terça-feira, 19 de novembro de 2019

TEM QUE OUVIR: Fiona Apple - Tidal (1996)

Desde que a Joni Mitchell lançou o clássico álbum Blue (1971), inúmeras outras cantoras-compositoras de anseio confessional surgiram. Entretanto, talvez afetado pelo niilismo grunge, essa tendência aumentou ainda mais em meados da década de 1990, vide a PJ Harvey, Tori Amos e Liz Phair, que abriram as portas para a explosão da Alanis Morissette em 1995. Diante deste cenário, é possível afirmar que o álbum que melhor representa as ambições e angustias femininas é Tidal (1996), a deslumbrante estreia da Fiona Apple.


Embora com apenas 18 anos, Fiona parece ter vivido o suficiente para cantar versos desolados. Ela não soa fake, mas sim com alma. Fora que sua destreza musical lhe dá larga vantagem.

"Sleep To Dream" abre o disco com um beat em looping que poderia estar num álbum de trip hop. Todavia, o enorme arranjo de cordas, a pungente linha de baixo, o piano sinistro e a produção redonda dá um aspecto muito mais dark para a canção. Um hit imediato!

A maturidade com que a Fiona Apple interpreta "Shadowboxer" é impressionante. Ela soa como uma transposição feminina do Jeff Buckley. Curiosamente, a vulnerabilidade é a mesma. Excelente refrão.

Sua voz grave e convicta dá vida a uma personagem atraente e perigosa em "Criminal", mais um hit da época. É interessante perceber como a faixa tem todos os trejeitos do rock alternativo noventista, embora com arranjo orquestrado e piano no lugar das guitarras. O groove final da canção é espetacular. Vale dizer que a mão do Jon Brion foi fundamental para o instrumental exitoso não somente desta faixa, mas de todo o disco.

A voz e o piano melancólicos da Fiona são as bases para as composições, vide o que acontece na elegante (e depressiva) balada "Sullen Girl", na jazzística "Slow Like Honey" (uma aula de respiração ao cantar) e na graciosa "Never Is A Promise". Há ainda trejeitos do neo-r&b em "The First Taste".

Com uma estreia dessas, Fiona Apple cresceu em meio a prêmios e culto, posto do qual não saiu. Uma artista ainda hoje inquieta e prestigiada.

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