TEM QUE OUVIR: Dead Kennedys - Fresh Fruit For Rotting Vegetables (1980)

Os EUA entraram na década de 1980 rumo a caretice violenta de Ronald Reagan. Todavia, muitos artistas não pareciam se incomodar com a ascensão do conservadorismo. Até mesmo o punk rock, que na Inglaterra se mostrava tão contestador, na América continuava a apostar nas loucuras junkies e, quando tomava posição, era em defesa de Reagan, vide respectivamente a postura do Dee Dee e Johnny Ramone. Liderado por Jello Biafra, o Dead Kennedys surgiu para trazer rebeldia politica ao punk rock norte-americano, a começar pelo impactante nome da banda.

Lançado pela Alternative Tentacles, lendária gravadora de seu líder/vocalista, Fresh Fruit For Rotting Vegetables (1980) é não somente o disco de estreia da banda, mas também o alicerce do hardcore. Vale dizer que, aqui no Brasil, ele saiu num lindíssimo vinil branco.

Embora fosse explicitamente uma banda punk, instrumentalmente eles não se limitam aos básicos três acordes. Com humor ácido e velocidade/pegada descomunal, o grupo flerta com o garage rock e a surf music, o que é natural para uma banda oriunda da Califórnia. Essa abordagem fica evidente nas divertidas "Let's Lynch The Land Lord", "Chemical Warfare" e na icônica "Holiday In Cambodia", canção misteriosa, intoxicante e memorável.

O discurso selvagem, sagaz e cômico de "Kill The Poor" (com seu início em “tom” de hino) e "I Kill Children" caiu feito uma luva para o momento político da época. Nem mesmo o governador democrata Jerry Brown ficou impune diante da voz aguda, nasalada e vibrato bizarra do Biafra, vide o que acontece na clássica "California Über Alles", dona de introdução e refrão poderosos. Alias, sua interpretação eufórica beira o absurdo em "Stealing Peoples' Mail". Já em "Viva Las Vegas" ele aposta no seu conhecido humor canastrão (no melhor sentido).

A intensidade das aceleradas "Forward To Death", "When Ya Get Drafted" e "Your Emotions" não deixa pedra sob pedra. Os riffs estranhíssimos de East Bay Ray (guitarra) e Klaus Fouride (baixo) em "Ill In The Head" e a bateria animalesca do Ted em faixas como "Drug Me" evidenciam a criatividade instrumental do grupo. É um petardo atrás do outro, soando abrasivo mesmo décadas após o lançamento.