quarta-feira, 8 de março de 2017

TEM QUE OUVIR: Aretha Franklin - I Never Loved A Man The Way I Love You (1967)

Em 1967, Aretha Franklin era uma experiente cantora de apenas 25 anos. Tinha exatos dez discos na bagagem lançados pela gravadora Columbia, todos recheados de orquestrações sublimes e jazzisticas. Mas no auge rock, ela clamava por maior crueza sonora. Foi conseguir isso justamente em sua nova gravadora, a Atlantic, pela qual lançou o clássico I Never Loved A Man The Way I Love You (1967).


A ideia inicial era que Aretha gravasse o disco no estúdio FAME em Muscle Shoals (Alabama) com a Swampers, banda de apoio gerenciada pelo produtor Rick Hall, que já havia trabalhado em gravações de Etta James e Wilson Pickett. Todavia, um desentendimento do produtor com o Ted White, marido explosivo de Aretha, fez com que apenas uma faixa fosse registrada lá, justamente a clássica "I Never Loved A Man (The Way I Love You)".

A briga não fez com que Aretha desistisse da sonoridade enorme/crua dos integrantes da Muscle Shoals Rhythm Section. Levou parte dos músicos para Nova York, vide o guitarrista Jimmy Johnson e o pianista Dewey "Spooner" Oldham. Para completar o time vieram King Curtis (saxofone), Cissy Houston (voz) e Tommy Cogbill (baixo).

Com essa nova formação, o canto potente de Aretha, auto acompanhado por seu piano, transitando pelo soul, gospel, blues e jazz, soou ainda mais impactante. Tudo isso envolto a um repertório irreparável, vide a exuberante "Drown In My Own Tears", a delicada "Soul Serenade", a quase bossa nova "Don't Let Me Loose This Dream", a sexualmente atrevida "Dr. Feelgood" e a rockeira "Save Me".

O disco tem até mesmo duas composições do Sam Cooke, a dançante "Good Times" e a linda/celestial "A Change Is Gonna Come", essa última um hino dos direitos civis.

Mas nada disso se compara ao alcance da faixa que abre o álbum. "Respect", canção de autoria do genial Otis Redding, fez ainda mais sentido quando cantada por Aretha. Ela invoca toda a força feminina e exige respeito, soletrando a palavra, cantando com convicção, guiada por um groove borbulhante e explosivo. Genial! Ao que consta, Otis teria dito em tom elogioso: "perdi minha música, aquela menina a tirou de mim".

Clássico não só do R&B, mas da música popular como um todo.

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