segunda-feira, 28 de outubro de 2013

TEM QUE OUVIR: The Velvet Underground - White Light/White Heat (1968)

Em 1968 o movimento hippie ainda reinava no rock. A mensagem era de paz & amor, coberta por cores vivas, com o LSD sendo consumido feito água e o sexo praticado de forma livre. Diante deste fato surgiu o Velvet Underground, a antítese de tudo isso, aniquilando o espírito flower power antes mesmo do fatídico assassinato em Altamont ou da barbárie cometida por Charles Manson e sua seita.



Se o clássico primeiro trabalho da banda - o disco da banana, lançado em 1967, arquitetado pelo Andy Warhol - já contextualizava uma Nova York sombria, ocupada por prostitutas, travestis e viciados em heroína, White Light/White Heat foi ainda mais fundo, não somente nas letras, mas também na atmosfera instrumental, que se por um lado não resultou em sucesso comercial, por outro desencadeou em milhares de bandas influenciadas. Foi aqui que o rock soou pela primeira vez perigoso.

O lado A do vinil é marcado pela chocante poesia que acompanhou toda a vida do Lou Reed. Se "Lady Godiva's Operation" discorre a mudança de sexo de uma drag queen, acompanhado de uma percussão primitiva e guitarra insistentemente melódica, "White Light/White Heat" é sobre o uso de anfetaminas. E o que dizer de "The Gift", uma poesia surrealista interpretada em cima de um instrumental esquizofrênico.

Já o lado B tem somente duas faixas: "I Heard Her Call My Name", uma aula de como tocar guitarra sem grande desenvoltura técnica; e "Sister Ray", com 17 minutos de feedback, distorções e dissonâncias, servindo de fundo - as vezes atropelando - para uma história recheada de, "pra variar", sexo, drogas e violência.

White Light/White Heat não influenciou somente bandas, mas gêneros, tanto enquanto estética musical, quanto por postura e atitude. Glam rock, punk rock, pós-punk, gótico, industrial, noise, grunge, shoegaze, drone, rock avant-garde, lo-fi, indie rock... tudo é resultado dessa obra marginal. Méritos do Lou Reed, John Cale, Sterling Morrison e Mo Tucker, iconoclastas do sonho hippie.

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