segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

GRAMMY: A PREMIAÇÃO QUE SERVE PRA NADA

Post dessa semana no Maria D'escrita

Primeiramente, uma coisa tem que ficar clara: o Grammy não é um prêmio artístico, mas da indústria musical. Nada ali é genuíno ou transgressor. Todavia, já que é a "premiação da música" mais comentada, não vou deixar de dar meus pitacos.

A constatação é que a ousadia e a rebeldia ficam cada vez mais distantes da música pop. Tudo soa raquítico. A começar pelas dezenas de cantores country de pastiche. Contra Little Big Town, eu fico com Maiara e Maraisa mesmo.

Adele, cantora tão talentosa, mas enfadonha, repetiu o feito de 2016 e desafinou na péssima "Hello". Já cantando em homenagem ao George Michael, não aguentou a própria semitonada, interrompeu e repetiu a performance, igualmente equivocada. Mas seu "bota essa porra pra funcionar" gerou engajamento no Twitter, então funcionou.

Até mesmo artistas legais se perdem num evento tão careta. O Daft Punk, que anos atrás botou todos para dançarem ao lado de caras como Stevie Wonder, Nile Rodgers, Pharrell, Omar Hakim e Nathan East, dessa vez apareceu com o fraquíssimo The Weeknd. Nem mesmo a boa dobradinha do influente grupo A Tribe Called Quest com o talentoso Anderson .Paak funcionou, mais parecendo um constrangedor espetáculo da Broadway.

Beyoncé - que é tratada como "diva" e "empoderada" seja cantando ou peidando - fez da sua "não-música" o perfeito cruzamento Enya com Rei Leão e Nossa Senhora Aparecida. Já a Katy Perry e sua dança do Morto Muito Louco não merece maior menção.


E o que dizer do Metallica com a Lady Gaga? Pose de malvados, todos de preto, fogo à la Cirque du Soleil e Gaga se arrastando pelo palco, como se estivesse na capa do disco Out Of The Cellar do Ratt. Nada mais caricato! James Hetfield podia ter aproveitado que seu microfone deu problema, ter copiado Adele e mandado parar, só que para não mais voltar.


Para não dizer que tudo foi uma porcaria, Chance The Rapper - que ganhou o prêmio de artista revelação e de melhor álbum de rap -, apresentou com convicção seu cruzamento de hip hop com gospel, evidenciando a força do cenário independente. Sturgill Simpson e a galera do Dap-Kings trouxe um pouco de dignidade para a música country. E o Gary Clark Jr. mostrou para o Keith Urban como se toca guitarra.

O insosso do John Legend mandou bem em "God Only Knows", muito graças a qualidade da composição, que ficaria linda até mesmo se fosse interpretada pela Joelma em dueto com o João Gordo.

No momento homenagens, The Time entregou muito groove e guitarras em nome do Prince, enquanto Bruno Mars forçou a barra, não fazendo feio, mas deixando claro que não é "o homem, a lenda" que João Marcello Bôscoli havia dito minutos antes. Pior foi a Demi Lovato que conseguiu arruinar as boas canções do Bee Gees.

No que diz respeito aos prêmios, David Bowie ganhou algumas categorias; Megadeth - agora com o brasileiro Kiko Loureiro - ficou com o troféu destinado ao metal; Caetano Veloso e Gilberto Gil não levaram o prêmio de world music e Adele fez a rapa nas categorias música e disco do ano. Nada que importe muito. Mas fiquei com uma dúvida: que raio é Urban Contemporary?


Foi isso, mais de 3 horas que pouco dizem. Nada ali mostra o que realmente admiro na música. Talvez o momento mais revelador tenha sido justamente o que mostra os artistas que morreram no último ano. Deprimente. 

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