segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Grandes músicos e suas deficiências físicas

Post dessa semana no Maria D'escrita

Com o fim das Paralimpíadas, me recorreu elaborar um post sobre alguns artistas que, mesmo com alguma limitação física, não tiveram o talento calado.

Selecionei os nomes sem pensar muito. Coloquei os primeiros que vieram em mente. Caso lembrem de mais alguns, citem nos comentários.

Ludwig van Beethoven
Uma das grandes lendas da história da música envolve a surdez daquele que foi um dos maiores compositores de todos os tempos: Ludwig van Beethoven. Embora envolto de mistérios, fato é que sua surdez já foi comprovada. O mais incrível é pensar que uma de suas obras mais famosa, a 9ª Sinfonia, foi composta já no final de sua carreira, quando a limitação auditiva já se encontrava em estágio avançado.

Michel Petrucciani
Pianista virtuoso, Petrucciani tinha a conhecida "doença dos ossos de vidro", que não somente prejudicou seu crescimento, mas também tornou seu corpo sujeito a fraturas constantes. Devido sua baixa estatura, o músico tinha que fazer verdadeiro malabarismo para cobrir toda a extensão do piano. Existem relatos que ele chegou a quebrar os ossos da bacia em uma apresentação, mas ainda assim permaneceu tocando. Nada disso impediu ele de ser um dos maiores instrumentistas do jazz, para não dizer do século XX.

Ray Charles
Ok, o que não falta são artistas cegos - do Andrea Bocelli, passando por inúmeros percursores do blues que levaram "Blind" em seus nomes, Jeff Healey e até mesmo integrantes da Tribo de Jah -, mas Ray foi tão grande que sua deficiência passa completamente batida diante de sua esplendida obra. Eis um compositor, pianista e cantor genial.

Stevie Wonder
Tudo que escrevi sobre Ray vale também para Stevie Wonder, mas com um adendo: além de tudo ele é multi-instrumentista. Gênio absoluto.

Robert Wyatt
Membro da tão sofisticada cena de Canterbury, Robert Wyatt chamou atenção inicialmente como baterista do Soft Machine. Todavia, após um estúpido acidente, o músico tornou-se paraplégico. Mas nada o impediu de continuar criando, sendo o estupendo álbum Rock Bottom de sofisticação instrumental e poética poucas vezes alcançada.

Django Reinhardt
Uma das maiores lendas da guitarra jazz é o brilhante Django Reinhardt. Quem ouve suas gravações mal pode imaginar que o músico debulha seu violão com apenas dois dedos. Ao que parece, o problema é fruto de um acidente durante um incêndio. Nada que tenha sido capaz de tirar o encanto de seu jazz cigano.

Tony Iommi
Muito da peculiaridade sonora do Black Sabbath se deve ao guitarrista Tony Iommi, que ao ter seus dedos parcialmente amputados num acidente, teve que reaprender a tocar seu instrumento abusando de acordes enxutos e afinações graves que minimizava a tensão das cordas. Eis a criação do heavy metal.
Obs: após o seu acidente, ele pensou em abandonar o instrumento, mas foi em frente após o ouvir o já citado Django Reinhardt.

Rick Allen
Pense num jovem baterista rockstar no auge da popularidade. Agora imagine ele sofrendo um terrível acidente de carro, tendo como consequência um dos braços amputado. Embora inegavelmente abalado, Rick Allen do Def Leppard seguiu em frente e criou uma nova forma de tocar seu instrumento, abusando de recursos eletrônicos que moldaram a sonoridade da banda dali em diante.

Jason Becker
O virtuoso guitarrista Jason Becker tinha tudo pra ser um rockstar. Estava ocupando o cargo que outrora foi de Eddie Van Halen e Steve Vai quando descobriu ser portador de uma grave doença degenerativa conhecida como ELA. Com isso, teve seus movimentos completamente limitados, embora com atividade mental perfeita, restando se comunicar via o movimento do globo ocular. Embora com tantas dificuldades, desenvolveu um método que possibilitou compor apenas com o piscar dos olhos. Um exemplo de força, perseverança e amor a música.

João Carlos Martins
Durante alguns anos o pianista brasileiro João Carlos Martins foi um dos maiores intérpretes de Bach, tendo se apresentado mundo afora. Todavia, a história músico é repleta de adversidades que causaram problemas em ambas as suas mãos. Nem por isso ele parou de tocar, se adequando aos seus limites físicos. Além disso, ele desenvolveu importantes projetos enquanto maestro, inclusive em comunidades carentes.

Acho válido deixar aqui também uma homenagem aos inúmeros músicos que não conseguiram nenhum grande holofote, mas que continuam criando e lutando por um espaço, ainda que com inúmeras dificuldades físicas. Se sobreviver como artista no Brasil já é difícil, imagine para caras como Jonathan Bastos. Um exemplo de talento e perseverança.

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