Reconheço que citar mais de 100 discos de um único ano é exagero, ainda mais atualmente, onde tudo parece ser tão descartável (não enquanto obra, mas enquanto hábito de ouvinte). Todavia, não deixaria de postar algo bacana só para me enquadrar num número pré-estabelecido.
Apesar da grande quantidade de álbuns, fiz descrições curtinhas (não são críticas, muito menos resenhas, são descrições), justamente por entender que, embora as pessoas tenham sede de conhecimento, nem todos têm tempo/interesse/prazer de ouvir tantos lançamentos, muito menos de ler a minha irrelevante opinião sobre tais obras.
Mas tá aí, o trabalho sujo está feito. Com direito a uma faixa destaque para cada disco (exceto nos "MELHORES DISCOS DO ANO", ao menos esses escutem inteiro).
Mais que uma crítica, esse post é um apoio para quem quer caçar uma novidade (e um HD externo para eu mesmo catalogar minhas audições/preferências).
Obviamente muitos prováveis grandes discos ficaram de fora simplesmente por eu não ter tido acesso e/ou tempo de ouvir. No passado isso me causava angústia, hoje deixo rolar, conformado com a impossibilidade de conferir tudo. De qualquer modo, se tiverem alguma grande indicação para fazer, é só colocar nos comentários.
Separei tudo em ordem alfabética. Nacionais e internacionais, tudo misturado. Sem pódio de chegada ou beijo de namorada. Acho que assim fica mais fácil procurar algum lançamento específico. Todavia, como tem quem se interesse em saber as predileções nacionais, deixo aqui a menção honrosa aos discos do Krisiun (único no topo dos prediletos), Bala Desejo, Deize Tigrona, João Donato, Odradek e Terno Rei. Destrincho cada um deles mais abaixo.
Sem mais delongas, vamos para a lista:
- Ashenspire: Hostile Architecture
Banda que eu sequer havia ouvido falar até então, num disco surpreendente, que traz a energia do metal extremo apaziguada por execução cristalina quase jazzística. A influência progressiva é óbvia. Causa inevitável espanto a forma quase de discurso ditatorial na performance do vocalista (e neste caso isso é um elogio). A forma com que as canções (e o disco) evolui é intrigante. A maneira com que o sax oferece liberdade e alicerce para as composições é espetacular. Uma loucura.
Não querendo super dimensionar a obra, mas em muitos quesitos esse álbum me remeteu a um “Exile on Main St. sem a farra”. É um disco duplo e ambicioso, mas com o alicerce em elementos tradicionais do rock americano. Aqui o Big Thief - banda que gosto, mas nunca amei -, traz uma combinação de indie folk, alt-country, shoegaze, americana e folktronica, combinando instrumentação e gravação orgânica à interferências eletrônicas, soando ora intimista, ora grandiosamente denso. A Adrianne Lenker é uma intérprete de muita personalidade, entregando muita paixão em suas performances. Memoráveis melodias, captação vívida (em diferentes estúdios), momentos de nenhuma ortodoxia sônica, além de letras igualmente irônicas/divertidas/dramáticas/estranhas também fazem parte deste pacote. Tem algumas (poucas) gordurinhas, mas nada que atrapalhe o desenvolver do longo álbum. Especial.
- Black Country, New Road: Ants From Up There
Após uma estreia arrebatadora, o grupo se supera neste segundo disco. Ao mesmo tempo, vê seu líder, Isaac Wood abandonar o barco. Essa confusão digna do tempo em que vivemos se manifesta no álbum, repleto de reflexões e performances dilacerantes. Por sua vez, musicalmente tudo parece menos “ácido”, apostando desta vez em lindas melodias e arranjos que culminam num estado de êxtase. Tudo com uma captação orgânica e cristalina. Adoro o raciocínio orquestral dado à instrumentação, soando como uma mistura de Van Der Graaf, Slint, GY!BE e Arcade Fire. O resultado é complexo e envolvente. Biscoito fino.
- black midi: Hellfire
Terceiro álbum da banda, terceiro presente nos meus prediletos do ano. A culpa é toda deles. Parece que a cada lançamento eles aperfeiçoam a qualidade num ponto que eu sequer imaginava. Aqui o grupo traz intensidade, acidez, groove, carisma e espontaneidade para o jazz-rock, um gênero praticamente morto. As performances são não menos que incendiárias. Muito virtuosismo instrumental, arranjos intrincados (com grande paleta de instrumentação) e tremenda personalidade vocal. Novamente um absurdo.
- Chat Pile: God’s Country
Em sua estreia em disco, o grupo já se coloca na vanguarda do metal ao trazer uma força descomunal através de riffs sombrios, baterias monolíticas e baixos tão graves que parecem levitar feito poluição. Isso serve de cenário para o vocalista jogar em nossa cara toda a podridão dos EUA, ora gritando, ora discursando, ora sucumbindo. A produção é singular, meio reverberosa e estranhamente grave e caótica. É sujo, ruidoso, esquisito e perfeito ao nosso tempo.
O compositor, cantor e multi-instrumentista do Grizzly Bear em seu primeiro trabalho solo. O que salta aos ouvidos é a evolução das canções, desenvolvidas com esmero em cada detalhe de arranjo, harmonia e melodia. Isso via uma produção majestosa e execução virtuosa de Daniel, principalmente no que diz respeito aos violões. No caldeirão de sonoridades aqui encontrado, percebo elementos de música folk, rock progressivo, jazz, música brasileira, indie rock e art rock, Não há limites para a criação. Um épico do bom gosto.
- Imperial Triumphant: Spirit Of Ecstasy
Não é surpresa pra quem conhece o grupo os rumos vanguardistas e desafiadores de suas composições. Todavia, a audição de um novo trabalho da banda sempre traz a sensação de novos limites alcançados. Aqui o metal extremo se eleva através de arranjos nada ortodoxos (e largos), melodias estranhas, ritmos frenéticos, além de um clima de caos e insanidade. Parece um rock in opposition do inferno. Uma doideira que, dependendo de quem ouça, pode soar até mesmo angustiante.
Sem dúvida o grande disco de música pop do ano. Ok, tá mais pra um art pop, mas ainda assim é pop. Sua capacidade tanto de agradar de imediato o ouvinte (via composições bem resolvidas, interpretação inspiradas, além de boas e memoráveis melodias) quanto desafiá-lo (arranjos inusitados, timbres eletrônicos arrojados, produção abstrata, elementos progressivos) é louvável. Simplesmente achei o disco matador faixa-a-faixa, soando belo e carismático, expondo assim também sua versatilidade não somente sonora, mas também climática. Tremenda estreia.
Em seu segundo trabalho no ano, o grupo aprimora ainda mais as composições e a execução num disco de black metal que chega a flertar com o rock progressivo. Há teclados oferecendo orquestrações belíssimas, instrumental intrincado e um desenvolvimento complexo que cria um ambiente inóspito típico do gênero, embora sedutor na excelência musical. A produção orgânica ressalta a qualidade técnica dos instrumentistas. Interessante como soa pesado mesmo nos momentos cristalinos. Impactante e majestoso.
- Krisiun: Mortem Solis
O death metal do trio atinge a perfeição via riffs pesadíssimos e cativantes (as melhores guitarras do Moyses estão aqui). A famigerada velocidade é aplicada à serviço das composições, que evoluem sempre para algo demolidor. A execução e a produção estão cristalinas feio chumbo, não deixando margem para poluição sonora. Outro atrativo são os elementos de um heavy metal mais tradicional (em melodia, dinâmica, cadência), que fazem com que as canções sejam muito mais memoráveis. Criativo, brutal e inspirado.
Daqueles discos "fáceis", que em mim bateu logo na primeira audição. Ela é uma jovem cantora/compositora/guitarrista de indie folk americano, gênero em voga. Seu diferencial é primar pela excelência. Ela constrói ótimas melodias com sua bela voz (com nítida influência de Jeff Buckley), além de ser guitarrista de mão cheia, que sabe extrair ótimos timbres crus, além de melodias e harmonias intrincadas. Boa banda de apoio, soluções de arranjos criativas e ótima captação. Não tem erro. Me espanta não ter aparecido em lista alguma.
- Petrol Girls: Baby
Com atitude e peso, além de qualidade técnica e composicional, esse grupo traz a chama do riot grrrl para a atualidade. As letras confrontosas se fazem necessárias, mas o importante é que elas vêm junto de excelentes riffs, grandes performances do baterista, timbres calorosos, execução nervosa e refrãos/melodias memoráveis, que fazem do disco um panfleto divertido e acessível. Trabalho ultra inspirado.
- SAULT: Air
O enigmático grupo surpreende com uma obra de resultado cinematográfico. É uma peça orquestrada, com direito a coro de vozes majestoso. Não é absurdo dizer que é um trabalho de música erudita. Tudo belissimamente desenvolvido, arranjado, interpretado e captado. Em alguns momentos me lembrou o Atom Heart Mother do Pink Floyd (que é um dos discos da minha vida). O Inflo sabe o que faz. Emocionante. Simples assim.
- Soul Glo: Diaspora Problems
Num mundo tão cheio de regras que é o punk rock, o Soul Glo quebra todas sem perder a autoridade. Se apropriam do hardcore, noise rock, industrial, screamo e até mesmo hip hop, transbordando energia e criatividade. Os riffs são contagiantes e o vocalista parece pular na nossa frente pronto para nos esganar, expondo as angústias do nosso tempo. Sem querer fazer comparações absurdas, mais em alguns momentos me pareceu uma transposição temporal do Bad Brains. Execução, produção e resultado visceral.
