segunda-feira, 18 de novembro de 2013

TEM QUE OUVIR: The Beatles - The Beatles (1968)

De todos os álbuns dos Beatles, The Beatles - popularmente conhecido como White Album/Álbum Branco -, lançado em 1968, foi o que melhor ressaltou as individualidades do quarteto, o que gerou um disco extremamente variado.

As canções deste disco duplo soam mais como quatro talentosos músicos/compositores reunidos num único trabalho do que como uma banda em si. Isso se deve a vários fatores que inevitavelmente levaram ao fim do grupo dois anos depois. Dentre os fatores estão as drogas, as religiões, discordâncias estéticas, conflitos de personalidade, egos, saturação artística e (em menor grau) a famigerada Yoko Ono. Ainda assim, tem quem considere esse o grande trabalho do quarteto, sendo o primeiro lançado pela Apple, selo criado pelo próprio grupo.


A capa impressionantemente minimalista - completamente oposta ao psicodelismo colorido de Sgt. Pepper's - rendeu o apelido do álbum e diversas paródias indiretas (não é mesmo, Metallica e Caetano Veloso?). Mas o que chama atenção mesmo é sua diversidade sonora.

Quando o assunto é rock n' roll básico e direito, poucas faixas conseguem bater de frente com "Back In The U.S.S.R.", "Glass Onion", "Birthday", "Yer Blues", "Everybody's Got Something To Hide" e a extremamente pesada - um proto-heavy metal - "Helter Skelter".

Como passar indiferente diante de baladas primorosas recheadas de sofisticação melódica que só os Beatles são capazes oferecer, vide "Dear Prudence" (que tremenda linha de baixo!), "Happiness Is A Warm Gun" (com doses nada moderadas de surrealismo - na escolha dos acordes, nos timbres, nas vozes -, além de ser um fruto de inspiração do Belchior) e a linda/acústica "Blackbird" (com progressão harmônica inspirada em Bach e letra envolto a segregação racial)?

O que dizer de "While My Guitar Gently Weeps", composição primorosa do George Harrison - sempre sendo a peça surpresa do grupo - que contém solo emblemático do Eric Clapton?

O que ainda não foi dito sobre a politicamente hippie "Revolution 1"? Será que ela fazia sentido durante a Guerra do Vietnã?

Vale dizer que enquanto Paul McCartney fez "Martha My Dear" para sua cadelinha (com direito a arranjo vocal/orquestral surrupiado dos Beach Boys), John Lennon escrevia "Julia" para sua mãe, que morreu quando ele ainda era uma criança. 

Ainda é possível destacar a delirante "I'm So Tired", a psicodelicamente barroca "Piggies", o arranjo complexo da acústica "Mother Nature's Son", a espetacular "Sexy Sadie", o soul ácido de "Savoy Truffle" e a exuberância cinematográfica de "Good Night".

Lá para o fim do disco, temos ainda a estranhíssima "Revolution 9" e seus mais de oito minutos de colagens sonoras e outras experimentações que só fazem sentido quando escutadas após tantas maravilhosas composições. Ou nem assim. É a vanguarda adentrando o rock.

Sendo o primeiro álbum a ser gravado em 8 canais - até então tudo era registrado em apenas 4 -, contendo alguns dos melhores compositores de todos os tempos, instrumentistas completos e um produtor lendário como o George Martin, fica difícil contrariar a premissa de que este é um dos melhores discos de todos os tempos. 

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