sábado, 12 de julho de 2014

TEM QUE OUVIR: Raimundos - Raimundos (1994)

O rock brasileiro viveu seu auge comercial na década de 1980. Bandas como Titãs, Paralamas e Barão Vermelho estavam presentes na TV e rádio. Todavia, a década de 1990 começou mal para o rock nacional. Raul Seixas e Cazuza morreram e tudo que sobrou envelheceu rápido demais.

Com o surgimento da MTV Brasil, a efervescência da cena alternativa - representada através de festivais como o Junta Tribo - e a revista BIZZ buscando o equivalente ao que o Nirvana começara a fazer pelo mundo, restou a quatro moleques de Brasília - com sangue nordestino - o posto de principal banda da renovação rockeira em solo tupiniquim. Surgia assim os Raimundos.


Influenciados tanto por Ramones quanto pelo desbocado Zenilton - cantor/compositor/sanfoneiro pernambucano -, os Raimundos fizeram a união perfeita de punk rock com o forró, algo que mais tarde ficou conhecido como forró-core. Essa mistura bombástica chamou atenção do produtor Miranda, que levou a demo do grupo até as mãos dos Titãs, que por sua vez lançaram o debut dos Raimundos pelo selo Banguela, com produção simples/eficaz/violenta e capa positivamente tosca.

Mas não foi só o Miranda e os Titãs que ficaram embasbacados com o som do quarteto. O público jovem adorou a banda. Todos se identificaram com aquele som pesado e sacana. As letras cheias de gírias cantadas na velocidade da luz pelo Rodolfo, traziam temas corriqueiros para a molecada, vide a putaria explicita nas clássicas "Puteiro Em João Pessoa" (muito bem escrita) e "Selim" (bobinha, mas divertida).

Sexo e palavrões são explorados naturalmente, vide o estrago presente em "MM's", "Minha Cunhada", "Carro Forte" e "Cintura Fina". Já as drogas aparecem nas espetaculares "Rapante" e "Nega Jurema". Se moralmente é possível tecer criticas sobre o conteúdo das canções, por outro é difícil negar a espontaneidade.

Instrumentalmente, é incrível a quantidade de bons riffs despejados pelo Digão, além do baixo ultra encorpado do Canisso e a pegada avassaladora do baterista Fred. Nestes quesitos, é fácil destacar a "brega" "Palhas do Coqueiro" e a paulada "Bê a Bá". 

O forró e a malícia de Zenilton surgem em "Deixe de Fumar/Cana Caiana" e "Cajueiro/Rio das Pedras", duas dobradinhas absurdamente inventivas, carismáticas e acachapantes. Escolha Genival Lacerda de composição. Já "Marujo" chega até a incluir sanfona e triângulo no arranjo.

Grande parte do rock nacional posterior a esse disco foi de alguma forma influenciado pelos Raimundos, embora poucas bandas demonstrem tanta atitude, carisma e inventividade quanto estes quatro lazarentos. Sendo assim, o disco de estreia do grupo continua relevante e, até mesmo, revigorante frente a um cenário pasteurizado.

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