quinta-feira, 28 de novembro de 2019

TEM QUE OUVIR: D'Angelo - Brown Sugar (1995)

O r&b vive momentos de glória no século XXI. Isso porque conseguiu adequar/atualizar seu som num formato pop contemporâneo, mas sem perder a dignidade artística. Da Beyoncé ao Frank Ocean, os exemplos são diversos. Entretanto, o estilo passou por uma entressafra no inicio da década de 1990. Mesmo o Prince, herói na década anterior, embarcou em viagens sonoras difíceis de acompanhar. A pasteurização através de cantoras como Mariah Carey legitimamente não agradavam os fãs do gênero. Foi diante deste cenário que surgiu o D'Angelo com o seu aclamado Brown Sugar (1995).


O artista cresceu em meio a música gospel e o jazz, conseguindo posteriormente transitar para o r&b trazendo elementos contemporâneos a época. Timbres de bateria eletrônica se somam a Fender Rhodes e órgãos Hammond, sendo justamente essa união a saltar aos ouvidos na abertura do disco através do hit "Brown Sugar". Sua atmosfera urbana se deve muito a parceria com o Ali Shaheed Muhammad. Já o aspecto sexy da canção é exclusiva do D'Angelo mesmo.

Vale registrar que, embora o álbum tenha sido lançado pela EMI, sua produção foi baratíssima. Para surpresa dos diretores da gravadora, o disco vendeu 300 mil cópias somente nos dois primeiros meses.

O beat consistente de "Alright" é acompanhado por um arranjo de teclado viajante e um potente coro de vozes, ainda que interpretado com delicadeza aconchegante. É praticamente um encontro entre Stevie Wonder, a música gospel e o rap. Tudo isso num approach pop.

É impressionante o desfile melódico que o D'Angelo promove com sua voz na fantástica "Me And Those Dreamin' Eyes Of Mine". Diante da gravação, onde ele ainda arranjou e tocou todos os instrumentos - com exceção do ótimo solo de guitarra do produtor Bob Power -, seu talento torna-se inegável. Atenção, na época ele tinha apenas 21 anos.

Um dos fatores que aproximou o r&b do artista a uma nova geração é o elementos textual, já que não daria para imaginar os medalhões do estilo cantando músicas como "Shit, Damm, Motherfucker". Falando nos veteranos do gênero, vale se atentar para a nova roupagem de "Cruisin'", originalmente do Smokey Robinson.

A quase jazzistica "Smooth" soa com um vigor contagiante através de seu ritmo cru em meio aos arranjos de cordas ao fundo. Excelente faixa! O clima jazz aparece também na balada "When We Get By". 

Vale ainda destacar o single "Lady", uma canção apaixonada (inclusive em performance) que permeou o imaginário de muitas garotas e garotos.

Ao final, "Higher", um perfeito r&b de vocais soberbos sobrepostos (todos do D'Angelo, com forte traço gospel), hammond elegante e baixo do Will Lee.

Após esse clássico imediato, D'Angelo focou em lançamentos esporádicos e certeiros. Aqui está só o começo de um nome fundamental para o r&b contemporâneo e neo-soul.

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