sexta-feira, 16 de maio de 2014

TEM QUE OUVIR: Fugazi - Repeater (1989)

Encabeçado por Ian McKaye - figura atuante na cena hardcore no início da década de 1980, antigo vocalista do cultuado Minor Threat, ótimo letrista e fundador do selo Dischord - o Fugazi nasceu para panfletar de forma madura as ideologias de seu líder. Repeater (1989) foi o primeiro fruto desta colheita. 


Completava a escalação do grupo o guitarrista Guy Picciotto (ex-membro do influente Rites Of Spring, banda precursora do que ficou conhecido como como emocore) e a consistente cozinha formada por Brendan Canty (bateria) e Joe Lally (baixo), que abordavam reggae/dub em suas levadas, enriquecendo musicalmente o caldeirão da aparentemente estagnada cena hardcore do final da década de 1980.

Abrindo mão do corporativismo, a banda tocava em circuitos alternativos (principalmente em Washington D.C.), levantando a bandeira do Do It Yourself . Com isso cresceu o número de shows e o público aumentou gradativamente. O disco - que continha no verso o preço máximo de US$ 8,00 -, começou a circular de mão em mão. Não demorou para se estabelecer um culto ao grupo.

Trazendo temas fortes e introspectivos como violência, sexualidade, consumismo, mobilização social e abuso de drogas, o disco foi recebido como um soco ideológico.

"Turnover" abre o disco num arranjo crescente espetacular, que desagua num memorável refrão. Na sequência temos barulhenta/estranha "Repeater", dona de timbres ruídosos perfeitamente posicionados.

A instrumental "Brendan #1" revela muitas qualidades do disco: a perfeita interação dos integrantes, o groove desconcertante, a captação organicamente calorosa e as faiscantes saturações.

Acho impossível não se entusiasmar com a dinâmica explosiva de "Merchandise". Reparem na discreta influência de Beastie Boys nas linhas vocais dos versos.

Em "Blueprint" fica nítida a evolução composicional que o grupo trouxe para o hardcore. Faixa tão intensa quanto melódica.

A paulada "Sieve-Fisted Find" e a swingada "Two Beats Off" tem o que eu chamaria de um groove tipicamente "dub-hardcore", embora cada uma com diferente approach. Tal sonoridade só é conseguida devido a inegável excelência da cozinha. Todavia, em faixas como "Styrofoam" também fica nítida a subestimada eficiência guitarristica da banda.

Ainda é possível destacar "Greed" (de arranjo esquizofrênico) e a clássica/espetacular "Shut The Door" (de dinâmica/clima imprevisível). Ambas ajudam a construir o disco, sendo o flerte perfeito do Dead Kennedys com o Gang Of Four, embora de visceralidade interpretativa bastante particular.

Se hoje ao ouvir o álbum é possível lembrar de dezenas de bandas de indie rock e post-hardcore (At The Drive-In, Refused e Sunny Day Real State, só para citar três), na época a riqueza/novidade sonora afastou os mais conservadores. Todavia, as gerações que estavam por vir entenderam o recado e o Fugazi tornou-se referência no hardcore/underground mundial.

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