- The Smile: A Light For Attracting
Confesso que não queria colocá-los num posto tão alto, mas não teve como, esse disco é uma maravilha. É o tal novo supergrupo com vocês sabem quem. E convenhamos, o resultado não é tão distante do que se esperaria do Radiohead. Só que aqui com um molho mais “orgânico” e “grooveado”. Há um equilíbrio entre performances primorosas e produção criativa, encorpada e cristalina. Isso em canções ultra inspiradas, de melodias memoráveis e arranjos de densidade acolhedora. É uma beleza.
- Adeem The Artist: White Trash Revelry (Não bastasse repaginar a canção country americana com temáticas mais contemporâneas (religião, racismo, sexualidade) numa abordagem nada reacionária, o artista ainda dispõe de ótimos arranjos e gravação, resultado num disco de sonoridade orgânica deliciosa). Redneck, Unread Hicks
- Alaíde Costa: O Que Meus Calos Dizem Sobre Mim (A veterana cantora num disco exuberante da capa à última nota. Sua voz soa apaixonada, ainda mais diante de samba canções lindamente bucólicos. Destaque também aos precisos arranjos. Uma beleza que parece de outro tempo). Praga
- Aldous Harding: Warm Chris (Essa talentosa cantora-compositora faz uma sólida ponte entre o indie e o folk, soando tão acessível e “pop” quanto introspectiva e minimalista. Sua voz é bela e os arranjos discretamente elegantes. Singelo). Bubbles
- Alexisonfire: Otherness (Após mais de uma década sem material inédito, fica explícito o amadurecimento do grupo, o que não necessariamente vai agradar a todos, mas a mim sim. É um disco menos porralouca e mais “rockeiro”. Tem algo de Helmet ali. Gosto do equilíbrio entre modernidade e sujeira na produção. As guitarras estão soando enormes. A interação das vozes traz ótima dinâmica para as canções. Ótimo trabalho). Survivor’s Guilt
- Amber Mark: Three Dimension Deep (Uma combinação de qualidade musical impressionante, que parece juntar o que há de melhor no pop oitentista (com aquela execução perfeita que só grandes instrumentistas alcançam), com a capacidade de criar bons ganchos do pop da virada do milênio e o que há de mais elegante no r&b/neo-soul. Mixagem maravilhosa, interpretação vocal soberba, ótimas melodias e arranjos… uma maravilha do pop contemporâneo). One
- Backxwash: His Happiness Shall Come First Even Though We Are Suffering (Pesado, fúnebre, gótico e industrial, esse disco é mais uma amostra da violência sônica que o hip hop atingiu. Isso via uma personalidade que irradia força. Poderoso). MUZUNGU
- Bad Boy Chiller Crew: Disrespectful (Pode parecer que eu tô sendo irônico, mas isso aqui me soou como um “summer eletrohits” que deu certo. São batidas meio house, meio hip hop, meio europop, sempre com uma abordagem jovem porra louca. No mínimo divertido. Adorei para pano de fundo, mas vá por sua conta em risco). So Much In Love
- Beach House: Once Twice Melody (Embora reconheça gorduras em quase 1h30 de álbum, o duo mais uma vez se coloca no centro do dream pop contemporâneo ao construir belas paisagens sonoras, desta vez com pitadas estéticas e timbristicas da década de 1980. Atenção para todas as camadas de arranjo e produção, reveladas a cada nova audição. Vale dizer que o viés emotivo das composições não soa banal. É um trabalho sincero e cuidadoso). Pink Funeral
- Beak>: KOSMIK MUSIK (O projeto do Geoff Barrow se joga na tradição do space rock/rock progressivo/krautrock via peças rockeiras viajantes, calcadas principalmente nos sintetizadores. Sem destaque, são 20 minutinhos de uma imersão delirante).
- billy woods x Messiah Musik: Church (Engraçado que, antes de ouvir o disco, tinha visto um vídeo pouco elogioso do Anthony Fantano ao álbum. Ouvi e tive uma visão oposta. O fato de causar diferentes sentimentos já é algo a se admirar. Mas em mim, o que senti positivo foi o rapper se esticando e contraindo ao rimar em cima de beats abstratos, espaçados e solúveis. Alguns momentos parece até que sua voz foi registrada antes da criação das batidas. Tudo mera percepção. De fato apenas a minha admiração pelo estranho resultado aqui alcançado). Fever Grass
- Boris: W (Mesmo quando a intenção é soar gélido e “tranquilo”, dá para visualizar a intensidade da execução e o volume hipnotizante que esse grupo extrai de seus instrumentos. Drones atmosféricos e brutais são intercalados com algo próximo ao dream pop. É desolador (num bom sentido)). I Want To Go To The Side Where You Can Touch…
- Boris: Heavy Rocks (2022) (Aqui vocês já sabem como funciona, né? É o Boris se lançando em cacetadas rockeiras, com puta riffs, guitarras volumosas, timbres imundos e a pegada certeira de (quase) sempre. Eu adoro). Ghostly imagination - Bruno Berle: No Reino dos Afetos (É interessante ver a incorporação de estéticas sem gênero definido e produções lo-fi, que tanto permeiam o rock alternativo internacional, aqui integrada a uma linguagem de canção brasileira. O resultado é terno, melodioso e com certa ingenuidade na produção que, programada ou não, musicalmente funciona bem). Quero Dizer - Budang: Astrologia, Destinos e Salmos EP (Uma fusão parruda de hardcore com metal - sem ser crossover nem metalcore -. Uma paulada que sempre valorizarei enquanto ocorrer no Brasil. Tem lampejos de criatividade e humor). Etiqueta
- Destroyer: Labyrinthitis (É impressionante a capacidade do grupo em soar tão oitentista quanto contemporâneo. Mesmo os momentos mais densos são seguidos de batidas e baixos dançantes à la New Order, mas com uma “organicidade” e peso atual. Fora que o Dan Bejar é um, goste ou não, vocalista e compositor de personalidade. Melhor disco do grupo em tempos). Eat The Wine, Drink The Bread
- DOMi & JD BECK: NOT TiGHT (O mais badalado duo instrumental da atualidade em seu primeiro álbum, logo de cara pela Blue Note. Transitando entre um jazz fusion e o r&b contemporâneo, as duas debulham seus respectivos instrumentos (teclado e bateria) numa sintonia perfeita. É tecnicamente desconcertante. Todavia, devo confessar que não achei as faixas vocais tão inspiradas, mesmo trazendo gente talentosa como o Anderson. Paak. Quem também participa do disco é o Thundercat, Herbie Hancock, Snoop Dogg, Busta Rhymes, Kurt Rosenwinkel e Mac DeMarco. Nada mal e com a promessa de soar ainda melhor no futuro). WHATUP
- Dream Widow (Foo Fighters): Dream Widow (Trilha-sonora de um filme de terror que o Foo Fighters produziu. As faixas são muito legais, bebendo diferentes fontes do heavy metal, soando curioso, divertido, intenso e sem ser mera caricatura. Triste pensar que esse pode ser o último projeto do grupo). March Of The Insane - Dry Cleaning: Stumpwork (Confesso que não me pegou de primeira. Muito até por conta do meu inglês torto, que sempre atrapalha quando me deparo com trabalhos de spoken word. Todavia, por conta do seu instrumento, com ótimas guitarras e até mesmo certa influência de Slint, o álbum foi crescendo em mim até admirá-lo com convicção. Boa sequência à aclamada estreia. Agora, a capa é de mau gosto). Driver’s Story
- Ecko Bazz: Mmaso (Diretamente de Uganga, esse rapper traz a atmosfera violenta do país em seu trabalho verborrágico, eletrônico e voraz. Sua voz na cara não deixa espaço pra respirar. Fora que os beats, com doses de grime, são bastante criativos. Discão). Mmaso
- Everything Everything: Raw Data Feel (O poperô que deu certo. Chama atenção como o grupo abusa de elementos chatos da dance music para criar canções cativantes. Isso ocorre por conta das boas melodias, de interpretações vocais esquisitas/carismáticas, flerte com a new wave e boas produções. O uso de IA na composição acaba sendo um diferencial bem sucedido). Teletype
- Florist: Florist (Confesso que eu demorei (umas 5 audições) pra embarcar minimamente na proposta do disco. É que ao mesmo tempo que me agradavam as composições, eu me dispersava em meio a sua proposta quase íntima, em que o grupo parece estar registrando uma demo. Mas não se engane, embora cru (e quase lo-fi), há uma cristalinidade rústica na captação. Outro fator inicialmente problemático foram as abstratas vinhetas, que no decorrer das audições deram textura sonora e dramaticidade narrativa ao trabalho. A voz da cantora é lindíssima. Resumidamente, uma obra densa de canção popular americana (com um pé no folk e no dream pop). De beleza difícil). 43
- foxtails: fawn (Instrumentalmente parece um disco de indie rock. Vocalmente e liricamente beira o screamo. Desta surpresa temos uma sequência de faixas intensas e cheias de personalidade. Tem beleza e angústia. Adoro os momentos “chamber” (com direito a violinos), soando como se os integrantes do Arcade Fire tivessem passando por um momento difícil. Isso ao menos na primeira parte, visto que no final mais parece um Slint do inferno. Esquisito, intenso e belo). space orphan
