segunda-feira, 14 de abril de 2014

TEM QUE OUVIR: Nick Drake - Five Leaves Left (1969)

Desde que o samba é samba, damos de cara com personagens que transmitem dor, solidão e conflitos existenciais, não somente através de suas obras, mas também na personificação do próprio criador. No altar divino da dramaticidade musical está Nick Drake, cantor/compositor cult, que conquistou popularidade tardia através de álbuns como Five Leaves Left (1969).


Trazendo dois dos melhores instrumentistas do folk inglês - Richard Thompson do Fairport Convention e Danny Thompson do Pentangle -, o disco é calcado na sonoridade acústica e intimista do estilo, sem abrir mão de arranjos bem amarrados e sensibilidade pop. Diante de belas faixas que exemplificam isso estão as delirantes "Three Hours" e "Time Has Told Me", que inclusive cita em sua letra a tal "cura" que levaria Robert Smith a batizar sua banda anos depois.

Embora Nick Drake fosse um cantor contido, suas composições encurtam a comunicação com o ouvinte. Não por acaso sua abordagem poética é tão festejada, mesmo com anos de atraso. Neste quesito é possível destacar a reflexiva "River Man".

Com traços orientas, arranjos de cordas elaborados e flerte psicodélico - características em alta na época -, composições como a linda "Way To Blue" e a ousada "Cello Song" ganham ainda mais profundidade. Já "Day Is Done" destaca-se por sua beleza melódica. Por sua vez, "Man In A Shed" traz seu violão arrojado.

Em meio a uma sociedade cada vez mais carente de respostas práticas, compaixão com o indivíduo e anseios não correspondidos, Five Leaves Left soa como um pequeno antídoto aos males do mundo. Tudo leva a crer que o trabalho tem longa vida garantida e, seu criador, embora não mais presente em vida, se faz presente em obra.

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