sexta-feira, 8 de novembro de 2019

TEM QUE OUVIR: Boards of Canada - Music Has The Right To Children (1998)

Um dos períodos mais interessantes da música eletrônica se deu no final do milênio, onde grupos eclodiram abusando de texturas timbrísticas que apontavam tanto para o futuro quanto para o passado. Em seu debut, o Boards of Canada demonstra isso não apenas sonoramente, mas também no conceito nostálgico que permeia o álbum.


Como um despertar de traumas e memórias afetuosas à partir de programas televisivos e fotografias de infância, as faixas presentes no Music Has The Right To Children trazem beats vigorosos costurados na calmaria de sintetizadores analógicos. É tudo muito denso, delirante e atraente.

Após uma breve nuvem ambient ("Wildlife Analysis"), uma verdadeira pancada no peito se faz valer no ritmo urbano de "An Eagle In Your Mind". A interação com o hip hop é clara, visto o uso bem colocado de scratches. O desenvolver da música é de exuberância crescente.

É hipnótica a imersão em ritmos como o de "Telephastic Workshop", que usa até mesmo vocalizações inteligíveis em seu beat.

Os timbres de "Syxtyten" são esmagadores. Há colagens de vozes, sintetizadores etéreos, ruídos glitch e graves nocauteantes de bumbo. Uma produção definitivamente arrojada. As mesmas características dominam a espetacular "Pete Standing Alone".

Tão pesada quanto é "Roygbiv", onde um baixo corrosivo é amaciado através de uma composição bela. Falando em baixo, é preciso destacar o groove da psicodélica "Aquarius".

Quem gosta de downtempo e trip hop encontrará conforto na intoxicante "Turquoise Hexagon Sun", onde sons de um diálogo se misturam ao ritmo lascivo.

"Rue The Whirl" constrói uma interessante ponte entre ritmos de boom bap e sintetizadores de música ambient. Tudo com uma produção bastante atmosférica. Algum desavisado pode até acreditar que se trata de um beat do Madlib.

Entre as faixas mais longas, vinhetas constroem uma narrativa cinematográfica riquíssima. É possível destacar neste sentido a sinistra "The Color Of The Fire" e o baixo sintético e oriental de "Kaini Industries".

Lançado pela Warp e jogados no balaio da IDM, o duo se consolidou como um dos mais emotivos dentro da cena eletrônica.

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