- Freddie Gibbs: $oul $old $eparately (Ao contrário de seus últimos trabalhos, o rapper se une a diferentes produtores em cada faixa (The Alchemist, James Blake, Madlib, DJ Paul, dentre outros), trazendo ao disco uma variedade timbristica e de concepção, embora coesa via a voz, flow e temática “frenética” do Freddie Gibbs. Tem muitos momentos ganchudos que fazem até mesmo eu, um não tão adepto do pop rap, ser arrebatado pelas canções. Bem legal). Couldn’t Be Done
- Gilla Band: Most Normal (Nenhuma surpresa, mas essa combinação de noise rock, pós punk e pitadas de Ministry faz muito minha cabeça. Tem urgência e timbres ferozes. Tem minha atenção). Backwash
- Ginger Root: Nisemono EP (Se o city pop tá na crista da onda, nada mais natural que a sonoridade se manifestar em artistas contemporâneos, sendo que esse cantor/compositor americano foi ultra bem sucedido na proposta, apresentando canções ganchudas donas de bons arranjos e produção, trazendo a influência de forma não caricata. Grooveado, colorido e carismático. É puramente bem legal). Over The Hill
- G Jones / Eprom: Acid Disk 2 (EP não menos que estrondoso. Eis uma fusão de techno, hip hop, big beat e dubstep. As produções são volumosas, graves, pulsantes e corrosivas. Fatores técnicos que elevam a força dos ganchos rítmicos e melódicos. Poderoso). On My Mind
- G Jones: Illusory Tracks (O rapaz tá com tudo! Um dos trabalhos mais vibrantes de música eletrônica do ano. É frenético e radiante. Faixa pós faixa, nosso sentido auditivo é exposto a rajadas de timbres (bem sintéticos), melodias e ritmos poderosos. Embaçado). Operator
- Gospel: The Loser (A volta inesperada após mais de uma década de uma banda que sequer conhecia. Só li que era um grupo de post-hardcore e me interessei em ouvir esse disco. Fiquei de cara com a intensidade da execução em cima de composições complexas. Tem até um forte elemento de rock progressivo, com direito a timbres de teclados completamente setentistas. Voraz, criativo e intenso). Hyper
- Hurray For The Riff Raff: Life On Earth (Se nas primeiras músicas fiquei com a sensação de ser um “rock alternativo feminino 90’s” genérico (ainda que bem feito), fiquei surpreso como o disco evolui para canções climáticas, que abrem mão de grandes elementos rítmicos em prol de uma ambientação confortável que coloca as letras em primeiro plano. Um trabalho que cresce a cada audição). nightqueen
- Jack White: Entering Heaving Alive (Fui com baixa expectativa, já que o lado acústico/baladeiro do Jack White não me interessa tanto. Mas sua fase é tão inspirada que ele chegou a boas canções. Há momentos apaixonados, momentos reflexivos, mas acima de tudo, músicas tranquilas que agradam sonoramente). A Madman From Manhattan
- J.I.D.: The Forever Story (Num disco ambicioso, o rapper transmite energia quase paranoica via seu texto e flow riquíssimo. Seria cerebral não fossem os diversos momentos ganchudos, tanto em termos de melodia, quanto de samples. A mixagem é um show à parte. A comprovação de que o J.I.D. está no mais alto patamar do hip hop contemporâneo). Surround Sound
- King Gizzard & The Lizard Wizard: Ice, Death, Planets, Lungs, Mushrooms And Lava (Através de longas canções, o grupo se deixar levar pelo clima jam, em alguns momentos até mesmo remetendo ao Grateful Dead, embora com um carisma próprio. É de certa forma um disco versátil dentro da paleta sonora da banda. Muitos dos melhores momentos guitarristicos do ano e do grupo se encontram aqui). Iron Lung
- King Gizzard & The Lizard Wizard: Laminated Denim (2 faixas, 15 minutos cada. Mais uma vez o clima de jam prevalece. Aqui chama atenção como a banda é bem resolvida, com todos grooveando juntos (que cozinha inclusive, hein!), entrosados, relaxados, soando lindamente viajante e orgânico. É uma banda de verdade. Sem destaque, ouçam as duas canções com atenção).
- King Gizzard & The Lizard Wizard: Changes (De alguma forma, me pareceu um disco meio “Bleatles/ELO” do KG&LW. Talvez por ser doidão e psicodélico, mas também calcado em canções, melodias e bons grooves. Mas pra não ser meramente pastiche, eles também arriscaram em timbres bem “provocativos” (na falta de uma palavra melhor). Adorei a foto da capa). Hate Dancin’
- King Princess: Hold On Baby (Após transformar o som da Taylor Swift, Aaron Dessner (The National) faz agora da parceria com a King Princess uma plataforma para suas experimentações dentro do indie pop. Mais que pelas composições (que tem boas melodias), o disco funciona por sonoridades, timbres, arranjos e produção. Lembrando que o Mark Ronson também está envolvido na produção. Nada de tão especial, mas que se sua filha de 14 anos estiver escutando pode ficar orgulhoso). Crowbar
- Kikagaku Moyo: Kumoyo Island (Até onde consta, é o disco de despedida desse ótimo grupo, que trouxe o Japão para o holofote da psicodelia contemporânea. Aqui há ótimas canções, com grooves certeiros, influência de melodias orientais e guitarras delirantes. Ouvir e lamentar o fim é inevitável). Yayoi, Iyayoi
- Larkin Poe: Blood Harmony (A dupla continua sendo um deleite para os fãs de sonoridade vintage de blues-rock. Honestamente nem considero as composições memoráveis, mas tem ótimos timbres, riffs e solos de slide. É o que espero delas, é o que tive. Tá bom). Bolt Cutters & The Family Name
- Leikeli47: Shape Up (Não conhecia o trabalho da artista, mas fui de imediato arrebatado para o seu rap cheio de groove e peso. As batidas são divertidas e sacolejantes. Seu flow também tem muito carisma. Há ganchos memoráveis, timbres saturados e uma modernização do hip hop que era feita na virada do milênio. É bem legal). Chitty Bang
- Lizzo: Special (Embora inferior ao anterior, o carisma interpretativo da artista é tanto que eleva até mesmo as canções menos inspiradas. Há menos de disco music (que ainda dá as caras) e mais de produções com cara contemporânea, caminhando entre o pop e o r&b. Som descompromissado, dançante, de festa, pra se divertir e se motivar). About Damn Time
- LustSickPuppy: AS HARD AS YOU CAN (Ah, coisa de jovem maluco né. Um rap-eletrônico-hardcore ultra saturado e visceral. Beats doidos, timbres frenéticos, vozes berradas… 12 minutos de pura onda sonora cáustica. Obs: é o GG Allin na capa?) AS HARD AS YOU CAN
- Megan Thee Stallion: Traumazine (O fato dela ser uma estrela dentro da indústria musical americana faz com que muitas vezes eu olhe com desconfiança e/ou falta de interesse para seu trabalho. Todavia, superado esse preconceito e disposto a audição, sempre fico surpreso com seu flow afiado. Sua voz é consistente e provocativa. Gosto também como os beats trazem uma atmosfera sombria ao trap. Claro, ao longo dos 51 minutos há derrapadas, mas no geral o resultado é surpreendente). Not Nice
- Meridian Brothers & El Grupo Renacimiento: Meridian Brothers & El Grupo Renacimiento (Não esperava me surpreender com um disco de salsa em pleno 2022, mas esse grupo colombiano consegue com destreza e personalidade trazer relevância ao gênero via composições politicamente combativas, que não soam meramente panfletárias por virem embaladas em ritmos dançantes, complexos e quentes. Que a atenção ao pop latino se volte a esse grupo. Bem legal). Metamorfosis
- Metro Boomin: Heroes & Villains (O rapaz chamou um time de peso (Travis Scott, Young Thug, 21 Savage, The Weeknd, dentre outros) e entregou o que se espera dele: produções encorpadas, pulsantes e cristalinas de pop rap/trap. Se for sua onda não tem erro). Umbrella
- Michael Head & The Red Elastic Band: Dear Scott (O já experiente cantor-compositor centraliza suas canções no violão, elevando as músicas em arranjos elegantes, que de certa forma oxigenam o power pop e britpop). Gino And Rico
- Michael Schenker Group: Universal (Vou confessar que ouvi discos clássicos do MSG antes de escutar esse e fiquei com a sensação que o grupo (ou o guitarrista) envelheceu muito bem. Tem ótimos riffs e solos, tanto no que diz respeito à composição quanto à execução. Simon Phillips (baterista) e Ronnie Romero (voz) também entregam ótimas performances. Tudo isso pra dizer que é um disco que convence. Mas fica o adendo, é recomendado somente para quem gosta daquele hard-heavy tipicamente oitentista). Sad Is The Song
- MJ Lenderman: Boat Songs (Traga doses nada moderadas de Wilco, Dinosaur Jr. e Neil Young para canções de apelo jovem dentro de um formato “classic rock”/alt-country. Parece improvável, mas o resultado é espontaneamente encantador. Além das composições serem divertidas e cativantes, há guitarras sujas que tanto adoramos. A produção soa tão volumosa quanto acolhedora. Facilmente um dos discos de rock mais legais deste ano). Toontown
