segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

1997, O ANO DE CONSOLIDAÇÃO DA MÚSICA ELETRÔNICA

Post dessa semana no Maria D'escrita

Desde o começo do século XX, a música eletrônica é uma realidade. Compositores de vanguarda como Luigi Russolo, Pierre Schaeffer, Pierre Boulez, Stockhausen, dentre outros, já faziam experimentações usando diferentes estruturas, timbres e texturas sonoras.
Com o passar dos anos, surgiu o típico progressivo eletrônico experimental das bandas alemãs de krautrock (Kraftwerk, Tangerine Dream, Neu!), o synthpop dominou a década de 1980 (New Order, Pet Shop Boys, Human League) e a house music tornou-se a principal vertente sonora de uma geração (do Frankie Knuckles ao Joey Beltram).
Mas se teve um ano fundamental para a música eletrônica foi 1997. Talvez ao avistar um novo milênio, despertou em alguns artistas a necessidade por novas formas de música POP. Claro, nada foi de uma hora pra outra. As evoluções tecnológicas na forma de gravar e distribuir música contribuíram para isso.
Mas o que de tão espetacular foi feito em 1997? Respondo com três discos:
01: Daft Punk - Homework
Formado por Guy-Manuel de Homem-Christo - que raio de nome é esse? - e Thomas Bangalter, esse hoje consagrado duo francês, começava a despontar através de singles lançados pelo pequeno selo escocês Soma. Quando chegou ao mercado o álbum Homework, "Da Funk" e "Rollin' & Scratchin'" já eram hinos das raves. O disco ainda trazia o hit "Around The World", que ganhou o público na base da insistência melódica altamente repetitiva e, consequentemente, dançante. 2 milhões de cópias vendidas foi o resultado. Se apropriando da disco music setentista e do synthpop e hip hop oitentista, a house music nunca soou tão retro-futurista.
02: Chemical Brothers - Dig Your Own Hole 
Formado pelos produtores Ed e Tom, o Chemical Brothers foi fundamental pra eclosão do big beat, subgênero da música eletrônica que se caracteriza por timbres pesados, batidas aceleradas, riffs de guitarra e influência do hip hop. A abertura alucinante do disco com "Block Rockin' Beats" evidencia toda essa energia. Mas o álbum ainda reserva elementos do funk/disco ("Lost In The K-Hole"), pop melodioso ("Where Do I Begin?") e a típica acid house ("It Doesn't Matter"). Sobra espaço até pra um clássico: "Elektrobank" - como esquecer do clipe dirigido pelo Spike Jonze com atuação da Sofia Coppola? -, que traz o clima de uma fuga cinematográfica, com direito a sintetizadores esquizofrenicamente encorpados. O que antes se resumia a festas esfumaçadas e transpirantes nos porões londrinos, a partir daqui tomava de assalto os grandes festivais.
03: The Prodigy - The Fat Of The Land
Mais um clássico do big beat, que eleva em peso e urgência a agressividade do estilo. A clássica "Breathe" é um verdadeiro hino eletrônico de atitude punk. O peso absurdo da produção e o vocal visceral do Keith Flint só ajudaram a deixar a obra ainda mais doentia. A espetacular "Smack My Bitch Up" - com direito a sample de Kool And The Gang e melodia vocal com características da música indiana - ganhou um clipe paranoico, repleto de drogas e sexo. A proibição do vídeo só contribuiu para o sucesso da faixa e para que o disco chegasse ao primeiro lugar em 22 países. Mérito também do produtor Liam Howlett, que ao encaixar perfeitamente ritmos frenéticos, melodias marcantes, guitarras encorpadas e samples escolhidos a dedo, tornou-se um dos grandes nomes da música eletrônica.
Paralelo aos grupos genuinamente eletrônicos, bandas de rock como Radiohead, U2, Spiritualized, Cornershop e, até mesmo, artistas POP como a Madonna também flertavam com sonoridades do novo milênio. Por essas e outras, 1997 foi o ano definitivo do estilo.

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