TEM QUE OUVIR: Nuggets: Original Artyfacts from the First Psychedelic Era, 1965–1968 (1972)

Não costumo trazer coletâneas aqui para o "Tem Que Ouvir" deste humilde blog, mas uma em especifico merece atenção. Me refiro a clássica Nuggets, uma compilação de garage rock e rock psicodélico que definiu muito da estética do rock sessentista.

Num cenário cultural borbulhante que foi os EUA na segunda metade da década de 1960, diversos grupos não conseguiram galgar êxito comercial. Muitas bandas pararam no primeiro disco, sendo que outras nem isso, tendo lançado apenas compactos. Com isso em mente, Lenny Kaye (jornalista musical e posteriormente guitarrista da banda da Patti Smith) fez uma curadoria e convenceu a gravadora Elektra a lançar a compilação. O resultado é essa obra-prima do rock n' roll.

Embora caixas e mais caixas tenham sido lançadas resgatando outros grupo, é a edição de 1972 a mais clássica e fundamental. Sua capa altamente psicodélica é um prefácio do conteúdo.

"I Had To Much To Dream (Last Night)" (The Electric Prunes) dá início a viagem com sons de fuzz que parecem moscas atiçando o ouvinte. Seu refrão explosivo é espetacular.

Embora o resgate do blues americano fique muito associado a uma geração de jovens ingleses que chegaram ao sucesso via Invasão Britânica - vide Rolling Stones e John Mayall & The Bluesbreakers -, grupos como The Standells e The Shadows Of Knight, na obscuridade, demonstravam ter grande conhecimento de causa.

A aura psicodélica é inflada através do órgão do Al Kooper em "No Time Like The Right Time" (The Blues Project). Atente-se para seu estranho toque oriental no meio da canção.

Quantos grupos atuais não tentam emular a sonoridade das guitarras presente em faixas como "Psychotic Reaction" (Count Five)? Falando em guitarras, o Ted Nugent arrebenta na versão de "Baby, Please Don't Go" (The Amboy Dukes).

Há ainda a clássica "You're Gonna Miss Me" (The 13th Floor Elevators) e "Open My Eyes" (Nazz), essa última do primeiro grupo do Todd Rundgren.

O beat insistente de "Night-Time" (The Strangeloves), as impecáveis vozes à la Beatles da espetacular "Lies" (The Knickerbockers), a energética "Don't Look Back" (The Remains), a guitarra corrosiva num doo-wop em 3/4 de "Invitation To Cry" (The Magicians) e o pop barroco de "My World Fell Down" (Sagittarius), são outros excelentes registros.

De tão fundamental que é esse álbum, Nuggets virou praticamente um subgênero para todas as bandas psicodélicas obscuras. A influência deste disco vai do Cramps ao King Gizzard & Lizard Wizard, ainda que o maior legado seja, além da própria música, o resgate de artistas que não viram a luz do público. E pode ter certeza, existem muitas outras bandas à espera do garimpo.