- Mukeka di Rato: Boiada Suicida (Apresentando novo vocalista, o Mukeka continua preservando sua energia avassaladora em faixas freneticamente (e surpreendentemente) melódicas e bem desenvolvidas. A produção é encorpada e suja na medida do confortável. Um grito de esperança e uma pá de terra em forma de hardcore em cima do governo Bolsonaro). Moderna Idade
- Nas: King’s Disease III (Não tem como, quando o Nas se esforça um pouquinho só, ele revela que, no quesito flow e sagacidade na escrita, é difícil bater de frente com ele. Rap old school que não soa retrô. Simplesmente Nas). Michael & Quincy
- Natalia Lafourcade: De Todas Las Flores (A cantora mexicana mais uma vez apresenta seu lirismo interpretativo (que voz!) em canções de arrojo e, até mesmo, certa densidade (principalmente na primeira metade), presente nos arranjos orquestrados altamente climáticos, que elevam a raiz folk das composições. A gravação é tão vívida que parece executada ao nosso lado. Disco lindíssimo, perfeito para nos acompanhar por longas noites solitárias). De Todas Las Flores
- NervoChaos: All Colors Of Darkness (Sem enrolação, esse consistente grupo de São Paulo apresenta em pouco mais de 30 minutos o que há de mais agressivo no death metal. Tudo com uma produção moderna comparável ao que há de melhor neste segmento no mundo. Bruto, liricamente escuro e muito bem tocado. Recomendado para os fãs do gênero). Suffer In Seclusion
- Nilüfer Yanya: PAINLESS (Mais arrojado que seu álbum de estreia, aqui vemos a jovem artista de indie rock explorando instrumentalmente diferentes texturas. Em alguns momentos até mesmo me lembrou o trabalho do Beck e do Radiohead (dada as devidas proporções). Muito disso é mérito da produção. Fora que há ritmos bem construídos. É verdade, nem todas as composições são grande coisa, mas ainda assim parece sempre haver algum elemento sonoro atrativo). midnight sun
- Odradek: Liminal (Ótima banda de Piracicaba em mais um excelente trabalho, calcado em riffs encorpados, interferências eletrônicas e muita quebradeira. Curiosamente, esse álbum me remeteu ao que alguns grupos de math rock contemporâneos têm produzido, vide o Polyphia. Claro, é menos virtuoso, mas é um paralelo que eu não sentia nos discos anteriores. Vale dizer que isso é feito de forma consistente, espontânea e primando por um desenvolvimento construtivo das faixas, não se rendendo a mero exibicionismo). Canary Wharf
- OFF!: Free LSD (Não menos que entusiasmante ouvir uma banda liderada pelo Keith Morris num dos trabalhos mais criativos de punk rock dos últimos anos. Além da pegada e captação visceral, chama atenção os elementos composicionais, que vão de letras distópicas quase surreais, passando por riffs excelentes (alguns que remetem ao Mastodon) e até mesmo vinhetas de free jazz. A mudança de formação trouxe maior liberdade pra banda. Foda). Black Widow Group
- Open Mike Eagle: Component System With The Auto Reverse (O talentoso rapper continua entregue a emoção em suas rimas contundentes. Mas o que mais gostei foi a vasta paleta de beats, indo desde momentos de jazz rap, boom bap, abstratos… tudo com bom gosto, personalidade e audácia. Capa maneira. Ótimo samples. Bonzão). Burner Account
- Orville Peck: Bronco (Muito legal e, de certa forma inusitado, ver um artista abordando temas LGBTQIA+ dentro da country music. Isso não de maneira panfletária, mas carismática e musicalmente inspirada, com direito há memoráveis melodias, bons arranjos e até mesmo uma interpretação e timbre vocal destacável. Claro, tem algumas gordurinhas no repertório, mas no geral é bem positivo). C’mon Baby, Cry
- Oso Oso: Sore Thumb (Não tinha visto grande graça no álbum anterior deste projeto encabeçado pelo Jade Lilitri, mas não é que embarquei nesse disco. Tem composições pegajosas e criativas dentro de uma estética “pop punk esquisita”. É bacana). computer exploder
- Otoboke Beaver: Super Champon (A combustão punk nada ortodoxa do grupo se mantém inflamável neste segundo trabalho igualmente explosivo ao debut. Ainda assim, é possível sentir certa evolução composicional. Execução e timbres ferozes. Disco curtinho. Eu adoro). I won’t dish out salads
- Palm: Nicks And Grazes (O grupo já nasceu soando intrincado e diferentão. Sendo assim, para onde evoluir? Sabiamente trouxeram para dentro de suas composições timbres mais amplos (metálicos, luminosos, estranhos), explorando as melodias angulares e ritmos tortos de maneira ainda mais desconcertante. Nem todas as faixas funcionam, mas só pela proposta já acho um grande acerto). Eager Copy
- Perfume Genius: Ugly Season (Embora recebido como um disco de art pop, aqui o artista se afasta do pop, buscando sonoridades complexas na música erudita contemporânea, criando belas e abstratas paisagens. O resultado é uma produção rica em texturas. Sua performance vocal dolorosa chega na alma. Um disco explicitamente belo). Teeth
- Planet Hemp: JARDINEIROS (Em seu primeiro disco em mais de duas décadas, o Planet Hemp demonstra ser a banda mais relevante da sua geração. É um disco com altos e baixos, mas que tem como principal (e grande) qualidade, não soar preso ao passado. Os riffs se mesclam à interferências “modernas” e versáteis ao som do grupo. As letras não surpreendem, mas também não dizem nada de errado ou, o pior, constrangem (algo nem tão incomum ao rock brasileiro). Tem energia, tem valor, tem risco, tem minha atenção). MEU BARRIO
- Polyphia: Remember That You Will Die (A guitarra shred sobrevive neste grupo graças não só ao talentos dos guitarrista, que tão tocando (a.k.a. milimetricamente editado) muito, mas também focando as composições/produções em estéticas contemporâneas (tem pitadas de k-pop e trap, por exemplo). Eles fazem isso não como mera forma de se diluir em favor da indústria, mas como referências genuínas de jovens que, apesar de todo o virtuosismo, ainda usam a música como instrumento de diversão). Neurotica
- Porcupine Tree: Closure / Continuation (Após mais um década em silêncio, um trabalho que coloca o grupo novamente no centro do rock progressivo. Tem alguns momentos de excesso, principalmente no que diz respeito a bateria do virtuoso Gavin Harrison (que inclusive gostaria que pintasse menos na mixagem), mas no geral é um disco muito bem construído). Harridan
- Primitive Man: Insurmountrable (Me impressiona o peso e a ferocidade que a banda alcança em suas gravações, tanto no que diz respeito aos timbres, mas principalmente a interpretação, vide o gutural monstruoso do vocalista. É um metal extremo denso, apocalíptico, fúnebre, cavernoso, arrastado… É o inferno). Cage Intimacy
- PUP: THE UNRAVELING OF PUPTHEBAND (Pode um álbum de pop punk ser ambicioso? Claro que sim! Com diferentes abordagens sônicas, o PUP reuniu um repertório consistente e atraente. Tem momentos que captam a atenção do ouvinte pelo fator inusitado, ainda que sem soar presunçoso. Vigoroso). Matilda
- Pusha T: It’s Almost Dry (Disco relativamente curto, trazendo o rapper com seus históricos parceiros (Kanye West e Pharrell Williams) em produções inspiradíssimas. São faixas cativantes, até mesmo dançantes, com beats ganchudos e performance vocal calorosa (e cocainômana). Sem invencionismo besta, mas sem soar rasteiro. O pop-rap deveria ser sempre assim). Dreaming Of The Past
- Quadeca: I Didn’t Mean To Haunt You (Se não falha minha memória, não conhecia o trabalho do artista, mas fiquei surpreso como esse disco constrói momentos etéreos diante de canções pop contemporâneas que não se prendem a fórmulas. Não é precisso esforço pra reconhecer a simbiose de gêneros como pop, rap, eletrônico e até mesmo folk. Ótima produção. Criativo, acessível, belo e arrojado). picking my hands
- Quelle Chris: Deathfame (Apostando numa produção mais abstrata (tanto no que diz respeito à construção de beats quanto a mixagem) e em rimas contínuas que soam como um fluxo hiperativo de consciência, o rapper chegou ao seu talvez disco mais complexo. Tem criatividade, humor, engajamento político e escuridão. É excelente). Feed The Heads
- Rachel Chinouriri: Better Of Without EP (4 faixas de música pop aconchegante, colorida e carismática. Bons timbres e uma interpretação diferenciada da moça. É o suficiente para ser memorável). Better Of Without
- Rachika Nayar: Heaven Come Crashing (Em posse de guitarra, efeitos e manipulação, essa jovem artista cria uma instalação sônica etérea cheia de texturas. Pode parecer cabeçudo (e é um pouco), mas na verdade há grande poder de persuasão nas escolhas timbristicas e melódicas. Em alguns momentos, ela chega até a arriscar batidas dançantes. Bonito, profundo e viajante. Sem destaque, o lance é o todo).
