terça-feira, 3 de janeiro de 2023

RETROSPECTIVA 2022: Lançamentos (Incluindo os MELHORES DISCOS DO ANO)

Chegou janeiro, mês em que a "tradicional" lista de melhores do ano do País do Baurets dá as caras. Ao contrário de tantos outros sites/blogs, evito soltar a lista antes do tempo. Se o ano termina às 23h59 de 31 de dezembro, não vejo sentido em publicar no final de novembro como tantos fazem, visto que sempre há um maluco que lança algo relevante aos 45min do segundo tempo.

Reconheço que citar mais de 100 discos de um único ano é exagero, ainda mais atualmente, onde tudo parece ser tão descartável (não enquanto obra, mas enquanto hábito de ouvinte). Todavia, não deixaria de postar algo bacana só para me enquadrar num número pré-estabelecido.

Apesar da grande quantidade de álbuns, fiz descrições curtinhas (não são críticas, muito menos resenhas, são descrições), justamente por entender que, embora as pessoas tenham sede de conhecimento, nem todos têm tempo/interesse/prazer de ouvir tantos lançamentos, muito menos de ler a minha irrelevante opinião sobre tais obras.

Mas tá aí, o trabalho sujo está feito. Com direito a uma faixa destaque para cada disco (exceto nos "MELHORES DISCOS DO ANO", ao menos esses escutem inteiro).

Mais que uma crítica, esse post é um apoio para quem quer caçar uma novidade (e um HD externo para eu mesmo catalogar minhas audições/preferências).

Obviamente muitos prováveis grandes discos ficaram de fora simplesmente por eu não ter tido acesso e/ou tempo de ouvir. No passado isso me causava angústia, hoje deixo rolar, conformado com a impossibilidade de conferir tudo. De qualquer modo, se tiverem alguma grande indicação para fazer, é só colocar nos comentários.

Separei tudo em ordem alfabética. Nacionais e internacionais, tudo misturado. Sem pódio de chegada ou beijo de namorada. Acho que assim fica mais fácil procurar algum lançamento específico. Todavia, como tem quem se interesse em saber as predileções nacionais, deixo aqui a menção honrosa aos discos do Krisiun (único no topo dos prediletos), Bala Desejo, Deize Tigrona, João Donato, Odradek e Terno Rei. Destrincho cada um deles mais abaixo.

Sem mais delongas, vamos para a lista:

- Ashenspire: Hostile Architecture
Banda que eu sequer havia ouvido falar até então, num disco surpreendente, que traz a energia do metal extremo apaziguada por execução cristalina quase jazzística. A influência progressiva é óbvia. Causa inevitável espanto a forma quase de discurso ditatorial na performance do vocalista (e neste caso isso é um elogio). A forma com que as canções (e o disco) evolui é intrigante. A maneira com que o sax oferece liberdade e alicerce para as composições é espetacular. Uma loucura.

- Big Thief: Dragon New Warm Mountain I Believe In You
Não querendo super dimensionar a obra, mas em muitos quesitos esse álbum  me remeteu a um “Exile on Main St. sem a farra”. É um disco duplo e ambicioso, mas com o alicerce em elementos tradicionais do rock americano. Aqui o Big Thief - banda que gosto, mas nunca amei -, traz uma combinação de indie folk, alt-country, shoegaze, americana e folktronica, combinando instrumentação e gravação orgânica à interferências eletrônicas, soando ora intimista, ora grandiosamente denso. A Adrianne Lenker é uma intérprete de muita personalidade, entregando muita paixão em suas performances. Memoráveis melodias, captação vívida (em diferentes estúdios), momentos de nenhuma ortodoxia sônica, além de letras igualmente irônicas/divertidas/dramáticas/estranhas também fazem parte deste pacote. Tem algumas (poucas) gordurinhas, mas nada que atrapalhe o desenvolver do longo álbum. Especial.
 

- Black Country, New Road: Ants From Up There
Após uma estreia arrebatadora, o grupo se supera neste segundo disco. Ao mesmo tempo, vê seu líder, Isaac Wood abandonar o barco. Essa confusão digna do tempo em que vivemos se manifesta no álbum, repleto de reflexões e performances dilacerantes. Por sua vez, musicalmente tudo parece menos “ácido”, apostando desta vez em lindas melodias e arranjos que culminam num estado de êxtase. Tudo com uma captação orgânica e cristalina. Adoro o raciocínio orquestral dado à instrumentação, soando como uma mistura de Van Der Graaf, Slint, GY!BE e Arcade Fire. O resultado é complexo e envolvente. Biscoito fino.

