terça-feira, 5 de março de 2013

As curiosas pérolas da Casa Edison

"Hino Nacional, executado pela banda da Casa Edison, Rua do Ouvidor 107".


Se tem algo que eu admiro é o papel da música enquanto expressão popular. Infelizmente, antes da criação dos fonógrafos (inventado por Thomas Edison), que permitiu a gravação/documentação das composições, muito da música popular foi perdida no tempo. Afinal, poucos eram os que tinham conhecimento erudito para escreverem suas músicas em partituras. O pouco que conhecemos foi através da sobrevivência oral/hereditária.

No Brasil, essa documentação (e comércio, claro) começou em 1900, com a fundação da Casa Edison, uma gravadora responsável pelos primeiros registros no Brasil. Por usarem cilindros fonográficos, as captações são de qualidade arcaica, ainda assim trazendo um charme interessante para os dias de hoje, além de imensurável valor histórico.

É importante lembrar que a Casa Edison foi durante muito tempo representante da gravadora Odeon, o que tornou seu selo bastante especial. A gravadora funcionou até 1932.

Sem mais papo histórico, vamos ouvir um pouco dessas curiosas pérolas da Casa Edison.

Baiano - Isto é Bom (Xisto Bahia)
Começar do começo. Primeira gravação da Casa Edison, logo, primeira gravação do Brasil. Como diz na própria chamada antes da canção, é um lundu, gênero de dança de matriz africana. 

Baiano - Pelo Telefone (Donga e Mauro de Almeida)
Tido como o primeiro samba de todos os tempos (apesar da célula rítmica de maxixe), essa é uma das composições feitas na lendária casa da Tia Ciata, o templo inicial do samba. Canção e gravação não menos que histórica, mais uma vez interpretada pelo Baiano.

Rato Rato (Claudio Manoel da Costa)
Uma polca engraçadíssima, principalmente pela interpretação. É interessante observar o quanto que o cantor tinha que gritar para que o fonógrafo conseguisse captar sua voz sem que fosse encoberta pelos outros instrumentos. Essa limitação tecnológica é dissociável de como as músicas eram interpretadas, tanto em energia, quanto em clareza de dicção. O desenvolvimento da canção popular brasileira passa por essa questão.

Mario Pinheiro - Boceta de Rapé
A prova definitiva que a música brasileira sempre teve o humor, o duplo sentido e até mesmo a sacanagem inserida no seu contexto. Isso quase um século antes do funk carioca.

Vicente Celestino - Flor do Mal
Durante muito tempo, Vicente Celestino foi o maior cantor do Brasil, não só em popularidade (vide o sucesso de "O Ébrio"), mas também tecnicamente, visto que ele se apoderou das limitações técnicas das gravações mecânicas, lapidando a força do modo de cantar com expressividade, elegância, afinação e timbre primoroso. 

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