sexta-feira, 29 de novembro de 2013

TEM QUE OUVIR: Björk - Debut (1993)

Uma das principais qualidades de um artista é o de ser inabalável às tendências mercadológicas. Ao criar uma linguagem própria, fica difícil até mesmo criticar a obra. Goste ou não, é neste patamar que a Björk está. Ela é uma das artistas mais interessantes da música, sendo seu excepcional disco de estreia ainda hoje representativo.


É verdade que quando Björk era apenas uma fedelha finlandesa, no longínquo ano de 1977, ela lançou um álbum homônimo de folk pop. Já em 1990 ela trabalhou com um grupo de jazz islandês, onde em conjunto lançaram um único trabalho batizado de Glin-Gló. Além disso, em sua adolescência, fez parte do cultuado The Sugarcubes. Entretanto, é de consenso que Debut (1993) é mesmo seu disco de estreia, justamente por apresentar características sonoras enquanto compositora e intérprete que permanecem até hoje.

Apoiada por Graham Massey (808 State), um dos maiores nomes da dance music inglesa daquele período, Björk começou a rondar no circuito underground. Ela também contou com a produção do Nelle Hooper (Massive Attack) e a colaboração de nomes como Goldie (pioneiro do drum n' bass) e Talvin Singh (requisitado produtor/compositor/instrumentista) para chegar chutando a porta do cenário musical. 

Björk usa lindamente sua voz como instrumento, extraindo de si timbres e melodias improváveis para outras interpretes. Entre grunhidos exaustivos e sussurros apaixonantes destacam-se "Human Behaviour" (tremenda abertura de disco!), "Aeroplane" (de arranjo inusitado e riquíssimo) e "Like Someone In Love" (de leveza jazzista/oriental aconchegante).

A influência da dance music aparece em "Crying", "There's More To Life Than This" e "Big Time Sensuality". Todas apresentam produções um tanto quanto datadas, mas não ao ponto de ser um problema, tá mais para uma fotografia do período.

Por sua vez, "Venus As A Boy", "Come To Me" (ambas num flerte com a música indiana) e "One Day" estão muito mais ligadas ao embrião do trip hop. 

Ainda sobra espaço no disco para a sinfônica/cinematográfica "Play Dead" e para a melodicamente experimental/exuberante "The Anchor Song", sempre com a inquietação característica do seu trabalho, que não se rende aos caminhos conhecidos.

Com arranjos ousados, produção impecável, composições ímpares e canto singular, Debut escancara a relevância da Björk, ainda que seja apenas o primeiro passo de uma longa e desafiadora trajetória.

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