segunda-feira, 13 de julho de 2015

TEM QUE OUVIR: Traffic - Mr. Fantasy (1967)

Todos estão carecas de saber a revolução musical/comportamental que o rock inglês provocou nos EUA na década de 1960, curiosamente usando como matéria prima o próprio rock americano. Mas com o Traffic foi diferente. A identidade melódica e conceitual da banda é definitivamente inglesa, agregando ao rock uma sofisticação exuberante com muito do clima pastoral britânico.


Formado por quatro músicos espetaculares - Jim Capaldi (bateria e voz) e os multi-instrumentistas Dave Mason, Chris Wood e Steve Winwood (este último, uma estrela que já brilhava desde os tempos de The Spencer Davis Group) -, e produzidos pelo Jimmy Miller, o grupo não conseguiu grande destaque comercial, mas proporcionou com seu trabalho de estreia o primeiro sinal daquilo que veio a ser chamado de art rock, uma subjetiva vertente onde o único compromisso é com a criatividade. Desta forma brotam as mais variadas influências, arranjos sofisticados e instrumentação riquíssima. Tudo isso sem soar presunçoso.

Logo em "Heaven Is Your Mind", temos um arranjo vocal primoroso e melodias psicodélicas brilhantes. Ingleses que são, a capacidade melódica beira ao surreal na linda (e progressiva) "No Face, No Name, No Number".

Tambura, sitar e tabla compõem a instrumentação da delirante "Utterly Simple". Os integrantes do Small Faces estão presentes na circense/divertida "Berkshire Poppies", com direito arranjo de metais no maior estilo big band.

A pluralidade sonora de "House For Everyone" e "Hope I Never Find Me There", ambas donas de estruturas complexas, são a mais pura definição do art rock. Já "Dealer" é um animado mantra folk.

A voz com vestígios de soul music de Steve Winwood e seu subestimado talento enquanto guitarrista se sobressaem na espetacular "Dear Mr. Fantasy" (regravada por Grateful Dead, Jimi Hendrix e Crosby, Stills, Nash and Young). Ele também detona no mellotron em "Coloured Rain".

O Traffic percorreu por diferentes e bem sucedidos caminhos no decorrer da carreira, mas esse emblemático álbum continua sendo um dos pontos altos não só da banda, mas de toda a década de 1960.

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