- Ratos de Porão: Necropolítica (O bolsonarismo e o coronavírus criaram uma combustão criativa no grupo que percorre pela temática de todo o disco, gerando momentos que não necessariamente jogam luz no problema, mas explicitam o sentimento de raiva e angústia. Isso acompanhado de um direcionamento mais cru nos arranjos se comparado aos últimos trabalhos, mas igualmente feroz, urgente e pesado). Guilhotinado Em Cristo
- Red Hot Chili Peppers: Unlimited Love (Após uma sequência de discos fraquíssimos, a volta do John Frusciante criou uma inevitável expectativa. A resposta do grupo veio através de um disco nada presunçoso. Alguns momentos parecem até pouco “trabalhado”, soando como simples jams que viraram canções sem muito rodeio. De algum modo, achei isso legal, mesmo que nem sempre de resultado inspirado, principalmente liricamente (Anthony Kiedis tá em queda já faz bom tempo). Pra contrabalancear os deslizes, todos estão tocando muito bem e a produção (orgânica, encorpada, cristalina) dentro de uma estética “banda de rock” é perfeita. O saldo final é positivo, grande parte disso por memória afetiva). These Are The Ways
- Red Hot Chili Peppers: Return Of The Dream Canteen (Se eu já tinha me empolgado com o disco anterior, neste que é bem melhor resolvido eu embarquei geral. É interessante notar algumas escolhas harmônicas e de desenvolvimento das canções pouco óbvias. Aqui o Frusciante realmente toma conta. Arrisco dizer que tem alguns dos melhores solos da sua carreira. O Flea também demonstrou amadurecimento na criação das suas linhas. A gravação (ainda da mesma sessão do trabalho anterior) é impecável. Tem gordurinhas, claro, mas é o melhor disco do grupo neste século). Fake As Fu@k
- Rex Orange County: WHO CARES? (Não imaginei que gostaria do indie pop inofensivo deste artista, mas aqui as composições me pegaram. Simplesmente me envolvi com as melodias e até mesmo com sua interpretação contida (e por vezes falha). É legal também os elementos de r&b, assim como as orquestrações (provavelmente de VST’s) embelezando os arranjos). OPEN A WINDOW
- Richard Dawson: The Ruby Cord (De cara devo dizer que, embora adore a proposta, não posso afirmar que embarquei nos 40 minutos da faixa inicial, um folk prog por vezes bonito, por outros entediante. Todavia, adorei o restante do repertório, onde mais uma vez ele demonstra ser um dos maiores representantes do progressivo atual. É um trabalho belo, provocativo e complexo. Tanto musicalmente quanto liricamente. Adoro sua voz (mesmo nos estranhos falsetes) e seus inusitados caminhos melódicos. Fora que tem cada arranjo, que exploram com sabedoria sonoridades acústicas. E ainda vale uma reflexão: imaginem o Iron Maiden fazendo uma versão para “The Tip Of An Arrow”). The Fool
- Richard Thompson: Music From Grizzly Man (Trilha sonora de um filme do Herzog que honestamente sequer assisti. Só sei que ouvir, no escuro, as guitarras deste veterano guitarrista é um deleite. Há momentos de ambientações rurais etéreas. Majestoso. Jim O’Rourke e Henry Kaiser colaboram com o projeto. Sem destaque, o lance é o todo).
- Rina Sawayama: Hold The Girl (Talvez por não estar esperando grande coisa, tive uma grata surpresa escutando esse disco. Ela abriu mão das influências de new metal e trouxe elementos mais comuns de pop rock ao seu pop quase rasteiro, que soa como o que a Lady Gaga adoraria fazer, mas sempre derrapa. Adorei sua voz e interpretação. Boa produção. Bonita capa. Exitoso). This Hell
- Roc Marciano / The Alchemist: The Elephant Man's Bones (Num perfeito equilíbrio entre temas sinistros e escolhas sonoras de pouco alvoroço, esse álbum faz da parceria uma pérola tanto no que diz respeito a escolha dos beats quanto ao flow tão sóbrio quanto conciso do Roc. Poderoso). Quantun Leap
- Smino: Luv 4 Rent (Até para mim que não sou lá muito chegado em r&b contemporâneo/pop rap masculino, ficou nítido que o Smino é uma voz diferenciada dentro do gênero. Em cima de bases envolventes, ele não menospreza o flow. O resultado é uma sequência de boas canções e poucos deslizes). Pro Freak
- Spear Of Cassius: Visions Of A Fragmented World (Sabe o que isso parece? “Banda de um homem só” formada por algum moleque rejeitado que no seu quartinho vociferando todo seu ódio. Gosto deste esperito. Metalcore, grind, screamo… tudo numa sujeira só). Oxygen Destroyer
- Special Interest: Endure (Um álbum que evolui conforme desenvolve, ganhando tensão peculiar. Em alguns momentos parece o que aconteceria se uma banda de pós punk executasse um repertório de pop contemporâneo. Em outros são “apenas” timbres corrosivos (principalmente de baixo) e performances abrasivas (principalmente vocal) recheadas de carisma. Doidera eletro rocker radiantemente soturna). My Displeasure
- Spoon: Lucifer On The Sofa (Das bandas já veteranas de indie rock que despontaram neste século, o Spoon é das que se mantém melhor. Aqui eles apresentam um rock n’ roll genuíno, volumoso, carismático e, dentro do possível, até mesmo versátil. Ótima execução e timbres, principalmente no que diz respeito as guitarras. Nada que vá mudar o mundo, mas que pode melhorar seu dia). Head
- SPY / Maniac: Split (As duas bandas dividem esse split que pode ser considerado um dos momentos mais pesados de hardcore deste ano. Simplesmente um soco no peito. Bruto e ruidoso. Sem destaque, ouça tudo, é curtinho).
- Superorganism: World Wide Pop (Sendo bem sincero, nem foram as composições que chamaram minha atenção neste álbum, mas sim a energia corrosiva despejada nos arranjos e na produção, escolhendo timbres inusitados e mixagem volumosa. Mesmo a interpretação vocal vem carregada de uma alegria abrasiva. É um disco pop torto/psicodélico e tecnicamente explosivo. Atente-se a participação do Stephen Malkmus). Everything Falls Apart
- Tears For Fears: The Tipping Point (Estou numa fase de adorar Tears For Fears, de modo que veio a calhar um disco de inéditas após quase duas décadas. E por mais que as canções não sejam tão memoráveis quanto de outrora, a qualidade/maturidade composicional, de execução e produção continua afiada. Um trabalho bastante orgânico, tanto na escolha dos timbres, quanto na interação dos dois integrantes. Transmite bons momentos). No Small Thing
- Thaiboy Digital: Back 2 Live (O pop trap do artista está longe de apresentar grandes qualidades formais, ao menos tempo que soa no decorrer de todo disco pegajoso e agradável. Seja sua voz com traços e pop punk, a mixagem cheia de texturas ou os ganchos melódicos, tudo funciona muito bem). True Love
- The 1975: Being Funny In A Foreign Language (O disco do grupo que mais gostei. Embarquei na proposta de uma música pop com faro oitentista, mas de produção robusta/cristalina/contemporânea. A mão do Jack Antonoff sem dúvida foi fundamental para esse acabamento. Claro, tem algumas escorregadas, que soam como se o Maroon 5 acertasse a mão (“I’m In Love With You”). Por sua vez, “Part Of The Band” tem algo de Peter Gabriel. No geral, nada que vá mudar o mundo, mas com bons momentos). Looking For Somebody (To Love)
- The Brian Jonestown Massacre: Fire Doesn’t Grow On Trees (Costumo gostar mais dos discos recentes deste grupo liderado pelo Anton Newcombe do que seus trabalhos longínquos. Esse é mais um exemplo disso. Os ritmos hipnóticos e distorcidos (quase drones) criam nuvens garageiras que intoxicam o ouvinte. É sujo, viajante e através das composições estabelece um elo com nossas memórias rockeiras. Fora que tem cada guitarra (pra quem gosta de fuzz é prato cheio). Gosto muito). You Think I’m Joking?
- The Comet Is Coming: Hyper-Dimensional Expansion Beam (Não são muitos discos calcados no jazz que são capazes de levantar uma pista. Via elementos eletrônicos, o trio traz uma combinação de timbres explosivos e pulsantes que formam uma aura/forma hipnótica, remetendo tanto ao jazz, quanto à música eletrônica. Isso com boas composições e performance calorosa. Bem bom). ATOMIC WAVE DANCE - The Cult: Under The Midnight Sun (Confesso que eu já tinha largado mão da banda. Mas ouvi tantos elogios a esse disco que decidi dar uma conferida. Embora não tenha canções tão memoráveis (nessa altura do campeonato é difícil mesmo), achei que eles tão maduros. Curioso que, se no passado eles atiraram tanto pro gótico quanto pro hard rock, agora eles chegaram num híbrido de resultado sônico de muito bom gosto. E como o Billy Duffy toca, não?). Knife Through Butterfly Heart
- The Garden: HORSESHIT ON ROUTE 66 (Cheguei pela capa (meio glam, meio black metal). Pouco mais de 20 minutos de uma doidera que funde punk rock crust, indie rock e até mesmo intervenções de drum and bass. Tudo com uma energia descomunal. Ao que consta, a isso se dá o nome de “vada vada”. Tem timbres saradíssimos adoráveis. Acho maneiro). What Else Could I Be But A Jester
- Tropical Fuck Storm / King Gizzard & The Lizard Wizard: Satanic Slumber Party (Duas das melhores bandas do rock australiano atual reunidas num trabalho ruidosamente inventivo. É sujo, divertido, psicodélico, voraz e abstrato (principalmente a última longa faixa). Curioso). Satanic Slumber Party Part 2
- Viagra Boys: Cave World (A banda dá um passo à frente e incorpora novas sonoridades ao seu “rock básico”. Há muitos elementos dançantes e eletrônicos colorindo o disco (fora o já conhecido e fantástico sax). É especial como a banda trata temas sérios divertidamente, escorraçando a estupidez do nosso tempo. Para completar, o Sebastian Murphy traz performances intensas que ora ou outra remete ao Nick Cave. Fodão). Ain’t No Thief
- Xênia França: Em Nome da Estrela (A MPB numa nova forma criativa, contemporânea e pop, trazendo os tão em voga tambores da África em produções com fortes elementos eletrônicos. Isso, claro, em cima de boas canções e uma voz elegante. Produção redondíssima). Interestelar
- Weezer: SZNZ: Summer EP II (Todo mundo odiou, mas não eu. Trazendo mais peso, volume e astral, esse EP ao menos me animou. É daqueles momentos exitosos da banda de quando consegue soar divertida e encorpada. Isso combinando boas guitarras à arranjos quase chamber pop (quando não pop punk). Bacana, também por conta da curta duração). Lawn Chair - Weezer: SZNZ: Winter EP IV (Do projeto das estações do Weezer, provavelmente esse é o único que vou voltar para ouvir. Interessante perceber os melhores momentos da banda na última década é apostando nessa sonoridade “chamber pop”, aqui com momentos mais descontraídos e até mesmo ótimas guitarras. É bacana).
