segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

TEM QUE OUVIR: Aphex Twin - Selected Ambient Works 85-92 (1992)

Muitos elementos fora da curva tornam o trabalho do Aphex Twin especial. Nascido em 1971, o enigmático Richard D. James começou suas produções caseiras com impressionantes 13 anos. Seu processo evolutivo inicial pode ser conferido no clássico Selected Ambient Works 85-92 (1992).


O músico/produtor racionaliza a música techno e traz a ela elementos da música ambient, tornando sua obra de excelência, profundidade e sofisticação latente. Costuma-se a dar a isso o nome de IDM (Intelligent Dance Music), uma abreviação que procura empacotar as produções eletrônicas mais arrojadas e cerebrais numa época em que o estilo começara a explodir nas raves como mero produto de entretenimento. Aqui a estética volta a ser o ponto central no gênero. (obs: digo isso sem qualquer juízo de valor, afinal, música eletrônica "dançante" também é legal).

"Xtal" abre o disco em sintonia com a acid house, mas coberta por um clima lisérgico que não vinha das bandas de Madchester, mas do som lo-fi das fitas e do clima espacial da música ambient.

Embora de beat incisivo, existe toda uma atmosfera introspectiva em "Heliosphan". O mesmo vale para a tão estranha quanto adorável "Schottkey 7yh Path". Em ambas vale observar o uso de filtros de equalização que dão a sensação de "abafado", como se as músicas tocassem no nosso subconsciente.

"Ptolemy" novamente se aproxima da tão em voga (na época) house music. Por sua vez, a densa "Hedphelym" não é nada comparável ao que rolava no período, embora épica em sua não ortodoxia.

Adoro o clima new age transcendental dos sintetizadores de "Tha". Seu beat insistente soa como se construído com uma garrafa pet.

A pequena vinheta "I" é das mais bonitas faixas de música ambient. Sua sequência é a abstrata "Green Caix", dona de linha de baixo frenética. Na pulsante "Ageipolis" é também o baixo que guia a composição, mas aqui de forma mais hipnótica, apontando para o agressivo beat.

"We Are The Music Makers" é um clássico no que diz respeito a sample. Nada mais que uma coleção de recortes de um artista dono de grande conhecimento artístico.

Não são muitos os discos de música eletrônica em que a experiência de ouvir sozinho no quarto faz mais sentido do que num porão escuro e lotado. Álbum fundamental para desenvolvimento da música contemporânea.

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