quarta-feira, 18 de junho de 2014

TEM QUE OUVIR: Eminem - The Slim Shady LP (1999)

Antes da virada do século, foram tantos os excelentes discos de hip hop lançados que não era mais possível ignorar o gênero. Embora com resistência de diversos lados, o estilo não pertencia mais aos negros. Sequer habitava somente o gueto. Foi nessa onda que surgiu um branquelo de olhos claros fazendo rap com apelo popular. The Slim Shady LP revelou o Eminem ao grande público e catapultou de vez o hip hop para o mainstream mundial.


É claro que os Beastie Boys já faziam barulho desde a década de 1980 e até mesmo o Elvis Presley já havia provocado a discussão "o que é música de branco e o que é música de negro?", mas nem por isso o Eminem causou menos burburinho. O lance não era somente sua cor, mas sua postura. Ele era capaz de ser violento e hilariante numa mesma canção. Isso graças aos anos ralando em batalhas de hip hop, onde seus versos improvisados e flow matador foi apurado.

Marshall Mathers encarna um sujeito provocativo, furioso, homofóbico, machista, psicótico e ameaçador. Nenhuma mãe gostaria de ver seu filho ouvindo tantos absurdos, entretanto, foi justamente isso que atraiu os jovens. Os skits cômicos também contribuíam para cativar novos ouvintes, fato que incomodou os fãs mais tradicionais de rap.

É interessante ver um jovem artista lutando para conseguir respeito num circuito fechado como o do hip hop e estourando com a cômica "My Name Is". Ao menos a produção estranha/inteligente do Dr. Dre deu prestígio a faixa. Vale lembrar que o disco foi o primeiro sucesso do nova gravadora do Dre, a Aftermath.

O que também ajuda a explicar o grande alcance do Eminem é a aproximação do new metal com o rap. Era muito fácil encontrar um público descompromissado querendo se divertir tanto ao som de Limp Bizkit quanto do Eminem.

Entre as canções que merecem destaque está a batalha com Dr. Dre em "Guilty Conscience", a explicitamente perturbadora "97' Bonnie & Clyde" - ótimo flow! - e a storytelling divertida de "My Fault". Todas de enredo tão perversos quanto cativantes.

As vozes caricatas (no bom sentido) e a narrativa sagaz de The Slim Shady LP é de grande valor estético. É compreensível não gostar do Eminem, mas lá no intimo é difícil ignorar a construção veloz deste disco.

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