- black midi: Hellfire
Terceiro álbum da banda, terceiro presente nos meus prediletos do ano. A culpa é toda deles. Parece que a cada lançamento eles aperfeiçoam a qualidade num ponto que eu sequer imaginava. Aqui o grupo traz intensidade, acidez, groove, carisma e espontaneidade para o jazz-rock, um gênero praticamente morto. As performances são não menos que incendiárias. Muito virtuosismo instrumental, arranjos intrincados (com grande paleta de instrumentação) e tremenda personalidade vocal. Novamente um absurdo.

- Chat Pile: God’s Country
Em sua estreia em disco, o grupo já se coloca na vanguarda do metal ao trazer uma força descomunal através de riffs sombrios, baterias monolíticas e baixos tão graves que parecem levitar feito poluição. Isso serve de cenário para o vocalista jogar em nossa cara toda a podridão dos EUA, ora gritando, ora discursando, ora sucumbindo. A produção é singular, meio reverberosa e estranhamente grave e caótica. É sujo, ruidoso, esquisito e perfeito ao nosso tempo.

- Daniel Rossen: You Belong There
O compositor, cantor e multi-instrumentista do Grizzly Bear em seu primeiro trabalho solo. O que salta aos ouvidos é a evolução das canções, desenvolvidas com esmero em cada detalhe de arranjo, harmonia e melodia. Isso via uma produção majestosa e execução virtuosa de Daniel, principalmente no que diz respeito aos violões. No caldeirão de sonoridades aqui encontrado, percebo elementos de música folk, rock progressivo, jazz, música brasileira, indie rock e art rock, Não há limites para a criação. Um épico do bom gosto.

- Imperial Triumphant: Spirit Of Ecstasy
Não é surpresa pra quem conhece o grupo os rumos vanguardistas e desafiadores de suas composições. Todavia, a audição de um novo trabalho da banda sempre traz a sensação de novos limites alcançados. Aqui o metal extremo se eleva através de arranjos nada ortodoxos (e largos), melodias estranhas, ritmos frenéticos, além de um clima de caos e insanidade. Parece um rock in opposition do inferno. Uma doideira que, dependendo de quem ouça, pode soar até mesmo angustiante.

- Jockstrap: I Love You Jennifer B
Sem dúvida o grande disco de música pop do ano. Ok, tá mais pra um art pop, mas ainda assim é pop. Sua capacidade tanto de agradar de imediato o ouvinte (via composições bem resolvidas, interpretação inspiradas, além de boas e memoráveis melodias) quanto desafiá-lo (arranjos inusitados, timbres eletrônicos arrojados, produção abstrata, elementos progressivos) é louvável. Simplesmente achei o disco matador faixa-a-faixa, soando belo e carismático, expondo assim também sua versatilidade não somente sonora, mas também climática. Tremenda estreia.

- Krallice: Psychagogue
Em seu segundo trabalho no ano, o grupo aprimora ainda mais as composições e a execução num disco de black metal que chega a flertar com o rock progressivo. Há teclados oferecendo orquestrações belíssimas, instrumental intrincado e um desenvolvimento complexo que cria um ambiente inóspito típico do gênero, embora sedutor na excelência musical. A produção orgânica ressalta a qualidade técnica dos instrumentistas. Interessante como soa pesado mesmo nos momentos cristalinos. Impactante e majestoso.

- Krisiun: Mortem Solis
O death metal do trio atinge a perfeição via riffs pesadíssimos e cativantes (as melhores guitarras do Moyses estão aqui). A famigerada velocidade é aplicada à serviço das composições, que evoluem sempre para algo demolidor. A execução e a produção estão cristalinas feio chumbo, não deixando margem para poluição sonora. Outro atrativo são os elementos de um heavy metal mais tradicional (em melodia, dinâmica, cadência), que fazem com que as canções sejam muito mais memoráveis. Criativo, brutal e inspirado.

- Madison Cunningham: Revealer
Daqueles discos "fáceis", que em mim bateu logo na primeira audição. Ela é uma jovem cantora/compositora/guitarrista de indie folk americano, gênero em voga. Seu diferencial é primar pela excelência. Ela constrói ótimas melodias com sua bela voz (com nítida influência de Jeff Buckley), além de ser guitarrista de mão cheia, que sabe extrair ótimos timbres crus, além de melodias e harmonias intrincadas. Boa banda de apoio, soluções de arranjos criativas e ótima captação. Não tem erro. Me espanta não ter aparecido em lista alguma.

- Petrol Girls: Baby
Com atitude e peso, além de qualidade técnica e composicional, esse grupo traz a chama do riot grrrl para a atualidade. As letras confrontosas se fazem necessárias, mas o importante é que elas vêm junto de excelentes riffs, grandes performances do baterista, timbres calorosos, execução nervosa e refrãos/melodias memoráveis, que fazem do disco um panfleto divertido e acessível. Trabalho ultra inspirado.

