terça-feira, 16 de junho de 2015

TEM QUE OUVIR: Can - Tago Mago (1971)

Lançado em 1971, Tago Mago, a obra-prima do Can, é uma ótima porta de entrada para um estilo muito falado, embora pouco escutado: o krautrock, vertente experimental da música alemã que funde o rock progressivo com elementos de vanguarda.


Nem tão eletrônico quanto seus companheiros de cena - Kraftwerk, Faust, Neu!, Tangerine Dream, dentre outros -, o Can investe numa sonoridade mais rockeira, com vestígios psicodélicos, jazzisticos, tribais e experimentais, além de lampejos conceituais de Velvet Underground. Tudo isso faz da banda uma das prediletas entre os apaixonados pelo rock setentista, sendo citada como referência para grupos como PIL, Primal Scream, Radiohead, Flaming Lips, Jesus And Mary Chains, The Fall, Portishead, LCD Soundsystem e Spoon.

Embora o grupo tenha origem e razão típica da juventude alemã da época - que procurara romper com muitas das raízes culturais do passado -, quem ficava em primeiro plano era vocalista japonês Damo Suzuki, um líder performático - até então artista de rua -, dono de uma timbre bizarramente versátil. Sua voz se completa magistralmente as produções ousadas do baixista Holger Czukay, ao estilo hendrixiano do guitarrista Michael Karoli e ao ritmo hipnótico/influente - o tal "motorik" - do baterista Jaki Liebezeit.

O nome do disco remete ao mago ocultista Aleister Crowley e seus atos misteriosos na Ilha de Tagomago. Não por acaso o trabalho tem um clima sombrio.

O minimalismo transcendental de faixas épicas como "Paperhouse" (altamente lisérgica), "Mushroom" (adoro a profundidade dessa captação), "Halleluhwah" (um trance com direito a tape loops), "Aumgn" (uma sinfonia fantasmagórica preenchida por ruídos e dalays) e "Peking O" (de sonoridade não menos que surreal), priorizam texturas timbristicas, intercaladas por grooves estranhamente consistentes e repetitivos, capazes de causar epifania.

Ousado e influente, Tago Mago é uma viagem musical difícil de embarcar, embora de grande recompensa artística. 

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