segunda-feira, 4 de agosto de 2014

TEM QUE OUVIR: Miles Davis - Bitches Brew (1970)

O jazz entrou na década de 1970 sem a mesma popularidade de tempos atrás. Era o rock que fazia a cabeça da juventude e explorava territórios dos mais variados, passando longe da mediocridade que se imagina da música com apelo popular. Miles Davis, músico já consagrado no jazz, percebeu isso e buscou referências em outros estilos, inaugurando o fusion (ou jazz-rock) no clássico Bitches Brew.


Foram principalmente Jimi Hendrix, Grateful Dead, Carlos Santana e Sly & The Family Stone - todos presentes em Woodstock - que fizeram o Miles se jogar nos sons distorcidos, grooves alucinantes, efeitos de wah-wah e delays em seu trompete, solos intermináveis e a convocar um time ilustre de jovens músicos para acompanha-lo. Dai vieram Wayne Shorter (sax, presente desde o segundo quinteto clássico do Miles), Bennie Maupin (clarinete), Joe Zawinul (teclados), Chick Corea (teclados), John McLaughlin (guitarra), Dave Holland (baixo), Jack DeJohnette (bateria), Lenny White (bateria), Billy Cobham (bateria), Airto Moreira (percussão), dentre outros. Todos com carreiras destacáveis anos depois. Todos principalmente no território fusion.

Se a capa já tem traços de psicodelia, musicalmente o disco percorre por territórios ainda mais ousados. O clima de free jam - preenchido por ritmos latinos, melodias herdadas da música indiana, performance transcendental dos músicos e colagens sonoras (e aqui entra o produtor Teo Macero) -, surge principalmente nas longas " Paraoh's Dance" e na faixa "Bitches Brew", transparecendo qualidades técnicas e sofisticação harmônica.

Se em alguns momentos os solos trazem o peso do rock e uma certa barulheira cacofônica abstrata, por trás de tudo isso, mantém-se uma sólida base estrutural para as composições. "Spanish Key" talvez seja o maior destaque neste sentido.

Sendo um símbolo da vanguarda na música, Miles quebrou barreiras e propôs novos parâmetros sonoros, sendo Bitches Brew peça fundamental neste caminhada. Audição difícil, mas recompensadora. Não por acaso ele é sempre lembrado como um dos grandes nomes das artes do século XX. 

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