Em 1980, poucos anos antes do ensolarado BRock monopolizar a música pop/jovem brasileira, um bisneto de escravos angolanos nascido no bairro do Tiete lançou algumas das maiores pérolas da canção popular nacional. Obviamente me refiro ao Itamar Assumpção e seu disco de estreia, o cultuado Beleléu, Leléu, Eu.
Produzido de maneira independente pelo selo Lira Paulistana - reduto da tal Vanguarda Paulista -, o álbum traz a companhia da Isca de Policia, espetacular banda de apoio que tinha como grande diferencial um divertido e teatral coro feminino (mais uma vez vale lembrar, anos antes da Blitz).
Musicalmente o álbum parece uma desconstrução rítmica no reggae numa visão bastante brasileira. "Luzia" deixa isso mais que explicito. A métrica vocal da canção é extremamente criativa e sofisticada.
A tradição da canção popular se manifesta nas lindas "Fon Fin Fan Fin Fun" (de arranjo brejeiro nada ortodoxo), "Nega Música" (linda e criativa, mesmo em sua instrumentação compacta) e "Beijo Na Boca" (de genuinidade pop impressionante).
Existe uma poética cinzenta e urbana em "Baby" e nas auto-descritivas "Fico Louco" e "Nego Dito", sendo que o refrão desta última ecoa por todo o disco. A estranhice de vanguarda presente em "Embalos" serve como uma oxigenação para a música brasileira.
Clássico da MPB, do rock, da música alternativa, dos malditos, do pop não reconhecido... da Vanguarda Paulista.
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