segunda-feira, 21 de outubro de 2019

TEM QUE OUVIR: The Modern Lovers - The Modern Lovers (1976)

Sabe aquela tendência dos indies de apontarem bandas que ninguém ouviu como prediletas? Pois então, eu apostaria que o Modern Lovers foi a primeira cobaia dessa experiência. Não me entenda mal, a música do grupo é muito mais que isso, mas sua história comercial é digna de um conto hipster.

Encabeçada pelo Jonathan Richman, a banda de Massachussets tinha na formação o tecladista Jerry Harrison (posteriormente Talking Heads) e o baterista David Robinson (futuramente The Cars). O baixista Ernie Brooks completa o time.

Todavia, ainda que talentosos e precursores de uma cena rockeira em Boston, o disco não despertou o interesse da gravadora (a gigante Warner), que arquivou as gravações de 1972 com produção do John Cale (Richaman era um grande fã do Velvet Underground e Stooges, sendo o Cale a escolha óbvia para a empreitada). Foi só em 1976, quando o selo Beserkley recuperou os registros, que o Modern Lovers viu a luz do túnel auditivo.


"Roadrunner" abre o disco expondo o quão influente eles são, visto que a música foi regravada pelo Sex Pistols. A canção de crueza excitante é carregada por um órgão singelamente abrasivo. O mesmo instrumento traz em "Astral Plane" o clima de bar rústico americano com o cheiro de flores psicodélicas mortas. Escutando a faixa, é possível até lembrar do Doors.

Mesmo com ecos hippies, a banda tá mais para um proto-punk, visto a imediatez corrosiva de "She Cracked" e a garageira "Someone I Care About". As contrastantes "Old World" e "Modern World" também alimentam essa percepção.

O grande trunfo do grupo é a qualidade composicional do Richman, vide a provocativa "Pablo Picasso" (de instrumental insistente "de uma nota só" e um solo de guitarra enfurecido) e a criativa "Hospital" (onde o sujeito narra a angústia da espera da saída de sua amada do hospital). Divertido, estranho e arrebatador.

Embora o rock tenha se transformado drasticamente durante os quatro anos em que o álbum ficou arquivado, é impressionante como o som do Modern Lovers não envelheceu um dia sequer. Na realidade, ainda hoje sua sagaz ferocidade é atraente.

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