sexta-feira, 8 de março de 2013

A diversidade do rock nacional 90's

Com a morte do Chorão, vocalista/líder/compositor do Charlie Brown Jr., uma questão voltou a chamar minha atenção: o quão rica foi a safra do rock nacional da década de 1990. 

Pensando nisso, venho aqui com doses moderadas de saudosismo (coisa que eu costumo repudiar) relembrar as bandas do período. Perceba como cada grupo se distinguia em atitude, temática e sonoridade, formando assim uma cena rica. Foi demais ter vivido essa fase - embora criança, sem ver os shows -, tendo diariamente assistido tais bandas na MTV e escutado na recém ressuscitada 89 Rádio Rock.

Pra não ficar apenas defendendo o rock do período, acho importante lembrar que a maioria dessas bandas não sobreviveram ao teste do tempo - assim como aconteceu comercialmente com as bandas oitentistas na década de 90 -, o que acabou refletindo no atual cenário musical. Vale lembrar também que, apesar do grande alcance dessas bandas, foi o axé e pagode que dominou os grandes meios de comunicação na década de 1990.

Obs: sequer falarei das espetaculares bandas do cenário alternativo como Little Quail, DeFalla, Pin Ups, Killing Chainsaw, Second Come, Mickey Junkies, Graforréia Xilarmônica, The Dead Billies, Muzzarelas ou Gangrena Gasosa. Vou ficar no mainstream mesmo.

Raimundos
Disparado a banda que mais gostava quando criança. Eles não queriam aprovação de ninguém. Bons modos passavam longe deles. Provavelmente por isso atingiram em cheio a molecada. É verdade que muitas letras não sobreviveram bem, mas elas faziam sentido na época. Tinham na sonoridade uma mistura rica de hardcore, punk rock, metal e... forró. Os dois primeiros discos deles são clássicos do rock nacional. 

Planet Hemp
Se os EUA tinham o Rage Against The Machine, o Brasil tinha o Planet Hemp. Com letras cantadas em forma de rap abordando (ao contrário do que muitos pensam) diversas questões políticas (dentre elas a famigerada legalização da maconha), além de instrumental preciso, o Planet Hemp polemizou e deu ainda mais atitude para sua geração.

Chico Science & Nação Zumbi
Um verdadeiro choque na música brasileira. Chamaram atenção do público jovem, dos veteranos da MPB e da mídia. Misturaram rock com o maracatu, hip hop, psicodelia, funk... fizeram art rock brasileira denominada manguebeat.

Mamonas Assassinas
Descaradamente uma piada sonora, os Mamonas Assassinas tinha bons músicos, um vocalista irreverente e humor ligeiro. Não bastasse tudo isso, como disse certa vez o Régis Tadeu "os Mamonas fizeram muita criança preferir ganhar de presente uma guitarra do que um videogame". Em contrapartida, o sucesso do grupo matou as pequenas cenas, já que eles viraram padrão da indústria. Mas aí também não foi culpa deles.

O Rappa
Longe de estar entre minhas bandas prediletas, O Rappa inicialmente ao menos apresentava consistência em sua mistura de pop rock, reggae, rap, dub e elementos eletrônicos. Isso sem falar no engajamento social. Hoje a banda representa um verdadeiro nada.

Skank
A grande verdade é que o Skank é a melhor banda do pop rock nacional. Eles fazem canções com típica pegada inglesa (de Beatles até Oasis), com doses de reggae e marcas de Clube da Esquina no DNA. Não por acaso seus shows agradam ainda hoje todo tipo de público.

Patu Fu
O Patu Fu é uma banda subestimada. Eles fazem pop rock honesto e tem na liderança o talentoso guitarrista/compositor/produtor John Ulhoa. Não vejo nas banda atuais criatividade, talento e coragem suficiente para fazer uma introdução com theremim (como em "Eu") ou um single cantado em japonês (como em "Made In Japan"). Acho bacana.

Charlie Brown Jr.
Reggae, funk, rap e rock tocado por músicos extremamente competentes e liderados por um vocalista no mínimo carismático. Foi o suficiente para eles conseguirem se comunicar com sua geração. Se esse é o papel da música popular, eles tiveram enorme êxito.

Jota Quest
Se hoje o Jota Quest não demonstra relevância musical, nos anos 90 eles foram ao menos ousados ao apresentar uma mistura de pop rock com funk/soul, ainda mais para cinco branquelos mineiros. Como se já não bastasse regravar "As Dores do Mundo" do Hyldon, eles ainda lançaram como single a ultra swingada "Encontrar Alguém". Destaque para o groove do ótimo baixista PJ. Era pop rasteiro, mas com frescor. Hoje é uma piada de mal gosto.

Sepultura
Desnecessário qualquer comentário. Maior banda brasileira fora do país. Influenciou diversos grupos (do Pantera ao Machine Head, passando pelo Korn e Slipknot). Nada se compara ao Sepultura em termos de peso e energia. Ainda hoje relevante.

Dr. Sin
Acredito que se o Dr. Sin fosse uma banda americana eles seriam do tamanho do Extreme. Ainda assim, no Brasil tornaram-se referência no quesito virtuosidade com musicalidade. Isso sem falar na produção de nível internacional. Não por acaso antes mesmo de lançarem o disco de estreia já estavam dividindo palco com L7, RHCP, Alice In Chains e Nirvana. Pena que chegaram tarde e a febre hard rock já havia passado.

Angra

Uma das bandas mais influentes do power metal/metal melódico, sendo na minha opinião a única interessante do gênero no mundo. Discos como Holy Land e Temple Of Shadows conseguem ser extremamente virtuosos, mas carregados de melodias progressivas e elementos brasileiros. Conseguiram prestigio dentro do heavy metal sem precisar copiar o Sepultura.

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