- Westside Gunn: 10 (O homem por trás da Griselda reúne um punhado de gente legal (Black Star, Run The Jewels, Benny The Butcher, dentre outros) num repertório consistente, onde se por lado não há grande surpresa, por outro mostra que ainda é possível explorar musicalmente o gangsta rap). Peppas
- Weyes Blood: And In The Darkness, Hearts Aglow (Uma sequência natural ao espetacular disco anterior. Os maravilhosos arranjos de chamber pop se mantêm cristalinos. Algumas melodias soam mais previsíveis, mas são escolhas tão certeiras que não tenho como reclamar. Agora, um salto de qualidade são as performances vocais, agora ainda mais arriscadas e exuberantes. Pena que há algumas escorregadas composicionais, principalmente na parte final (“Twin Flame” é impressionantemente ruim). Bem bom quando bom). Hearts Aglow
- 3rd Secret: 3rd Secret (Convenhamos, não tivesse na formação Krist Novoselic, Matt Cameron e Kim Thayil, esse disco não teria repercussão alguma. Mas não me entenda mal, as canções funcionam. Tem uma melancolia grunge em detrimento ao esporro que eu esperava ouvir. Gostei da interpretação da cantora. É bacana e só).
- Alex G: God Save The Animals (Álbum que recebeu certa aclamação, mas que confesso não ter embarcado na proposta. Até gostei bastante dos momentos mais abstratos, dos timbres mais corrosivos e menos ortodoxos (vide a ótima “Blessing”), mas no que diz respeito às composições, pouco me apeteceu. Inclusive achei algumas melodias bem cansadas. Forte em conceito, franco em canção).
- Alex Cameron: Oxy Music (Eu adorei o disco anterior, de modo que neste me decepcionei. Achei pouco inspirado, ainda que seus vícios sejam um tema interessante a ser explorado. O problema é que musicalmente tudo desceu de nível: as interpretações vocais, as melodias, os arranjos (agora é um soft-rock sem a ironia de outrora), a produção. Não chega a ser ruim (embora algumas baladas forcem a barra), mas é fraquinho).
- Angel Olsen: Big Time (Por mais que tenha uma beleza cristalina, com direito a arranjos cuidadosos dentro do contexto da música country, confesso que achei a experiência do disco um tanto quanto arrastada. Falta paixão interpretativa. Dentro de toda a versatilidade discográfica da artista, essa foi uma das propostas que menos me interessou).
- Animals As Leaders: Parrhesia (Eu gostei muito do álbum anterior, de modo que vi com decepção essa volta para momentos meramente virtuosos e tortos. Faltam bons ganchos. Dito isso, é ultra bem tocado, recuperando minha memória adolescente de sons guitarristicos).
- Arctic Monkeys: The Car (No álbum anterior (sei lá o que & Casino), eu gostei da proposta de trazer orquestrações à la Serge Gainsbourg para o som do grupo. Era um risco que, em boas canções, se revelou assertivo. Já seguros desta estética, The Car é menos atraente. Tem bons arranjos, timbres orgânicos e uma influência bem vinda de Bowie, mas essa voz empostada de barítono do Alex Turner é canastrona demais, atrapalhando qualquer experiência positiva que o disco poderia proporcionar. Fora que tem umas canções arrastadas demais. No geral, morno).
- Baco Exu do Blues: QVVJFA? (Dentro do cenário de “pop-rap” nacional, o Baco Exu é realmente um destaque. Mesmo diante de algumas escorregadas, é visível seu capricho lírico e nas produções, aqui bastante climáticas. Não é exatamente a minha onda, mas funciona).
- Bad Bunny: Un Verano Sin Ti (Mais uma vez o artista porto-riquenho demonstra ser diferenciado quando o assunto é o pop latino contemporâneo. Ele consegue equilibrar momentos ganchudos, dançantes e coloridos com produções criativas (quase psicodélicas) e pequenas experimentações composicionais. O problema é que nem tudo é acerto, sendo que ao longo das 23 faixas (!!!) tem escorregadas, tornando a audição do disco irregular. Melhor montar uma playlist com as prediletas).
- Beth Orton: Weather Alive (Confesso que não acompanho a discografia da já veterana artista, de modo que me surpreendeu negativamente sua voz frágil a ponto de soar "pouco musical" (parâmetro ultra subjetivo). Por sua vez, o instrumental é dos mais elegantes ao abordar na atualidade trejeitos do trip hop. Bons grooves, timbres e texturas. Somando tudo o resultado é anticlimático. Foi muito elogiado. Vale novas audições futuramente).
- Biosphere: Shortwave Memories (O veterano produtor em mais uma amostra da sua interessante fusão do techno com a música ambient. O resultado é hipnótico e de belas texturas, ao ponto que em alguns momentos fiquei disperso. É que é muito longo).
- Black Pantera: Ascensão (Queria gostar, mas não consigo. Ok, eles têm atitude, têm peso… mas as composições são fracas, tanto no que diz respeito as letras quanto aos riffs. A interpretação vocal pende para uma caricatura besta de heavy metal. De ponto positivo está o fato de cantarem em português, os timbres de baixo e a intensidade da execução instrumental, o que geral alguns poucos destaques (vide “Revolução É O Caos”). Espero honestamente que a banda evolua. Ao vivo talvez já funcione melhor).
- Bladee / Ecco2k: Crest (Já deixo claro: não gostei do disco. Entretanto, tê-lo escutado logo após ouvir o terrível álbum novo do MGK ressaltou diversas qualidades: o flerte com texturas de música ambient, a não pasteurização composicional e a produção fora da curva. Dito isso, não entra na minha cabeça as interpretações e, pra ser mais sincero, o resultado em si. Simplesmente não entendo a estética. Tô velho pra isso).
- Bladee: Spiderr (Embora tenha gostado de seu aperfeiçoamento composicional (tem momentos bem ganchudos) e até mesmo interpretativo (ressaltado nas melhores melodias), não posso dizer que embarquei na proposta como um todo. É uma sonoridade de pop moderno esquisito que é muito dificil pra mim. Mas tem sua onda).
- Blood Red Shoes: Ghosts On Tape (É engraçado como, do mesmo modo que soa intensa a proposta de rock acessível com timbragens sintéticas, soa também bobinho. É muito bem mixado, tocado e até mesmo ganchudo, mas é também ultra pastiche. Tem carinha de rock moderno dos anos 2000. Vá por sua conta em risco).
- Burial: Antidawn (4 longas faixas que não me levaram a lugar algum. São colagens eletrônicas com vocalizações e reverberações abstratas. Ao mesmo tempo, é uma proposta experimental que não me permite grandes críticas. Na real, sequer entendi).
- Burial / Four Tet: Nova / Moth (Dois dos nomes mais criativos da música eletrônica contemporânea em faixas que não são ruins, mas também não dizem muito. Esquecível).
- CEO Trayle: HH5 (Nem ruim, nem bom. Até acho bacana o conceito dark das canções aplicado em produções densas. O problema é que não há grandes ganchos, tornando a audição (e são mais de 50 minutos) um tanto quanto monótono).
- Charli XCX: Crash (Após lançar álbuns que a colocaram no centro de um pop “vanguardista”, agora ela volta para o pop “rasteiro” de seus primeiros trabalhos. Claro, ainda há faixas bacanas, mas no geral é pouco instigante).
- Chief Keef: 4NEM (De imediato eu admirei a evolução em termos de instrumentação dentro do trap. Depois adorei a euforia da interpretação. O problema é que ambas as qualidades perdem a força no decorrer do álbum. É bom, mas repetitivo).
- Clava: Sudaméfrica (Embora tenha gostado do trabalho de guitarras e das composições, preciso ser honesto e afirmar que o vocal esganiçado e a limitada produção atrapalhou no resultado final. Uma pena. Mas recomendo pra quem curte hardcore straight edge. Eu vou ficar de olho nos próximos trabalhos).
- Criolo: Sobre Viver (O trabalho mais fraco dentro de uma discografia coesa. Não curto essa estética “mpb-pop com inspiração afrobrasileira” que ele insere em diversas faixas. Prefiro quando ele está fazendo rap ao invés de cantando linhas mais melódicas. Liricamente também não há grandes sacadas. A produção (boa parte junto do Tropkillaz) também não salta aos ouvidos. Não é ruim, mas não é bom. “Quem Planta Amor Aqui Vai Morrer” é a única que verdadeiramente curti).
