sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

TEM QUE OUVIR: Tangerine Dream - Phaedra (1974)

Hoje é comum ao ligarmos o rádio/TV nos depararmos com músicas enquanto pano de fundo, servindo de cenário narrativo para programas jornalísticos, esportivos ou de entretenimento. Para isso, o desenvolvimento dos sintetizadores como expressão de sentimento foi fundamental para otimizar o custo das grandes orquestras. Tal evolução tem esse disco como aliado.


É claro que o cinema sempre utilizou a música instrumental como parte narrativa - e isso vem desde o cinema mudo -. O mesmo vale para a música erudita e o jazz. Todavia, a música eletrônica, enquanto exploração timbristica e semiótica, tardou a lapidar sua linguagem dentro de um contexto "pop".

Edgar Froese, líder do Tangerine Dream, foi um desbravador. Seu trabalho hoje pode parecer surrealista/psicodélico/viajandão demais, mas é a base para muito das evoluções sonoras e narrativas contemporâneas, seja na música de vanguarda, eletrônica, pop ou em trilhas sonoras de jogos/filmes. Tanto era a persuasão comunicativa do artista que sua música, por mais experimental que fosse, chegou a fazer sucesso comercial na Inglaterra.

A maioria já sabe a revolução sonora proposta pelo krautrock - vertente da música alemã de vanguarda, que fundia rock com elementos eletrônicos, feita pelos filhos da pós-guerra -, sendo desnecessária qualquer outra explicação. O interessante aqui é perceber que o Tangerine Dream fez isso de forma menos rítmica que seus contemporâneos. Suas músicas são sinfonias eletrônicas espaciais e futurísticas, recheadas de arpejos exuberantes, osciladores, delays e revebs. 

Nem seria o caso de descrever faixa a faixa este disco, visto que é fundamental ouvi-lo na íntegra e buscar a própria percepção. Todavia, me encanta a construção do trabalho, sendo o Lado A formado na integra pela homônima "Phaedra", um perfeito trance psicodélico (proto-psytrance) de ritmo e desenvolvimento avassalador. Do outro lado do vinil temos uma dobradinha inicial que remete ao que o Brian Eno faria se assinasse a trilha de Twin Peaks; além de uma derradeira faixa "new age atmosférica". Tudo brilhantemente pensando e impecavelmente produzido, chegando a resultado emotivo.

As texturas aqui alcançadas são frutos de diferente sintetizadores, vide moogs, mellotron e EMS VCS 3. Evidente que a pulsação está lá, mas é tudo tão alucinante que é mais fácil aproximar o grupo do som hipnótico Pink Floyd que da música dançante do Deadmau5. Todavia, fato é que as quatro suítes aqui encontradas foram tão importantes para o desenvolvimento da música eletrônica quanto a obra do Kraftwerk.

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