quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

TEM QUE OUVIR: Manic Street Preachers - The Holy Bible (1994)

Na primeira metade da década de 1990, o mundo da música já havia testemunhado golpes poéticos autodestrutivos em obras como Dirt (1992) do Alice In Chains e In Utero (1993) do Nirvana. Sendo assim, após o lançamento do sombrio The Holy Bible (1994), foi fácil perceber que havia algo de errado com o Manic Street Preachers.


Oriundos do País de Gales, a banda já havia esboçado bons momentos em discos anteriores, mas The Holy Bible trazia uma carga emocional irradiante, além de uma intensidade instrumental herdada do punk rock.

A voz melódica e ambígua do James Dean Bradfield alterna entre o esporro e a suavidade, como pode ser observado nas maravilhosas "Yes" - em um esperto 7/4 e com impactante letra sobre prostituição - e "Ifwhiteamericatoldthetruthforonedayit'sworldwouldfallapart", canções que qualquer banda do rock alternativo atual daria a vida para conseguir compor/executar.

Da cozinha inspirada por Gang Of Four ("Of Walking Abortion"), passando por guitarras vorazes ("Faster") e a densidade claustrofóbica ("Archives Of Pain"), o disco é recheado de momentos instrumentalmente destacáveis. 

Todavia, são as letras amargas do Richey James que mais chamam atenção. Entre a depressão e o alcoolismo, vestígios de anorexia ("4st 7lb") e automutilação ("Die In The Summertime") são expostos de forma chocante. Isso sem falar na capa, contendo um obeso não por mero acaso. Seis meses após o lançamento do disco, quando seu carro foi encontrado na Ponte de Severn - local muito utilizado por suicidas -, o enredo como um todo ficou ainda mais sombrio. Seu corpo até hoje não foi localizado.

A ressaca pós grunge não ajudou nas vendas do disco, que foi encoberto pelo outro lado do Reino Unido, com o britpop do Oasis e Blur. Todavia, The Holy Bible continua sendo um dos registros mais fortes, impactantes e inspirados do rock.

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