- SAULT: Air
O enigmático grupo surpreende com uma obra de resultado cinematográfico. É uma peça orquestrada, com direito a coro de vozes majestoso. Não é absurdo dizer que é um trabalho de música erudita. Tudo belissimamente desenvolvido, arranjado, interpretado e captado. Em alguns momentos me lembrou o Atom Heart Mother do Pink Floyd (que é um dos discos da minha vida). O Inflo sabe o que faz. Emocionante. Simples assim.

- Soul Glo: Diaspora Problems
Num mundo tão cheio de regras que é o punk rock, o Soul Glo quebra todas sem perder a autoridade. Se apropriam do hardcore, noise rock, industrial, screamo e até mesmo hip hop, transbordando energia e criatividade. Os riffs são contagiantes e o vocalista parece pular na nossa frente pronto para nos esganar, expondo as angústias do nosso tempo. Sem querer fazer comparações absurdas, mais em alguns momentos me pareceu uma transposição temporal do Bad Brains. Execução, produção e resultado visceral.

- The Smile: A Light For Attracting
Confesso que não queria colocá-los num posto tão alto, mas não teve como, esse disco é uma maravilha. É o tal novo supergrupo com vocês sabem quem. E convenhamos, o resultado não é tão distante do que se esperaria do Radiohead. Só que aqui com um molho mais “orgânico” e “grooveado”. Há um equilíbrio entre performances primorosas e produção criativa, encorpada e cristalina. Isso em canções ultra inspiradas, de melodias memoráveis e arranjos de densidade acolhedora. É uma beleza.

ABAIXO ESTÁ O BOJO DA LISTA. SÃO OS ÁLBUNS QUE OUVI PARA CHEGAR AOS MEUS PREDILETOS. CLIQUE NO MAIS INFORMAÇÕES CASO SE INTERESSAR.

SEPAREI UMA BREVE SEÇÃO PARA FILMES DE MÚSICA TAMBÉM.


SEPAREI ENTRE "BONS" (6-8), "MEDIANOS" (4-6) E "RUINS" (0-4)

BONS (6-8)

- Ada Rook: Ugly Death No Redemption Angel Curse I Love You (Uma das metades do Black Dresses num disco sonoramente nem tão diferente do grupo. O que percebi foi uma maior necessidade textual, gerando canções mais longas (logo, menos urgentes). Talvez seja o trabalho que melhor exemplifica as qualidades estéticas do duo, ora ou outra soterrada num mar de violência sônica (não que aqui também não seja intensamente perturbador). Corrosivo, criativo, industrial, “dançante” e esquisito). PURGATOR3Y MODULATION ENGINE

- Adeem The Artist: White Trash Revelry (Não bastasse repaginar a canção country americana com temáticas mais contemporâneas (religião, racismo, sexualidade) numa abordagem nada reacionária, o artista ainda dispõe de ótimos arranjos e gravação, resultado num disco de sonoridade orgânica deliciosa). Redneck, Unread Hicks

- Alabaster dePlume: Gold - Go Forward In The Courage Of Your Love (Um trabalho que transcende a experiência auditiva. Isso por trazer uma densidade quase teatral dentro de um contexto de spiritual jazz somado à poesia e “sons do mundo”. Uma obra longa, cheia de camadas sonoras e líricas. Sendo bem honesto, eu mesmo preciso ouvir mais vezes. Sem destaque, o interessante é mergulhar no disco como um todo. Emotivo).

- Alaíde Costa: O Que Meus Calos Dizem Sobre Mim (A veterana cantora num disco exuberante da capa à última nota. Sua voz soa apaixonada, ainda mais diante de samba canções lindamente bucólicos. Destaque também aos precisos arranjos. Uma beleza que parece de outro tempo). Praga

- Aldous Harding: Warm Chris (Essa talentosa cantora-compositora faz uma sólida ponte entre o indie e o folk, soando tão acessível e “pop” quanto introspectiva e minimalista. Sua voz é bela e os arranjos discretamente elegantes. Singelo). Bubbles

- Alexisonfire: Otherness (Após mais de uma década sem material inédito, fica explícito o amadurecimento do grupo, o que não necessariamente vai agradar a todos, mas a mim sim. É um disco menos porralouca e mais “rockeiro”. Tem algo de Helmet ali. Gosto do equilíbrio entre modernidade e sujeira na produção. As guitarras estão soando enormes. A interação das vozes traz ótima dinâmica para as canções. Ótimo trabalho). Survivor’s Guilt

