Wyatt, antes baterista, se viu diante de limitações oriundas de uma tragédia. Enquanto viajava com sua esposa, a atriz Alfreda Benge, sofreu um acidente que o tornou paraplégico. Foi na cadeira de rodas e após longo período de recuperação que ele compôs e gravou a obra.
Do clima frio, passando por texturas sensíveis e instrumentação refinada (com direito a clarinete, viola, sax e trompetes), o álbum é carregado por uma energia conturbada, mas que devido a qualidade de todos envolvidos, é exuberante em seu equilíbrio. Muito disso veio graças a produção do subestimado Nick Mason, baterista do Pink Floyd e amigo pessoal de Wyatt. A faixa "A Last Straw" chega até mesmo a remeter melodicamente a banda do produtor.
A percussão minimalista, que recorre ao uso de loops/programação (até então recurso incomum), é sonoramente precisa, além de ter sido uma solução inteligente para que Robert Wyatt, em meio as suas limitações, continuasse a implantar seu rico vocabulário rítmico em suas composições. Sua voz frágil e teclados jazzísticos também agregam valor a obra.
Se com o passar dos anos o engajamento político comunista do artista causou opiniões contrárias, aqui a abordagem poética e sentimental das letras sensibiliza a todos que dão a devida atenção. Da linda "Sea Song", passando pela quase world music "Little Red Riding Hood Hit The Road", o clima sombrio/estranho da dobradinha "Alifib" e "Alife", além das guitarras frippianas do Mike Oldfield em "Little Red Robin Rood Hood Hit The Road, o disco atinge a perfeição melódica, conquistada por um artista audacioso.
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