segunda-feira, 20 de novembro de 2017

O racismo e o rock

Uma publicação no Facebook da RÁDIO KISS FM me chamou atenção. Em homenagem ao "dia da consciência negra", eles postaram: 

"Agradecemos a Chuck Berry, Jimi Hendrix, Fats Domino, Little Richard, Bo Diddley, Phil Lynott, entre tantos negros que contribuíram e ainda fazem a história do Rock!!!".

Entre os citado, apenas o Little Richard está vivo (com avançados 84 anos) e o último a despontar foi o Phil Lynott (na longínqua primeira metade da década de 1970).

Sendo o público do rock majoritariamente conservador - retratado em comentários do tipo "negro não deve ter orgulho de ser negro, somos todos iguais" e "enquanto existir datas para comemora orgulho gay e negro, as coisas não mudarão e até lá será tudo mimimi", presentes no mesmo post - e tendo o estilo seu auge artístico/comercial no passado, até entendo essa predileção pelo clássico. Acho até melhor do que trazer nomes como o do Lenny Kravitz apenas para cumprir uma cota temporal.

Todavia, proponho uma reflexão não baseada no post da RÁDIO KISS FM, mas sim no quão os negros são excluídos no rock, gênero que tem suas raízes justamente na cultura negra do blues e da música gospel.

Não faltam nomes para aparentar uma falsa normalidade racial no estilo: Chuck Berry, Ike Turner, Jimi Hendrix, Otis Redding (tá mais para o soul), Sly Stone (tá mais para o funk), B.B. King (tá mais para o blues), Prince (tá mais para o pop), Gary Clark Jr. e Brittany Howard (olha a nova geração aí), além dos membros do Bad Brains, Living Colour, dentre outros. Grandes artistas, mas quantitativamente muito inferior aos brancos.

Quer mais um exemplo desta disparidade? Basta usar como objeto de análise o rock nacional. Conseguem pensar em outros artistas negros que não sejam o Clemente (Inocentes), Negrete (Legião Urbana), Rodrigo Carneiro (Mickey Junkies), Gilmar Bolla 8 (Nação Zumbi), Cannibal (Devotos) ou Ynaiã (Macaco Bong / Boogarins)? Eu honestamente não. Curiosamente, a maior parte deles é alternativo à grande indústria.

E não se trata de dar preferência a determinada raça na hora de escolher uma banda/artista para ouvir, mas sim de entender que o racismo está presente no rock.

"Mas o racismo é assim mesmo, atinge todas as áreas, não seria diferente no rock", prevejo nos comentários. Mas então por que esse racismo não se deu no rap, estilo que tem a mesma raiz negra do rock?

Talvez seja só uma questão de tempo, o suficiente para seu público envelhecer e "encaretar" (entenda "esbranquiçar"). Uma possível consciência social dentro do estilo também não pode ser descartada. Mas aposto em mais um triunfo da indústria do entretenimento, que usou de uma falsa legitimidade racial para lucrar em cima da população negra.

Negro é mais pobre que branco - a disparidade econômica é inegável -, mas tem muito negro, logo, tem muito dinheiro em jogo. Fora os brancos que, seja pela excelência musical ou por um possível juízo de valor de igualdade que queiram transmitir, são cooptados para o rap (e logo, para a indústria).

Em meio a esse debate envolvendo a inclusão racial nas artes, mais uma vez o capitalismo aparenta ser o único vitorioso.

Bad Brains

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