- Alvvays: Blue Rev (A banda dá um salto de qualidade num disco que demonstra que o indie pop pode ser sonoramente muito mais interessante se trouxer dose extra de “peso”. Adorei as guitarras, que soam como se o Smiths fosse uma banda de shoegaze. Claro, isso só funciona porque as canções são boas, porque a cantora tem uma doçura própria, porque há uma melhora nas texturas no que diz respeito à produção… porque é uma clara evolução). Many Mirrors

- Amber Mark: Three Dimension Deep (Uma combinação de qualidade
musical impressionante, que parece juntar o que há de melhor no pop oitentista (com aquela execução perfeita que só grandes instrumentistas alcançam), com a capacidade de criar bons ganchos do pop da virada do milênio e o que há de mais elegante no r&b/neo-soul. Mixagem maravilhosa, interpretação vocal soberba, ótimas melodias e arranjos… uma maravilha do pop contemporâneo). One

- Animal Collective: Time Skiffs (Ouvindo esse disco eu tive a nítida impressão que, quando quer, o Animal Collective sabe soar melodioso e criativo sem muito esforço. Pensando na discografia da banda, é um trabalho bastante acessível, onde as estranhezas desta vez parecem buscar referência discreta no… rock progressivo (!!!). A mixagem repleta de texturas é um charme extra. Acima de tudo, um trabalho de inspiradas canções). We Go Back

- Arcade Fire: WE (Após o pavoroso disco anterior, a banda sai do coma num álbum com imperfeições composicionais, mas certa beleza. Há bons arranjos e uma produção redonda. Tudo bem interpretado (até quando pende para o cafona). Tem algo de solar. Peter Gabriel dá as caras. É um bom disco). The Lightning I

- Ari Lennox: age/sex/location (Aquele r&b charmoso e sexy que tanto adoramos, aqui via uma voz poderosa que não mede esforços ao desenvolver ótimos arranjos vocais e melodias memoráveis. Adoro também as texturas das produções. Classudo). POF

- Artificial Brain: Artificial Brain (Um dos discos mais cavalares do ano. Um death metal ultra técnico, com direito a guitarras ríspidas e harmonicamente bem construídas, execução precisa e produção tão brutal quanto “organizada”. A voz de porco sodomizado não faz tanto a minha cabeça, mas também não chega a ser um problema. No meio de toda a violência, há certa “beleza” e inventividade composicional). Glitch Cannon

- Autopsy: Morbidity Triumphant (Banda de death metal veterana num dos melhores discos do gênero neste ano. Conseguiram isso sem apostar em grandes extravagâncias. Há somente canções demolidoras, com captação bastante orgânica (como é bom ouvir viradas de bateria com som de tambores e não de trigger), ótimas passagens de guitarra, linhas de baixo ousadas (vide “Tapestry Of Scars”) e uma tirada de pé do acelerador (chegando quase ao doom, algo típico para eles). Bem bom). Your Eyes Will Turn To Dust

- Axel Boman: LUZ / Quest For Fire (Dois álbuns complementares lançados no mesmo período, sendo que eu não consegui dissociá-los, visto que ambos apresentam alta regularidade e semelhanças. São trabalhos que podem ser enquadrados na deep house (flertando com techno). Eles alcançam momentos tão dançantes e carismáticos que parecem prontos pra pista. As batidas, os graves, os arpejos, os timbres luminosos de sintetizador… tudo se complementa milimetricamente. Dois dos melhores momentos da música eletrônica deste ano). Stone Age Jazz

- BabyTron: Bin Reaper 3: Old Testament (Não vou mentir que, inicialmente, fiquei perdidinho com o som do rapaz. Achei seu flow meio “truncado”. Com isso, até os beats pareciam desconexos. Isso ocorre de maneira nem tão agressiva, mas sensivelmente desconcertante. No fim, esse pareceu o grande êxito do disco, de soar com personalidade dentro de um trap que, por vezes, se mostra estagnado. Fora que ele tem ótimas sacadas líricas, criando até mesmo um roteiro bíblico. Audacioso). Wake Tf Up

- Backxwash: His Happiness Shall Come First Even Though We Are Suffering (Pesado, fúnebre, gótico e industrial, esse disco é mais uma amostra da violência sônica que o hip hop atingiu. Isso via uma personalidade que irradia força. Poderoso). MUZUNGU

- Bad Boy Chiller Crew: Disrespectful (Pode parecer que eu tô sendo irônico, mas isso aqui me soou como um “summer eletrohits” que deu certo. São batidas meio house, meio hip hop, meio europop, sempre com uma abordagem jovem porra louca. No mínimo divertido. Adorei para pano de fundo, mas vá por sua conta em risco). So Much In Love

