quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Os 60 anos do mestre Lanny Gordin

Um dos maiores guitarristas brasileiros (ele nasceu na China, mas sua vida/carreira foi construída no Brasil) está comemorando 60 anos. Lanny Gordin, artista que felizmente tive a oportunidade de estabelecer um contato pessoal, vai comemorar a data com o lançamento de um CD e DVD ao vivo, que contará com a participação especial de Pepeu Gomes, Luís Carlini e Edgard Scandurra. Mais informações sobre o show e sobre como ajudar o projeto vocês encontram aqui: http://mobberblog.wordpress.com/2011/10/28/mobilizacao-para-os-60-anos-de-lanny-gordin/


Para quem não conhece a carreira deste lendário músico, recomendo que escutem cada uma das canções que postarei abaixo. Seu trabalho é a comprovação de sua genialidade.

1 - Um dos primeiros trabalhos do Lanny Gordin foi com artistas da Jovem Guarda, dentre eles Silvinha Araújo e Wanderlea. Uma das gravações mais interessantes de Lanny neste período foi com Eduardo Araújo. A guitarra carregada de fuzz era uma novidade no Brasil e o Lanny Gordin aplicou muito bem o efeito em uma música bastante pesada para a época (1968). Detalhe para o berro de Eduardo Araújo que antecede o riff. "Mister Lanny" quebra tudo!

2 - Mesmo que tenha começado a se destacar com artistas da Jovem Guarda, Lanny Gordin já era conhecido ainda adolescente por tocar na famosa boate de seu pai, a Stardust, localizada em São Paulo. Por essa boate passaram músicos como Heraldo do Monte e Hermeto Pascoal, sendo que foi com esse último que Lanny Gordin montou o Brazilian Octopus, grupo que continha o também guitarrista Olmir Stocker (Alemão).

3 - A carreira de Lanny Gordin subiu outros patamares quando ele começou a tocar com artistas da Tropicália. Lanny foi responsável em grande parte pela sonoridade rockeira e psicodélica do movimento, sendo reconhecido como o mais talentoso guitarrista do Brasil por ícones como o maestro Rogério Duprat. Dentre todos os discos que Lanny gravou na Tropicália, os prediletos dos guitarristas são os com a Gal Costa, principalmente por serem os mais psicodélicos e experimentais.

4 - Lanny acompanhou os artistas tropicalistas também fora do Brasil. Um dos vídeos mais interessantes que estão no YouTube é o dele tocando com Gilberto Gil e Caetano Veloso logo quando eles voltaram do exílio. Acho imprescindível a audição do Álbum Branco (1969) do Caetano e Expresso 2222 (1972) do Gilberto Gil para entender melhor a música brasileira e o trabalho do Lanny Gordin.

5 - De todos os discos gravados por Lanny (e não são poucos) o meu predileto é o autointitulado álbum de estreia do Jards Macalé, lançado em 1972. Nele há canções geniais, harmonias intrigantes e arranjos fantásticos, executados apenas com bateria (tocada pelo espetacular Tutty Moreno), violão e baixo (que Lanny também tocou). 


6 - Ainda na década de 70, Lanny Gordin tocou com Rita Lee (no bom disco Build Up), Erasmo Carlos (no clássico Carlos, Erasmo), Tim Maia (a guitarra de "Chocolate" é dele), Antônio Carlos & Jocáfi (a guitarra de "Kabaluerê" não poderia ter outro dono), além de ter acompanhado ao vivo Tom Zé, Jair Rodrigues e Elis Regina.

7 - Infelizmente, do final da década de 70 até o final da década de 90, Lanny Gordin viveu praticamente no ostracismo, isso porque passou por problemas mentais relacionados ao abuso de LSD, chegando a ser internado 4 vezes em sanatório e desenvolvendo esquizofrenia. Ainda sim é possível ouvir sua guitarra em trabalhos com o Aguilar e a Banda Performática, Catalau, Itamar Assumpção, Chico César e Vange Milliet. Sua volta por cima aconteceu definitivamente com a ajuda do Luis Calanca, dono da Baratos Afins, que gravou e lançou um disco solo de Lanny em 2001. O trabalho desencadeou no Projeto Alpha e mais recentemente no grupo Kaoll. Lanny também lançou em 2007 um disco chamado Duos, que contém a participação de todos os grandes ícones da Tropicália (Gal, Gil, Caetano, Macalé) e seus fãs da nova geração, dentre eles Zeca Baleiro, Fernanda Takai, Adriana Calcanhoto, Max de Castro e Rodrigo Amarante. Neste período é interessante notar que Lanny praticamente abandonou o fuzz e mergulho de vez em harmonia complexas, solos free e sonoridade contemporânea.

Ao conhecer pessoalmente o Lanny Gordin percebi que ele é ainda maior que sua música, sendo um sujeito de coração doce e que, apesar de toda dificuldade, transmite alegria e conhecimento para todos que o rodeiam. Por isso Lanny é um mestre, mas não apenas da música, mas também da vida. Parabéns, Lanny. Vida longa!

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