sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

TEM QUE OUVIR: Nine Inch Nails - The Downward Spiral (1994)

Nine Inch Nails é uma banda sui generis. Soa extremamente pesada, mas não é genuinamente "metal". Trabalha com timbres eletrônicos, mas não é propriamente "música eletrônica". Sequer uma "banda" eles são, sendo na verdade o alter ego do compositor/músico/produtor Trent Reznor. Em contrapartida, mesmo não sendo nada disso, o grupo não deixa de ser tudo isso. Tá difícil de entender? Espere até ouvir o clássico The Downward Spiral (1994) e aí sim sua mente vai entrar em pane total, com direito a colapso nervoso.


Fundamental para o rock industrial, The Downward Spiral foi concebido na casa em que a atriz Sharon Tate foi assassinada pelos membros da seita do Charles Manson, o que dá ao trabalho um caráter ainda mais doentio. 

Uma das grandes qualidades do álbum é como toda a beleza melódica, agressividade cacofônica, produção rebuscada (assinada também pelo Flood), interpretação sentimentais/vorazes e climas soturnos, fluem de forma coesa.

O peso instrumental é tão avassalador que acaba sendo mais impactante que as letras sombrias do Trent Reznor. Esse esporro sônico pode ser representado através das urgentes "Mr. Self Destruct" (onde a batida mais parece o som de um fábrica) e "Heresy" (incrivelmente sexy, algo como um Prince do inferno), que se equilibram através da quase trip hop "Piggy".

Nem mesmo os hits "March Of The Pigs" (tremendo beat, muita saturação) e a "dançante" "Closer" (com direito a um singelo "quero trepar com você como um animal") dão trégua. Nessa última, vale se atentar aos elementos de estrutura pop presentes no arranjo (abertura de vozes, groove, interpretação libidinosa). Tudo isso em meio ao caos. Só isso pra explicar o sucesso comercial da canção.

Os arranjos épicos de "Ruiner", "The Becoming" e "Reptile" difundem a proposta perturbadora, conceitual e com pontuais referências da música pop oitentista no álbum. Entretanto, não se engane, aqui tudo ganha caráter distópico e peso descomunal.

Faixas como "Big Man With A Gun" e "Eraser" revelam um individuo entrando em parafuso. Há uma grande violência psicológica nas canções.

Se por um lado a sequência de faixas fantasmagóricas deixam o ouvinte atordoado, no final Trent Reznor alivia com a belíssima "Hurt" - aquela mesmo regravada maravilhosamente pelo Johnny Cash -, que por mais fúnebre, autodestrutiva e impiedosa que seja, ganhou um significado ainda mais profundo através da sua linda interpretação.

Em meio a queda do grunge e a explosão do big beat, o Nine Inch Nails foi o que deu novos ares ao rock, transitando na beira do precipício, mas fazendo o risco valer a pena. Por mais maluco que fosse, Trent Reznor estava no controle.

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