- Bala Desejo: SIM SIM SIM (Grupo formado por jovens que absorveram clássicos da MPB setentista via os discos de seus pais e reproduzem com qualidade essa atmosfera (principalmente Gal Costa, Rita Lee e Marcos Valle). Mas não se engane, soa “moderninho”, tanto que hypou (e com isso, vieram os detratores). Ótimos arranjos, tanto de metais quanto vocais. É “gostosinho”, divertido, bem feito e dançante). Baile de Máscara (Recarnaval)

- Beach House: Once Twice Melody (Embora reconheça gorduras em quase 1h30 de álbum, o duo mais uma vez se coloca no centro do dream pop contemporâneo ao construir belas paisagens sonoras, desta vez com pitadas estéticas e timbristicas da década de 1980. Atenção para todas as camadas de arranjo e produção, reveladas a cada nova audição. Vale dizer que o viés emotivo das composições não soa banal. É um trabalho sincero e cuidadoso). Pink Funeral


- Beabadoobee: Beatopia (Confesso que de cara não gostei. Ouvindo dispersamente me pareceu excessivamente bobinho. Mas escutando com atenção, me deixei levar pelas melodias, arranjos, e, principalmente, a doçura da sua interpretação. Fora que há uma produção criativa, meio “crocante”, envolto a uma atmosfera de indie pop com referências da virada do milênio. Ouça atento e de cabeça aberta). The Perfect Pair

- Beak>: KOSMIK MUSIK (O projeto do Geoff Barrow se joga na tradição do space rock/rock progressivo/krautrock via peças rockeiras viajantes, calcadas principalmente nos sintetizadores. Sem destaque, são 20 minutinhos de uma imersão delirante).

- Benny The Butcher: Tana Talk 4 (Sem grande invencionismo, o rapper aposta em beats encorpados e diretos ao ponto que servem de cama para suas rimas poderosas. Seu fluxo de consciência lírico passa por momentos malucos, engraçados e engajados. É o tipo de rap que me atrai de cara). Super Plug

- Beyoncé: Renaissance (Ao se multiplicar em canções que formam um mosaico/glossário da dance music, a Beyoncé demonstra disposição para se manter no trono da música pop. Beats versáteis, bem construídos e de produção exuberante e musculosa. Tem algumas das melhores músicas de toda a carreira da Beyoncé. Simples assim). CHURCH GIRL

- Bill Frisell: Four (Descentralizando uma possível aparência de liderança, o genial guitarrista se juntou a ótimo time de músicos num trabalho que prioriza climas jazzisticos em oposição a meros improvisos. O resultado é acolhedor mesmo diante de dissonâncias). Blues From Before

- billy woods: Aethiopes (Os discos do billy woods normalmente fluem uma carga de densidade abstrata de difícil imersão. É o caso desse. Mas não entenda mal, isso acontece justamente por ele tensionar o gênero trazendo produções nada convencionais (aqui bastante jazzisticas), o que soa com enorme frescor. Isso sem mencionar seu vocabulário e flow riquíssimos. Álbum instigante). Heavy Water

- billy woods x Messiah Musik: Church (Engraçado que, antes de ouvir o disco, tinha visto um vídeo pouco elogioso do Anthony Fantano ao álbum. Ouvi e tive uma visão oposta. O fato de causar diferentes sentimentos já é algo a se admirar. Mas em mim, o que senti positivo foi o rapper se esticando e contraindo ao rimar em cima de beats abstratos, espaçados e solúveis. Alguns momentos parece até que sua voz foi registrada antes da criação das batidas. Tudo mera percepção. De fato apenas a minha admiração pelo estranho resultado aqui alcançado). Fever Grass 

- Björk: Fossora (De cara já digo que não me atentei ao conceito, algo relacionado a cogumelos. Sei lá se é isso mesmo, não dei importância. No caso da Björk foquei no que interessa e se mantém impecável: sua voz (timbre, melodias e interpretação), arranjos poucos ortodoxos (aqui com escolhas de instrumentação e forma que dão um sentido quase erudito) e produção (quando orgânico soando cristalino, quando eletrônico soando pulsante e extenso em tessitura). Tudo isso forma um disco que, se não memorável em termos de composição, certamente de riqueza que prende a atenção). Ancestress

- Black Dresses: Forget Your Own Face (Dada a extremidade do som do duo, devo dizer que adorei a curta duração deste trabalho, colaborando na urgência da obra. As produções ruidosas estão ultra corrosivas, sendo que no meio do caos, as composições (seja os ganchos melódicos ou as letras) parecem melhor resolvidas. Fora que há muita frescor na criação instrumental e fúria/angústia na interpretação vocal. Achei espetacular). u_u2

