A década de 1990 foi atingida em cheia pelo hip hop, tendo em vista que os maiores clássicos do estilo foram forjados. Dentre tantos está o influente Illmatic (1994) do Nas. São breves quarenta minutos do mais alto nível musical.
Oriundo de Queensbridge e filho de pai jazzista, Nas investiu suas letras em crônicas sobre a periferia da costa leste americana. Lançado pela Columbia, o trabalho é quase conceitual, embora não carregue nenhum charme épico. Afinal, suas letras exploram o que havia de pior nos conjuntos habitacionais novaiorquinos em que o rapper foi criado. Em meio ao tráfico de drogas, overdoses, assassinatos e tiroteios, a consciência e a violência poética do artista retrata a realidade sem glorificar o crime ou pregar a barbárie. Isso com um flow absurdo. Isso com apenas 20 anos.
Assim como os beats boom bap, os samples (que vão do jazz ao funk) são extremamente pesados. Entre os produtores do disco está o talentosíssimo DJ Premier - sempre ele! - que participa das impecáveis "N.Y. States Of Mind", um clássico, de beat absurdamente sinistro; "Memory Lane (Sittin' In Da Park)", de versos contundentes; e "Represent", que transmite o ambiente de uma noventista NY.
Large Professor dá as caras nas pauladas "Halftime", "One Time 4 Your Mind" (ótima linha de baixo!) e "It Ain't Hard To Tell".
Já o Q-Tip participa da hipnótica "One Love", uma aula de storytelling e interpretação. Seu charmoso baixo acústico casa muito bem com a grave batida.
Vale ainda destacar "The World Is Yours", que equilibra acordes jazzisticos ao piano com beat pesado e scratches do Pete Rock. Resta ao Nas desfilar nos versos em uma de suas grandes performances. Refrão memorável.
Illmatic é o puro east coast hip hop. A seriedade de suas composições e qualidade das produções são o que tornam o disco um eterno clássico e exemplo de eficiência musical (e social) dentro do estilo. Inquestionável obra-prima.
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