sábado, 5 de novembro de 2016

TEM QUE OUVIR: Sepultura - Roots (1996)

Em 1996 o Sepultura já era uma realidade dentro do heavy metal. Ao lado do Pantera, era uma das maiores banda do estilo no mundo. Um pouco disso culpa dos medalhões de thrash metal que, ou pareciam não ter mais nada a oferecer, ou tinham se rebaixado artisticamente para chegar ao mainstream (não é mesmo, Metallica?).


Foi nesse contexto que o grupo brasileiro lançou Roots, obra que transcendeu o metal, sendo elogiada pela Björk, Dave Grohl, Ozzy Osbourne, Caetano Veloso, Jello Biafra e quem mais ouviu. É verdade que um grupinho de metaleiros conservadores desaprovou, mas o Sepultura agora era alternativo, era relevante, era internacional e tinha muito mais com o que se preocupar.

Produzido por Ross Robinson, a banda soou mais brutal do que nunca. Nem tão veloz, mas assombrosamente perturbadora. A clássica "Roots Blood Roots" logo de cara já entrega tudo isso. Quando Max Cavalera berra pela primeira vez a coisa desanda para um nível assustador.

O berimbau e o ritmo tribal na introdução de "Attitude" deixa claro que esse não é um disco de metal comum. Já a afinação grave das guitarras e as dissonâncias tão características do Andreas Kisser em "Cut-Throat" aponta para o que seria feito tempo depois no new metal.

Tudo ótimo até aqui, quando não mais que de repente, eis que surge "Ratamahatta", com sons indígenas, cacofonias, percussão do Carlinhos Brown e letra em português invocando Zé do Caixão, Zumbi e Lampião. Tenho certeza muita gente não entendeu porra nenhuma. Daí para entrar uma bateria de escola de samba em "Breed Apart" foi dois pulos. Claro que tudo legitimado pela pegada assustadora do Iggor Cavalera. Ouvindo tais faixas é impossível sentir qualquer estereótipo do metal. O Sepultura estava na vanguarda.

Para estruturar o conceito abrasileirado do álbum, o grupo foi até uma região afastada do Mato Grosso de encontro a uma tribo xavante. As influências mais evidentes dessa viagem estão em "Jasco" e "Itsári", sendo essa última gravada às margens do Rio da Morte.

Mas nada de caricatura ufanista. O disco traz também Mike Patton (Faith No More), Jonathan Davis (Korn) e Dj Lethal na esquisita "Lookaway". Não dá para deixar também de destacar o instrumental esquizofrênico de "Dusted", a agressiva "Endangered Species" e a paulada hardcore "Dictatorshit".

Roots foi lançado e o prestigio alcançado. Nada parecia atrapalhar a banda. Mas um conflito familiar/empresarial resultou na saída do Max Cavalera. Uma ruptura drástica que ainda hoje ecoa. Max foi para um lado e os três remanescentes bem que tentaram, mas perderam parte da relevância comercial. Passado o auge do Sepultura só fica um certeza: em nenhum outro momento um grupo brasileiro foi tão relevante e prestigiado fora do país.

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