- Boldy James & Real Bad Man: Killing Nothing (Aquele estilo de rap duro, sério, pesado e sombrio que tanto gostamos. Não há espaço para floreios, apenas para rimas bem construídas num fluxo ininterrupto. Uma parceria que promete render ainda grandes momentos). Game Time

- Boris: W (Mesmo quando a intenção é soar gélido e “tranquilo”, dá para visualizar a intensidade da execução e o volume hipnotizante que esse grupo extrai de seus instrumentos. Drones atmosféricos e brutais são intercalados com algo próximo ao dream pop. É desolador (num bom sentido)). I Want To Go To The Side Where You Can Touch…

- Boris: Heavy Rocks (2022) (Aqui vocês já sabem como funciona, né? É o Boris se lançando em cacetadas rockeiras, com puta riffs, guitarras volumosas, timbres imundos e a pegada certeira de (quase) sempre. Eu adoro). Ghostly imagination - Bruno Berle: No Reino dos Afetos (É interessante ver a incorporação de estéticas sem gênero definido e produções lo-fi, que tanto permeiam o rock alternativo internacional, aqui integrada a uma linguagem de canção brasileira. O resultado é terno, melodioso e com certa ingenuidade na produção que, programada ou não, musicalmente funciona bem). Quero Dizer - Budang: Astrologia, Destinos e Salmos EP (Uma fusão parruda de hardcore com metal - sem ser crossover nem metalcore -. Uma paulada que sempre valorizarei enquanto ocorrer no Brasil. Tem lampejos de criatividade e humor). Etiqueta

- Cäbränegrä: Cäbränegrä x Järnbörd Split (9 faixas em 7 minutos. Cacetada. Gutural e o caralho. Eles cagam na nossa cabeça. Sem destaque). - Carro Bomba: Migalhas (Sabe bandas de “real rock”? Aquelas de riffs certeiros e pesados, com vocais rasgados e calcado em guitarra, baixo e bateria? Pois então, no Brasil o Carro Bomba é das melhores. Claro, pode soar conservador para novas gerações, mas para mim isso é superado diante de boas composições (dentro da proposta) e execuções. Aqui o grupo inseriu elementos de progressivo em seu já conhecido hardão-heavy. Gostei bastante). O Que A Noite Pode Te Trazer?

- Casa das Máquinas: Brilho Nos Olhos (Não vou mentir que senti vergonha alheia diante de algumas letras e interpretações vocais (vide “A Rua”), mas muito maior foi meu sentimento de felicidade em ver um disco novo desta lendária banda após quase 50 anos sem trabalho de inéditas. Para quem gosta dos antigos trabalhos, é prato cheio. Muito bem tocado. Rock n’ roll brasileiro clássico em boa forma). Horizonte

- Cate Le Bon: Pompeii (Essa ótima cantora-compositora de art pop remonta um cenário outrora habitado por Cocteau Twins (primeira fase) e Kate Bush, criando uma beleza espacial em canções de perfil acessível, muito graças a sua voz acolhedora). French Boys

- Charlotte Adigéry / Bolis Pupul: Topical Dancer (A dance music tratada com respeito. Além de ter um carisma irresistível por trás dos criativos ganchos rítmicos e melódicos, liricamente o álbum aborda temas como a sexualidade de maneira que foge do óbvio dentro do pop contemporâneo. Produção encorpada, ótimos timbres, graves pulsantes… discão. Até a capa é ótima). Blenda

- Cheekface: Too Much To Ask (Com intensidade, destreza e carisma, esse bom grupo apresenta um interessante cruzamento entre Talking Heads, LCD Soundsystem e Strokes. É sem dúvida um dos melhores discos de indie rock lançados esse ano. Simples assim). Next To Me

- Cohort B: 1001 LUKEWARM USA (Um pouco de frescor rockeiro via essa nova banda que explora o post-hardcore e noise rock sem se restringir a qualquer amarra composicional. Há intensidade, quebradeira e timbres cortantes. Já basta. É um curtinho EP, então vale dar uma chance. Depois não me venha falar que não tem nada acontecendo no rock). Orca

- Conway The Machine: God Don’t Make Mistakes (O rapper mais uma vez acertou ao combinar batidas de boom-bap com textos emotivos. O resultado é intenso em todos os sentidos). John Woo Flick

- Cryalot: Icarus (A cantora do Kero Kero Bonito em seu primeiro EP solo. É mais maduro e dramático, mas mantém como grande qualidade a de tencionar o pop e o eletrônico em produções futuristas. A mixagem é espetacular). Hell Is Here