- death’s dynamic shroud: Darklife (Eu gostei de várias faixas do disco (vide "Judgement Bolt"), mas confesso que muitas delas tomam um rumo quase progressivo que tornam a experiência como um todo massante. Mas não dá pra ignorar que as produções são criativas, estrondosas e repletas de texturas tecnicamente avançadas. Recomendado para quem curte música eletrônica esquisita).
- Def Leppard: Diamond Star Halos (Depois de me surpreender com o novo disco do Scorpions, decidi dar uma chance a outro trabalho que foi vendido como “volta as origens”. O que me esqueci é que mesmo o auge do Def Leppard não me empolga tanto. Mas estão aqui as ótimas guitarras e os refrões poderosos típicos de hard rock oitentistas, assim como as baladas terríveis e a produção polida. Os fãs devem ter gostado).
- Dream Unending: Song Of Salvation (Com alguns momentos ambiciosos, que poderiam receber o rótulo de "progressive doom black metal melódico" (montem esse absurdo na cabeça de vocês), o grupo chega a resultado que, mesmo quando interessantes, nunca que eu me pegaria reounvindo).
- EARTHGANG: GHETTO GODS (Pensando em gêneros como pop-rap e trap, é possível admirar a consistência da produção e até mesmo do lirismo dos rappers (inclusive dos que participam, vide JID, J. Cole e Cee Lo Green), todavia, não dá pra dizer que são faixas que saltam aos ouvidos. Recomendado mais para os fãs do gênero).
- FKA twigs: CAPRISONGS (Em seu projeto mais acessível, a artista abraça tendências do pop americano (trap, r&b, latinidades) sem se render a escolhas tão óbvias, mas inevitavelmente diluindo o som. Tecnicamente tem muitos acertos, mas confesso que não me encantou).
- Future: I Never Liked You (Eu nem ia escutar, mas como fez enorme sucesso, dei uma nova chance. E vou confessar que até achei que começa bem (“712PM” é bem bacana). Tem boas produções e um flow digno dentro do trap. O problema é que tudo vira um autoplágio que dura mais de 1 hora. Fora que ali por volta de “Wait For U” a coisa despenca de qualidade. Essas baladas de trap são um saco. Ou seja, tem seus momentos, mas não são muitos. Tem que caçar).
- Ghais Guevara: There Will Be No Super-Slave (Embora esse rapper seja imponente em sua rimas, confesso que há algo no seu timbre e flow que não me agrada tanto. Parece não ter dinâmica. Por sua vez, a produção, tanto no que diz respeito a escolha de samples, beats e mixagem, traz uma aura cinematográfica quase experimental para o disco. Trabalho naturalmente muito doido e irregular, embora com momentos inspirados).
- Guerilla Toss: Famously Alive (Era um tanto quanto previsível que o grupo iria evoluir e arredondar o som até o ponto de perder parte da graça. Ainda há bons timbres, esquisitices (em menor escala) e uma inteligente apropriação de batidas dançantes. Todavia, o que fizeram no passado é tão mais legal).
- Harry Styles: Harry’s House (Ele é lindo, carismático e mostrou evolução em carreira solo. Todavia, ainda não foi dessa vez que ele acertou no repertório. Tem momentos bem legais (vide a faixa de abertura) e outros bem insossos (vide “Satellite”). A proposta de modernização de um soft rock continua. O resultado é mais uma vez morno).
- Hudson Mohawke: Cry Sugar (Esse produtor explora beats em diferentes nuances e texturas, soando muito bem principalmente nos momentos mais “explosivos” e graves. É um disco versátil, que vai do wonky ao ambient, e que justamente por essa característica, se perde na longa duração. Tem que pescar os melhores momentos).
- Huerco S.: Plonk (Por mais que eu tenha adorado diversos momentos, senti que algumas faixas duram mais do que deveriam, fazendo com que a experiência como um todo soe um tanto quanto arrastada. Ainda assim, vale se atentar às intrincadas construções rítmicas, inteligente uso de filtros como elemento de composição, apropriação da música ambient, dentre outras qualidades técnicas de um produtor talentoso).
- Jason Richardson: II (Um dos grandes nomes da guitarra shred da atualidade em uma amostra de virtuosismo, peso e influência tanto de Meshuggah quanto de John Petrucci. Soa bem, assim como empapuça. O baterista Luke Holland acompanha tudo com eficiência e pouca organicidade. Recomendado só para o nicho de fãs de rock/metal instrumental guitarristico).
- JER: Bothered / Unbothered (Fui ouvir o disco após o Fantano fazer um crítica entusiasmada. Mas por mais que concorde que há energia, talento e propriedade do artista em lançar um disco de ska punk nessa altura do campeonato, confesso que esperava algo mais divertido e estranho. A produção achei tosquinha (embora com tudo “na cara”). No fim pareceu um álbum bacana comum, mesmo dentro de um território pouco explorado atualmente. Pretendo reouvir em breve, as vezes só peguei no momento errado).
- King Gizzard & The Lizard Wizard: Omnium Gatherum (O super produtivo King Gizzard desta vez não propõe uma “nova fase”, mas sim um apanhado geral de tudo que já fizeram. Tem blues, “tameimpalices”, heavy metal, elementos eletrônicos… tudo dentro da sua atmosfera psicodelica tão conhecida. Poderia ser uma ótima ideia, mas para mim ficou soando como um álbum de sobras. Claro que tem seu colorido, carisma e intensidade, mas como um todo é um trabalho menor. Adorei a capa).
- Marília Mendonça: Decretos Reais, Vol.1 (Ao que consta, quando lançado o Spotify travou devido o grande número de acessos. Vi que eram só quatro faixas então fui conferir. Ela tem carisma, os arranjos dentro da proposta são ótimos, “Te Amo Que Mais Posso Dizer” sempre me conquista, a dobradinha “Sendo Assim / Muito Estranho” funciona otimamente… MAS, não vou fingir que é minha onda. Me agrada tanto quanto dispenso).
- Mc Poze do Rodo: O Sábio (Ao mesmo tempo que o disco tem problemas (embora curto, ele perde a força numa tacada só), ficou nítido para mim a evolução do trap/funk brazuca. Há inclusive elementos psicodélicos à la Travis Scott na ótima produção. Mesmo o flow do Poze melhorou bastante. Se eu tivesse 16 anos seria minha onda (tem besteiras líricas típicas da juventude), mas no meu estágio apenas vejo com admiração à distância).
- Meshuggah: Immutable (Uma das bandas do coração num momento menos inspirado, embora sua receita de “peso bruto e moderno + fórmulas rítmicas pouco usuais” continue impressionante. O problema são as composições, que apresentam pouca variação melódica e de dinâmica, o que poderia gerar uma experiência hipnótica nocauteante, mas só soa repetitivo mesmo).
- Metric: Formentera (Essa banda já veterana até alcança momentos majestosos dentro de sua estética “indie rock com um pé no pop”, mas as composições não são memoráveis e a interpretação da Emily Haines fica devendo).
- Mitski: Laurel Hell (Lá na raiz das composições, até consigo ver algumas qualidades, entretanto, me impressionou o quão preguiçoso é esse disco. Interpretação e produção beirando o sonolento. Chega a flertar com o ruim. Queda vertiginosa se comparada ao álbum anterior da artista. Uma pena).
- Panda Bear / Sonic Boom: Reset (Embora com alguns bons achados ao emular os Beach Boys (“Edge Of The Edge”), esse dois prestigiados artistas não conseguem produzir algo que escape da monotonia psicodélica. É viajante, tem sua graça, mas também é repetitivo).
- Preoccupations: Arrangements (O pós-punk do grupo ganharares atmosféricos neste disco de resultado comum. Tem boas faixas, mas no geral dá uma sensação de que a banda perdeu a força. Preocupante).
- Sam Gendel: Blueblue (Talvez eu esteja comendo bola, mas não adentrei a experiência sonora desse elogiado álbum. Tudo bem, tem suas ricas texturas, fruto de uma captação primorosa que geram um jazz bastante climático. Todavia, o desenvolvimento das faixas me pareceu monótono. Darei nova chance no futuro).
- Shygirl: Nymph (Tudo bem, as qualidade que foram apontadas realmente estão presentes: a cantora soa sexy, há boa produção e algumas ótimas faixas. Dito isso, nem tudo me agrada. Tem momentos genuinamente pouco inspirados. E olha que o disco nem é grande, o que revela falta de estofo. Monótono mesmo nas qualidades).
- Sinistra: Sinistra (Supergrupo com gigantes do “rock pesado” brasileiro. Todos ali são tecnicamente muito talentosos (o Edu Ardanuy continua se mostrando diferenciado), o que fica ressaltado em diversos momentos, lembrando o Sabbath na fase Dio, só que cantado em português. E justamente nas letras está o principal problema. Além do conteúdo meio autoajuda, não há ganchos ou mesmo “flow” dentro da estrutura das canções. Parece não casar, embora o Nando Fernandes seja um ótimo cantor. Que falta faz um bom compositor entre instrumentistas talentosos, não?).
- Steve Lacy: Gemini Rights (Aqui parte é culpa minha, já que criei expectativas em cima do trabalho do artista, que até o momento respondeu com um repertório morno. Ao menos pro meu gosto, essa sonoridade “r&b lo-fi melosa e esquisitinha” me soa equivocada. Ele poderia tocar mais guitarra, tentar ser o Prince (olha eu criando expectativa novamente). Dito isso, há algumas boas canções, com direito até a influência de música brasileira em duas delas. Mas apesar das qualidades, o saldo final é pouco memorável).
