quarta-feira, 6 de julho de 2011

TEM QUE OUVIR: Arnaldo Baptista - Lóki? (1974)

Hoje é aniversário do eterno "mutante" Arnaldo Baptista. Para homenagear a carreira deste genial artista, vou dissecar o seu melhor e mais emblemático álbum solo, o clássico Lóki?.


É importante lembrar o disco foi gravado durante um período difícil da vida de Arnaldo. Ele acabara de sair dos Mutantes e seu relacionamento com Rita Lee havia terminado de forma controversa há poucos anos, o que trouxe ao disco uma carga emocional pesada. Além disso, é conhecida a história que Arnaldo teve experiências fortes com drogas lisérgicas, elevando sintomas esquizofrênicos, também influenciando diretamente no resultado final do disco.

"Será Que Eu Vou Virar Bolor" abre o álbum escancarando uma letra surreal e amargurada. Além da letra, o piano também é fator importante dentro do arranjo, não só desta música, mas de todo o álbum, com passagens influenciadas pelo jazz, bossa nova, música erudita e boogie-woogie.

"Uma Pessoa Só" tem arranjo espetacular, muito mais interessante que quando gravada com os Mutantes. A virtuosidade pianística de Arnaldo beira ao absurdo nesta canção, assim como o conteúdo psicodélico da letra.

A poética delirante continua na impactante "Não Estou Nem Ai", claramente influenciada pelo rock progressivo. Já "Vou Me Afundar Na Lingerie" contém um refrão grudento, capaz de fazer o ouvinte canta-lo por horas, ainda que não entendendo o real significado da letra. A linha de baixo tocada pelo Liminha também merece atenção.

"Honky Tonky" é uma inacreditável peça pianística que remete ao que aconteceria caso Chopin fosse um músico de jazz com pegada rockeira. As influências distintas continuam no clima bossa nova de "Cê Tá Pensando Que Eu Sou Lóki?", mais uma vez com letra e arranjo espetacular. Aqui vale lembrar que o álbum teve produção do Roberto Menescal e Mazzola.

Uma das músicas mais emocionantes de todo o disco é "Desculpe". A letra fala sobre uma pessoa solitária e arrependida, retratando de maneira dolorosa o fim de seu relacionamento com Rita Lee. Para deixa-la ainda mais fantástica, a faixa recebeu uma linha de baixo de beleza melódica provocante. A composição é o retrato de um artista genial expondo sua melancolia com honestidade torturante.

"Navegar De Novo" é mais uma canção surreal e conturbada. Sua qualidade de compositor, cantor e pianista continua evidente em "Te Amo Podes Crer", assim como seus delírios internos.

O disco encerra excepcionalmente com a estranha e violonística "É Fácil", com partes que remetem ao que faria futuramente o Michael Hedges. Um álbum de audição obrigatória, em que o artista entrega o coração e a alma para compor músicas inacreditavelmente emocionantes.

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