TEM QUE OUVIR: Grandmaster Flash And The Furious Five - The Message (1982)

Ser popularmente conhecido como o primeiro álbum de rap já seria suficiente para reconhecer a obra como um clássico. Entretanto, The Message (1982) do Grandmaster Flash, muito além da questão enciclopédica, é também sonoramente um dos melhores registros do estilo.

Da genial capa - representado as ruas do Bronx e a estética visual do inicio do hip hop -, até o último arranhão da agulha no vinil, The Message é um documento antropológico.

O ritmo funkeado de canções como "She's Fresh" e "It's Nasty" atraem até mesmo quem não gosta de rap, tamanha é a qualidade dos grooves. A escolha dos samples não poderia ser melhor, vide o encaixe perfeito de Stevie Wonder em "It's a Shame (Mt. Airy Groove)". Já a frenética "Scorpio" tem o peso e a batida mais direcionada para o miami bass de artistas como o Afrika Bambaataa e o p-funk do George Clinton. Todas essas canções revelam o caráter festivo do gênero em sua raiz. 

A genialidade do Grandmaster Flash enquanto DJ está representada na espetacular "The Adventures Of Grandmaster Flash On The Wheels Steel", onde ele faz uma salada musical com trechos de canções do Chic, Queen e Blondie, mixando e aplicando magistralmente várias técnicas desbravadoras, dentre elas o scratch.

Mas foi o discurso social de "The Message" que capturou os jovens negros pobres de Nova York para o hip hop. Sua letra direta, interpretada no estilo do "canto falado" - com um "swingue" e "scat singing" peculiar do Melle Mel -, foi instantaneamente assimilada e deu voz a quem até aquele momento não tinha. É o som dos guetos em sua essência sonora e ideológica. A partir desta música é que o rap tomou a forma politizada e contestadora que conhecemos hoje. Não por acaso a canção foi escolhida em 2012 pela revista americana Rolling Stone como a melhor música do hip hop de todos os tempos.

Se o rap tem a popularidade mundial que tem hoje, isso se deve em partes ao Grandmaster Flash e o clássico The Message.