- SZA: SOS (Mais uma vez a cantora lança um disco aclamado que eu simplesmente não consigo embarcar. Na realidade gostei de algumas faixas, principalmente as que investem na abordagem "triste e com tesão" do r&b (vide "Kill Bill", "Gone Girl", "Open Arms"). O problema é que o longo repertório abre espaços para irregularidades. Gosto das produções, mas nem todas as interpretações. Trabalho de altos e baixos).
- The Linda Lindas: Growing Up (Vou te falar que superou minhas expectativas. Tem canções legais (e outras bem bobinhas). Curioso que não chega a ser nem um pop punk, tá mais para um bubblegum punk. Ouvir na brinquedoteca junto da minha filha de 2 anos foi divertido. Qualquer coisa além disso é loucura).
- The Mars Volta: The Mars Volta (Após uma década em repouso, o grupo volta às atividades com um som mais contido/”soft”. A influência latina ainda está lá, já as pitadas frenéticas de MC5 desapareceram. As composições abordam temas maduros, mas que honestamente não roubariam minha atenção não fosse a banda que é. Agora, o ponto negativo é a performance. Uma banda que sempre teve excelentes instrumentistas e que tem um dos guitar heros deste século, soa completamente linear, sem grande personalidade, mesmo nos momentos instrumentalmente intrincados. Morno).
- Tim Bernardes: Mil Coisas Invisíveis (Acho ele muito talentoso, mas esse trabalho não me pareceu inspirado. As letras reproduzem afetações sobre término de relacionamento, os arranjos estão mais previsíveis (embora com alguns momentos exitosamente bonitos), sua voz pouco emociona (apesar de todo esforço que ele parece fazer para sofrer)... tudo isso em faixas pouco carismáticas (e são 15, ao longo de 1 hora de disco). Dito isso, não é ruim, só acho que ele é capaz de produzir algo melhor, vide seu ótimo disco anterior).
- Vince Staples: Ramona Park Broke My Heart (Transitando entre o west coast, trap e pop rap, o artista apresenta canções tecnicamente bem construídas, mas não necessariamente cativantes. Tem bons momentos, mas o gosto final é de insatisfação).
- Weezer: SZNZ: Spring EP I (O primeiro ato dos “EP’s das estações do Weezer” não empolgou. Na maior parte são canções de power pop esquecíveis, com a vantagem que eu tenho muita boa vontade com o grupo, o que faz que eu goste até mesmo das melodias e interpretações mais bobinhas que eles produzem (e aqui há muitas). Ao menos liricamente há uma questão espiritual/existencial que é novidade no grupo).
- Wet Leg: Wet Leg (Duo feminino em sua estreia pós-hype. Parece um CSS menos “maluco” e mais “garage”. Honestamente, achei meio tacanho, mas ok).
- yeule: Glitch Princess (Não consegui comprar a ideia desse disco. No geral me pareceu uma mera tentativa de fazer um pop futurista bizarro. Até tem bons ganchos (principalmente na metade final do disco) e soluções de produção interessantes, trabalhando timbres sintéticos com ousadia. Entretanto, não é algo que me instiga. Obs: vale dizer que nem cheguei a ouvir a última faixa, nada mais que quase 5 horas de uma ode à música ambient. Passo).
- Zola Jesus: Arkhon (Eu até queria gostar mais, mas na verdade sempre fico com a sensação que falta mais “peso”, densidade e menos flerte com o pop. No fim me parece um darkwave/art pop feito para conquistar os fãs de Stranger Things que curtiram a Kate Bush. Mas não me entenda mal, tem seus bons momentos (vide “Into The Wild”), interessantes texturas na produção e a moça tem uma bela voz. Talvez só não seja a minha praia).
- Anitta: Versions Of Me (Das quinze faixas, gostei de uma (“Gata”) e achei outras duas ok (“I’d Rather Have Sex” e “Que Rabão”). Tá mais pra ruim que mediano, certo? Agora, analisando o disco em si, chamou atenção como ela foi infeliz na escolha dos singles. Também espanta como, embora ela “venda” a ideia de versatilidade - o que na realidade me pareceu mais como incoerência da obra como um todo diante de singles que atiraram para diferentes direções -, o que predomina são tendências do pop latino mal exploradas, não só pela interpretação e produção (que nem são das piores), mas pela raiz das composições, de ganchos chatos, melodias rasteiras e beats sem personalidade. Uma pena).
- Demi Lovato: HOLY FVCK (Eu até poderia ignorar a mediocridade pastiche das canções, que embarcam no pop punk sem nenhuma personalidade, mas o real problema é masterização tão comprimida que torna a audição incomoda. Fora a interpretação/processamento vocal da Demi, com agudos verdadeiramente irritantes, inclusive afinados digitalmente de maneira estranhamente tosca. Problemas técnicos que saltam à audição, impedindo que eu lidasse com possíveis méritos).
- Jack Harlow: Come Home The Kids Miss You (A indústria do entretenimento cria astros inócuos que por ofício devem se jogar em carreira artística, ainda que não tenham aptidão para isso. É o caso deste jovem que alcançou a fama mesmo sendo um “rapper” que parece nunca ter ouvido o gênero. Sua interpretação e texto pende para o terrível. É um sucesso que me deixa incrédulo tamanha a falta de inspiração e personalidade. Nada se salva).
- Jovem Dionisio: Acorda, Pedrinho (Esse grupo explodiu no TikTok com a canção que dá título ao disco. Embora tenha achado um saco, vi que era uma banda de indie pop e decidi dar uma chance ao disco. Não foi dessa vez que o gênero no Brasil ofereceu algo de bom. É nitidamente um trabalho bem produzido (sem criatividade, dentro dos padrões da indústria) o que só ressalta a pobreza composicional. São canções bestas, ora engraçadinhas, ora fofinhas, sempre constrangedoras. Lamentável).
- Machine Gun Kelly: mainstream sellout (A culpa é minha, claro, por que fui perder tempo com uma porcaria dessas? Nem quando tinha 10 anos eu gostava do Blink 182, não é hoje que vou curtir uma cópia genérica com pitadas do que há de pior no pop contemporâneo. Ainda mais vindo de um sujeito de personalidade tão fake. Vale dizer que é impressionante o quão comprimida é a masterização, chegando a incomodar a audição. O peso é artificial, as melodias são irritantes, a interpretação é sem carisma e atitude…. Ou seja, mais um engodo da indústria com aparência de transgressão feito para adolescentes incautos).
- Muse: Will Of The People (Esse disco foi vendido como uma aposta da banda em sons mais pesados, flertando com o heavy metal. Criei uma expectativa que foi completamente frustrada. Até para mim, que costuma “defender” os discos mais recentes do trio, foi inevitável não ficar espantado com a falta de inspiração. Esses conceitos distópicos que eles abordam já estão saturados. Musicalmente é cafona, de melodias chatas, interpretações grandiloquentes cansativas, timbres ultra sintéticos, dentre outros atributos que fazem deste o pior disco da banda. E se tratando de peso e influências de metal, honestamente senti que até mesmo o novo álbum da Demi Lovato foi melhor sucedido nisso (apesar de também ser ruim). Todas as críticas que sempre fizeram a eles ao menos agora são justas).
- Slipknot: The End, So Far (Já faz um tempo que a banda está ensaiando o fim né. Aqui ficou claro para mim que ele já chegou. Faixas nada inspiradas com timbres de plástico. Mesmo quando começa bem, as canções desandam para refrões pavorosos, ora remetendo ao A7X (em “Heirloom” é explícito), ora a nem isso. O baterista Jay Weinberg até tenta demonstrar que a banda ainda tem pra onde ir, mas o resto do grupo não o acompanha. Insípido, quando não com gosto de merda).
- Weezer: SZNZ: Autumn EP III (Tenho grande tolerância as sem-vergonhices do Weezer, mas aqui passou dos limites. Pop rock chato e fraquíssimo. Toma vergonha na cara, Rivers Cuomo).
FILMES
- Elvis
Como todo filme biográfico de Hollywood, tem seus clichês e cafonices, mas também tem recurso financeiro para fazer uma obra imponente. E comparado a outros longas, esse é bem sucedido. A história é narrada num bom ritmo, tem boas atuações e joga os holofotes num artista espetacular que, de tempos em tempos, precisa ser lembrado para as novas gerações.
- jeen-yuhs: Uma Trilogia Kanye
Com cenas de arquivo gravadas há mais de 20 anos - como se o Kanye West previsse o fenômeno que iria virar -, esse documentário percorre detalhadamente por sua criativa fase inicial, passa correndo pelo auge da popularidade e chega nos seus devaneios atuais. O fato de trazer suas polêmicas faz com que, ao contrário de outros documentários sobre artistas contemporâneos, não pareça uma peça de publicidade. É impressionante, dramático, angustiante, divertido e esclarecedor.
- Racionais: Das Rua de São Paulo Pro Mundo
Aquele tipo de documentário que a história é tão boa que seria difícil arruinar. Por sorte, ainda há escolhas de edição que evidenciam a força do grupo. Aquela cena de mais de 2 minutos de "Domingo no Parque", com a plateia cantando em peso, é uma maravilha. Gostei também dos trechos que evidenciam o humor da banda (a guitarra quebrada, o carro sem gasolina). Filme especial, que fico feliz ter sido lançado mundialmente pela Netflix. Tomara que seja visto em outros países. Eu mostrei para os meus pais.
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