quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

TEM QUE OUVIR: The Fall - Live At The Witch Trials (1979)

É admirável quando artistas conseguem projeção sem fazer qualquer tipo de concessão. Liderado pelo enigmático cantor/compositor/porra-louca Mark E. Smith, o The Fall sobreviveu a várias encarnações com seu som singular, que caminha entre o pós-punk, krautrock e a no wave. Embora o Live At The Witch Trials (1979) seja apenas o disco de estreia de uma carreira longínqua, o álbum exemplifica muito bem as inventividades do grupo.


O disco é um caos de discrepância estética, circulando por tendências, mas de resultado vanguardista. Exemplo: se a voz de Mark em "Frightened" lembra a do John Lydon, o teclado minimalista de Yvonne Pawlett em "Mother - Sister!" aponta para caminhos experimentais. Pensando nisso, é até possível entender o The Fall como um cruzamento da visceralidade dos Sex Pistols (vide "Industrial Estate" e "Future And Pasts") com as melodias sintetizadas herdadas do Kraftwerk (vide "Two Steps Back").

Embora abordado de maneira bastante particular pela banda, é inegável que faixas como "Crap Rape 2/Like To Blow" e, principalmente, "No Xmas For John Quays", tenham os dois pés fincado no punk rock britânico da época.

A cozinha consistente formada por Marc Riley (baixo) e Karl Burns (bateria) é abrasiva, esquisitamente dançante e insistente no arranjo de "Rebelious Juke Box". Já a guitarra cacofônica/atonal/áspera/doentia de Martin Brahma é inventiva em "Underground Medicine". Músicos talentosos, mas dispensáveis nas mãos de seu líder.

Mesmo com tantas boas faixas, é "Music Scene" a faixa que melhor representa a banda. Um épico de oito minutos, que se prolongaria não fosse o final forçado pelo técnico de som. Enquanto dura, passagens humoradas e críticas a indústria da música são enfileiradas acidamente. Alias, poucos escrevem tão bem quanto Mark E. Smith, um perfeito cronista do submundo da Inglaterra.

Embora no Brasil o The Fall não tenha conquistado popularidade, sua influência ao redor do mundo alcançou nomes como Sonic Youth, Happy Mondays, Pavement, Franz Ferdinand, LCD Soundsystem, dentre outros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário