quarta-feira, 18 de maio de 2011

O multifacetado Raul Seixas

Para muitos, Raul Seixas não passava de um personagem caricato, com muito álcool no sangue, querendo ser o Elvis Presley brasileiro. Para outros mais atentos, Raul era dono um punhado de canções espetaculares, discos seminais e uma carreira bastante intensa, que nunca passou perto do comodismo artístico, mal esse que atacou inúmeras estrelas da música brasileira.

Algo que eu notei ao reouvir alguns discos do "Pai do Rock Brasileiro" - não foi o primeiro, mas o titulo é mais que merecido - é que sua carreira trilhou diversos caminhos e, ouso dizer, que andou por todas as vertentes da música popular. Duvida? Escute as faixas citadas e se espante com o lado multifacetado do rockeiro que não fazia só rock.

Obs: Tais músicas não são necessariamente as melhores do Raulzito, mas são a prova da pluralidade de um compositor ousado.

Diversas vertentes do rock.
O rock predomina na carreira do Raul, desde baladas emprestada dos Beatles ("Você Ainda Pode Sonhar"), passando por sons psicodélicos ("Dr. Paxeco"), sonoridades acústicas do folk ("Sunseed"), mudanças de andamentos, letras narrativas e arranjos bem elaborados típicos do rock progressivo ("Paranóia") chegando no bom e velho rock n' roll ("A Verdade Sobre A Nostalgia"). Agora, interessante é perceber o peso intenso na fantástica "O Segredo do Universo", que contém trechos cantados com a força um vocalista de heavy metal (ou quase isso) e guitarras encorpadas do Sérgio Dias (Os Mutantes). Sensacional!

Matriz do rock
Raul Seixas, sábio rockeiro, olhou para trás e deu de encontro aos estilos que deram a luz ao rock. O gospel foi muito bem introduzido ao seu estilo com a música que leva o mesmo título ("Gospel"). O country, que muitos dizem ser o estilo que ele realmente adorava, foi também explorado no sucesso "Cowboy Fora da Lei". Restou ao blues ficar com a sagaz "Canceriano Sem Lar (Clinica Tobias)".

Raízes brasileiras
Raul não deixou sua raiz brasileira de lado. Misturou rock com forró na clássica "Let Me Sing, Let Me Sing". Raul também tinha samba no pé e fez "Aos Trancos e Barrancos" e até mesmo a marcha carnavalesca "Eta Vida". Já o lado caipira de Raul Seixas está em "Capim Guiné" e "Minha Viola". Até a breguice de alguns cantores populares/românticos foi introduzida ao seu estilo de cantar na cômica/pastiche "Tu És o MDC da Minha Vida".

A prova da pluralidade 
"Vertentes do rock", "matriz do rock" e "raízes brasileiras", por enquanto nada de muito espantoso, mas agora é que começam as verdadeiras experimentações. Acredite, Raul Seixas tem um reggae (!) e se chama "Ide A Mim Dadá". Reggae um tanto quanto caribenho por sinal. Raul fez também um bolero, vide "Sessão das 10". Música "infantil" também foi sua jogada em "Carimbador Maluco", tudo pra passar uma mensagem anarquista em horário nobre da televisão brasileira. O funk também está presente em sua discografia com a ótima "Tapanacara", que tem o acompanhamento da espetacular Banda Black Rio.

Extrapolando os limites do ecletismo.
Agora chegamos a um capitulo extremo, onde Raul Seixas fundiu sua música com gêneros inimagináveis para os próprios fãs do artista. 

- Se rap significa "ritmo e poesia" e entre as características do estilo estão o vocal falado e as letras de contestação, então "É Fim Do Mês" é um autentico rap.

- Se Conde Drácula tivesse uma ópera feita em sua homenagem, "Magia de Amor" poderia muito bem estar dentro da obra. Uma bela música com arranjo orquestrado muito bem elaborado.

- Vai dizer que o instrumental de "Moleque Maravilhoso" não remete as big bands de jazz? Pois é, além de tudo Raul também atacava de crooner. 

- E pra finalizar, Raul Seixas realmente não fez nada da típica música eletrônica de pista, até porque nem teve tempo de ver a popularização no gênero. Mas não da pra negar que o barulho da mosca em "Mosca na Sopa" tem lá sua influência da música eletrônica de vanguarda.

É isso! Ouça todas as canções com atenção e explore a obra riquíssima do grande Raulzito.

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