thing" faz o dever de casa do rock alternativo. Fora que sua letra irônica é divertidíssima. Até a troca na letra original do Dan Bejar pelo Frank Ocean parece oportuna.

Longe de viagens alucinógenas irreais, a psicodélica "High To Death" apresenta uma bad trip conhecida por qualquer jovem que já deu um passo maior que a perna.

No final, um caldeirão de emoções é despejado sob nossas cabeças via os 16 minutos acendentes de "Famous Prophets (Starts)". Uma epopeia de paixão, euforia, depressão e estranheza. Sendo assim, "Twin Fantasy (Those Boys)" é o hino fúnebre, a tampa do caixão do disco.

Quando um álbum cult é aperfeiçoado, seu status é elevado a nível de clássico. Pode parecer exagero, mas as canções se comunicam tão bem com uma geração que para mim essa posição é irrefutável.

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