quinta-feira, 26 de junho de 2014

TEM QUE OUVIR: Caetano Veloso - Caetano Veloso (1969)

1969 não foi um ano fácil para o Caetano Veloso. Se por um lado o exílio movido pela Ditadura Militar batia a sua porta, liquidando o movimento tropicalista, por outro, ele deixara como registro uma de suas principais obras. Devido sua capa minimalista contendo apenas a assinatura do artista, Caetano Veloso ficou conhecido como o Álbum Branco, assim como o disco de vocês sabem quem (Beatles, para os mais desatentos).


Após dois meses na prisão, Caetano voltou para Bahia, onde compôs e gravou ao violão todas as faixas aqui presentes, deixando o maestro Rogério Duprat encarregado de arranja-las para o formato banda. Sendo assim, o álbum mantém a linguagem psicodélica tropicalista. 

A orquestração discreta e o começo falso na pop "Irene" - única composição feita por Caetano na prisão e um dos primeiros hits via novela, no caso Véu de Noiva (1969) - revela a ousadia do disco logo na primeira faixa. 

Já a linda "The Empty Boat" - com direito a delirante guitarra de Lanny Gordin - e a swingada "Lost In The Paradise" elevam tudo ao extremo da sofisticação, sendo que ambas ajudam a explicar o alcance internacional do Caetano Veloso. 

A ótima versão pra "Cambalache", do argentino Enrique Santos Discépolos, abriu portas na América Latina. Tremendo arranjo e interpretação.

Chico Buarque e Gilberto Gil colaboram com composições, vide respectivamente a linda "Carolina" e a maluca "Alfaomega"

O flerte com o passado, tão presente na obra do artista, é representado pelo bolero/samba-canção "Chuvas de Verão" e pela tipicamente baiana "Marinheiro Só", estruturada num formato lisérgico. O mesmo acontece na carnavalesca "Atrás do Trio Elétrico".

Vale destacar também o fado "Os Argonautas", que contém citação de Fernando Pessoa no refrão ("navegar é preciso, viver não é preciso"). Um dos grandes momentos do Caetano enquanto cantor.

Mesmo com tantas faixas importantes, é a maravilhosa "Não Identificado" - num clima meio Jovem Guarda, mas com guitarra pontual de Lanny num arranjo crescente - e a experimental - tanto poeticamente quanto em sua arranjo - "Acrilírico" os grandes exemplos da inquieta carreira que o Caetano Veloso trilhou. Discoteca básica da música brasileira.

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