quarta-feira, 26 de setembro de 2018

TEM QUE OUVIR: Belle and Sebastian - "Tigermilk" (1996)

Acho interessante o fato de gostar de álbuns de estreia de grupos que não curto. Os exemplos são inúmeros: Guns N' Roses, Strokes, Legião Urbana e Coldplay, só para citar alguns. O mesmo vale para o "Tigermilk" (1996) do Belle and Sebastian. O que há em comum nestes debuts é sua espontaneidade e urgência juvenil. Isso acontece até mesmo numa banda formada por seis comportados jovens escoceses.


Este disco é o trabalho de conclusão de um curso sobre indústria da música feito pelo baterista Richard Colburn com o Stuart Murdoch, o compositor de todas as canções. Inicialmente foram lançadas apenas 1000 cópias do álbum pela Electric Honey, selo criado pela própria banda. Um roteiro para indie nenhum botar defeito. Não demorou para o grupo chamar atenção no cenário alternativo.

Numa época em que o esporro grunge ainda ecoava - embora já saturado -, as doces melodias de chamber pop do grupo soaram revigorantes. Há inocência, melancolia e alegria contida nas composições do disco.

"The State I Am In" abre o álbum com toques de Byrds. Elementos da música folk, assim como violinos e trompetes à la "Alone Again Or" (Love) dão as caras na "Expectations", canção emulada (sem sucesso) diariamente por bandinhas de indie rock.

"She's Losing It" chega a ser ofensiva de tão inofensiva. Já "You're Just A Baby" é uma transposição temporal de um power pop sessentista.

Dentre os momentos mais inventivos do disco está "Electronic Renaissance", com sua introdução quase kraftwerkiana. É possível destacar também as contagiantes "I Could Be Dreaming" e "I Don't Love Anyone". A melodia e o arranjo da linda "Mary Jo" também não é de se ignorar.

"Tigermilk" é agradavelmente bobinho e singelo. Acompanha chá e biscoitinhos com a amada (o). Careta demais? Desculpe, nem só de Motörhead vive o homem. O disco gerou frutos ruins? Sim, mas colocar isso na conta deles é injusto. Não trate o Belle and Sebastian com ingratidão.

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