quinta-feira, 15 de março de 2018

TEM QUE OUVIR: Madvillain - Madvillainy (2004)

Em 2001, a pequena Stones Throw Records - "gravadora" de três funcionários, localizada num quartinho dos fundos -, reuniu dois talentosos rappers de perfil recluso: MF DOOM e Madlib. O orçamento: $1.500 nas mãos do DOOM, que bastou ouvir poucos beats do Madlib para aceitar a risível proposta. Nascia o Madvillain.


Abastecidos de maconha, cogumelos, papel, caneta e um arcaico SP-303 (nada de computador!), o duo começou a trabalhar no que viria a ser o disco. Todavia, durante uma viagem do Madlib ao Brasil, onde ele desbravou lojas de discos e juntou uma quantidade imensa de samples, as fitas contendo as músicas foram roubadas, consequentemente atrasando o projeto.

Após o furto, o duo demorou um ano para se debruçar novamente na produção. Neste meio tempo, começou a circular pela internet as faixas roubadas do que viria a ser o disco, criando assim a expectativa pelo trabalho final. Dois longos anos de gravação e eis que é lançado Madvillainy (2004).

Não se restringindo a estruturas óbvias de rap, o duo entrega faixas curtas, sem pensar em estrofes ou refrães. Mais parecem impulsos criativos desprendidos de fórmula e forma. Em grande parte as músicas são interligadas e não passam de 2 minutos.

Madlib é criativo, versátil, pulsante, corrosivo e abstrato em suas produções. Seus samples são difíceis de serem rastreados, tendo em vista que ele garimpa minuciosos trechos. Todavia, o importante é o resultado, sendo justamente aí que salta aos ouvidos a jazzistica (com direito a linha de baixo paranoica) "Meat Grinder", a desconcertantemente pop "Raid", a grooveada e surreal "America's Most Blunted", a cinematográfica "Rainbows", a insistência hipnótica de "Shadow Of Tomorrow", a bonita "Fancy Clown" e a inigualável "All Caps".

Vale ainda mencionar o sample de O Terço em "Supervillain Theme" e de Maria Bethânia em "Rhinestone Cowboy", dois dos poucos reconhecíveis e, provavelmente, frutos da viagem do Madlib ao Brasil.

O fator britânico do DOOM proporciona lirismo afiado e um dos flows mais singulares (e posteriormente influentes) do rap, visto seu fuzilamento em rimas, vocabulário extenso, fluência tranquila e approach rítmico impressionante. Até quando o cara canta sobre bafo (vide "Operation Lifesaver Aka Mint Test") ele soa imponente e inebriante. Outros destaques de seu talento são "Accordion", "Money Folder" (adoro esse beat!), "Strage Ways", "Figaro" e "Great Day".

Joey Bada$$, Tyler The Creator, Earl Sweatshirt, Danny Brown, Flying Lotus e Thom Yorke (pois é!) são alguns que citam a importância deste álbum. Até mesmo sua capa - diga-se de passagem, inspirada no primeiro disco da Madonna - já virou um clássico. Obra fundamental do hip hop alternativo.

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