quarta-feira, 6 de agosto de 2014

TEM QUE OUVIR: Melvins - Houdini (1993)

Quando alguém lhe disser que o Nirvana mudou a indústria da música, acredite. Quer um exemplo? Em que outro momento a gravadora Atlantic, da multimilionária Warner, investiria dinheiro em um grupo tão imundo quanto o Melvins? O mais legal é que a banda não deixou barato. Escute o esporrento Houdini (1993) e comprove.


A partir do momento em que o grunge virou tendência, abriu-se portas para grupos alternativos mostrarem seus trabalhos ao grande público. A maioria fracassou comercialmente - óbvio! -, mas não no êxito artístico. No caso do Melvins, que já vinha numa sequência espetacular de álbuns, o contrato com uma grande gravadora só ajudou a financiar o caos. A co-produção do Kurt Cobain deu ainda mais moral.

O guitarrista, vocalista e compositor Buzz Osborne é quem lidera o combo, trazendo ao disco uma mistura doentia de Black Sabbath com Black Flag.

É espetacular como a produção soa densa e enorme. O som da banda parece reverberar no ambiente. Isso fica nítido logo na abertura com "Hooch" e "Night Goat". Avassalador.

Poucas faixas são tão absurdamente intensas quanto "Honey Bucket". Seu riffs é saturadíssimo, pesado, viscoso e absurdamente grave. Somando isso a uma voz cavernosa, baixo corrosivo e a bateria troglodita do Dale Crover, temos um dos pilares do stoner rock e sludge metal, ainda que a grande mídia os jogasse no saco do grunge, o que não é completo absurdo, vide a melancolia, dinâmica e peso de “Lizzy”.

Adoro esse clima de tensão construído através do groove espaçado e acordes monolíticos/distorcidos intermináveis de "Hag Me".

Na onda do Nirvana, "Set Me Straight" não faz feio, sendo seu lado "pop"/melódico um tanto quanto "marofado". Entretanto, é na esquisita "Sky Pup" que o Kurt Cobain dá as caras.

O timbre de guitarra em "Joan Of Arc" é uma massaroca impressionante que ainda hoje muita banda tente imitar.

"Teet" é daquelas faixas acachapantes para ouvir esmurrando a parede e deixando se levar pelos instintos mais primitivos de sua persona.

A barulheira tipica do grupo é embalada por uma execução entusiasmante na carismática "Copache".

Finalizando, "Spread Eagle Beagle" mais parece um experimento que fica entre o industrial, noise e field recordings. Os ritmos tribais, provavelmente improvisados, são captados majestosamente, trazendo o ouvinte para dentro do ambiente. Beira o assustador.

O Melvins tornou-se um dos grandes nomes do metal alternativo, sendo que o Houdini representa uma época comercialmente tão maravilhosa para o rock que nem parece que existiu.

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