- Danger Mouse / Black Thought: Cheat Codes (Uma parceria que já chama os holofotes devido o escalão dos envolvidos. “Pra piorar” nomes como Reakwon, MF Doom, Michael Kiwanuka, Run The Jewels e Conway The Machine somam forças, trazendo mais variedade sonora e lírica. Já faz alguns anos que o Black Thought vem apresentando excelente forma, de maneira que seu flow sisudo e criativo não chega a me surpreender, embora adore. Por outro lado, me entusiasmei com a construção dos beats, escolha dos samples e mesmo a mixagem, que soa pouco estrondosa, dando respiro, fluidez e organicidade ao disco. Os caras são embaçados). Belize

- Danny Elfman: Bigger. Messier (O brilhante compositor reconstrói seu último álbum em novas versões (remixes) assinados pelo o que há de mais inventivo e barulhento na música contemporânea. Temos as mãos do Squarepusher, Xiu Xiu, Zach Hill, Boris, Trent Reznor, Blixa Bargeld, Iggy Pop, The Locust, FERVER 333, HEALTH, dentre outros. O resultado é um disco denso, criativo, industrial e corrosivo. Sem destaque, o legal é a variedade).

- Dawn Richard and Spencer Zahn: Pigments (Num álbum lindamente fluido, que transita por nuances da new age, ambient, jazz, post-rock e art pop, é possível derreter por cada melodia, timbre e textura. É perceptível o cuidado na confecção. Graciosamente atmosférico). Sandstone

- Deize Tigrona: Foi Eu Que Fiz (Essa veterana do funk br se juntou a produtores/beatmakers (nomes como BADSISTA e Teto Preto) contemporâneos em músicas divertidas, estrondosas, provocativas, dançantes e esteticamente muito bem resolvidas. São 7 faixas em 20 minutos que só não te tiram da cadeira se você for um chato de galocha). Sururu das Meninas

- Denzel Curry: Melt My Eyez See Your Future (Embora eu tenha recebido com menos entusiasmo se comparado aos seus discos anteriores, percebi um certo amadurecimento composicional. Ainda há sua conhecida energia verborrágica, mas com uma certa elegância na construção instrumental. Ele é um grande rapper). Walkin

- Destroyer: Labyrinthitis (É impressionante a capacidade do grupo em soar tão oitentista quanto contemporâneo. Mesmo os momentos mais densos são seguidos de batidas e baixos dançantes à la New Order, mas com uma “organicidade” e peso atual. Fora que o Dan Bejar é um, goste ou não, vocalista e compositor de personalidade. Melhor disco do grupo em tempos). Eat The Wine, Drink The Bread

- Dezron Douglas: ATALAYA (Um típico quarteto de jazz, liderado por um estupendo contrabaixista (na real todos são muito acima da média), num trabalho que transita entre momentos mais tradicionais e outros mais ácidos, quase buscando voos de free jazz. Tudo com ótima performance, interação e captação). J Bird

- DJ Nigga Fox: Música da Terra (4 faixas em 20 minutos que traz toda a experimentação eletrônica desse produtor português-angolano que nunca se desassocia do que acontece dos centros urbanos. Frenético, dançante, climático e gorduroso). Sanzaleiro - Djonga: O Dono Do Lugar (Mais uma paulada de altos e baixos deste talentoso rapper. Continuo não comprando suas “baladas” (vide “contatin”). Todavia, nos momentos mais eufóricos, há uma clara lapidação do texto. O mesmo vale para as produções do Coyote Beatz). dom quixote

- DJ Premier:  Hip Hop 50, Vol. 1 (Primeiro EP de 10 que o DJ Premier, “o maior DJ do hip hop” (ass: Juliano Beltrame), promete lançar. Logo de cara, um punhado de boas canções, trazendo não somente os já esperados ótimos e variados beats, mas performances inspiradas de nomes como Joey Bada$$, Rapsody, Nas, Run The Jewels, Slick Rick e Lil Wayne. Projeto entusiasmante). Beat Breaks

- Doechii: she / her / black bitch (Mesmo num curto EP essa jovem artista já mostrou grande versatilidade, tanto na escolha do repertório, quanto na capacidade vocal. Tem r&b e tem rap, ambos com performances calorosas e bons ganchos. Pra ficar de olho). Swamp Bitches

- DOMi & JD BECK: NOT TiGHT (O mais badalado duo instrumental da atualidade em seu primeiro álbum, logo de cara pela Blue Note. Transitando entre um jazz fusion e o r&b contemporâneo, as duas debulham seus respectivos instrumentos (teclado e bateria) numa sintonia perfeita. É tecnicamente desconcertante. Todavia, devo confessar que não achei as faixas vocais tão inspiradas, mesmo trazendo gente talentosa como o Anderson. Paak. Quem também participa do disco é o Thundercat, Herbie Hancock,  Snoop Dogg, Busta Rhymes, Kurt Rosenwinkel e Mac DeMarco. Nada mal e com a promessa de soar ainda melhor no futuro). WHATUP

- Dreamville: D-Day (O cast da gravadora Dreamville se reúne num álbum de hip hop variado, incisivo e até mesmo pop. Nada que surpreenda, mas com beats contundentes e momentos inspirados no flow. J. Cole brilha). Barry From Simpson

- Dream Widow (Foo Fighters): Dream Widow (Trilha-sonora de um filme de terror que o Foo Fighters produziu. As faixas são muito legais, bebendo diferentes fontes do heavy metal, soando curioso, divertido, intenso e sem ser mera caricatura. Triste pensar que esse pode ser o último projeto do grupo). March Of The Insane - Dry Cleaning: Stumpwork (Confesso que não me pegou de primeira. Muito até por conta do meu inglês torto, que sempre atrapalha quando me deparo com trabalhos de spoken word. Todavia, por conta do seu instrumento, com ótimas guitarras e até mesmo certa influência de Slint, o álbum foi crescendo em mim até admirá-lo com convicção. Boa sequência à aclamada estreia.
Agora, a capa é de mau gosto). Driver’s Story

- Earl Sweatshirt: Sick! (Ainda que tenham momentos que não me empolguem, os velozes 24 minutos não permitem que o disco chegue a degringolar. É mais uma experiência abstrata e emotiva de um rapper que não dispensa ousadias sonoras. Ora confuso, ora intrigante). Tabula Rasa

- Ecko Bazz: Mmaso (Diretamente de Uganga, esse rapper traz a atmosfera violenta do país em seu trabalho verborrágico, eletrônico e voraz. Sua voz na cara não deixa espaço pra respirar. Fora que os beats, com doses de grime, são bastante criativos. Discão). Mmaso

- Edu Ribeiro: News (Primeiro álbum de 2022 que ouvi. Logo de cara uma intensa performance jazzistica em trio liderada por esse virtuoso baterista brasileiro. Impecavelmente tocado e captado). Thais

- Eric Gales: Crown (Longe de ser perfeito. Tem até mesmo uma certa lapidação (pra não dizer “sujeira calculada”) que me cansa no blues contemporâneo. Ainda assim, é bom ver esse excelente instrumentista despertando interesse numa nova geração de guitarristas. Fora que ele tá tocando demais, tanto que sequer tinha me atentado o quão o Bonamassa pegou trejeitos dele. Se você se interessa por guitarra bem tocada, vale conferir). Death Of Me

- Everything Everything: Raw Data Feel (O poperô que deu certo. Chama atenção como o grupo abusa de elementos chatos da dance music para criar canções cativantes. Isso ocorre por conta das boas melodias, de interpretações vocais esquisitas/carismáticas, flerte com a new wave e boas produções. O uso de IA na composição acaba sendo um diferencial bem sucedido). Teletype

- Father John Misty: Chloë And The Next 20th Century (Uma ode à música popular americana do início do século XX. O compositor traz referências do cinema, jazz e música country neste álbum repleto de belos e orgânicos arranjos orquestrados. Tem muito de Randy Newman nisso tudo. Some a essa estética doses nada moderadas de ironia. Biscoito fino. Uma dúvida: é a Carmen Miranda na capa?). We Could Be Strangers

- Fernando Catatau: Fernando Catatau (Durante a audição de muitas das faixas aqui presentes eu pensava “se o Raul Seixas lançasse um bom disco em 2022, ele soaria assim”. Adoro sua voz falha, sua guitarra psicodelicamente nordestina e as letras malucas/românticas/dramáticas. Fora que tem arranjos e produção arrojada (que falta faz o CD em mãos para ler a ficha técnica). Ótima estreia solo). Luz do Fim da Tarde

- Fire-Toolz: I will not use the body's eyes today. (Uma improvável fusão de AOR, black metal e glitch faz da primeira metade do trabalho uma das experiências sonoras mais instigantes do ano. Composição, interpretação e timbres arrebatadores. Infelizmente a segunda metade caí em criatividade. Ainda assim é bem bom). Soda Lake With Game Genie

- Fito Paez: Futorología Arlt (Esse álbum do astro argentino faz parte de um trilogia. Não sei o que se encontra nos outros discos, mas recebi de bom grado os arranjos sinfônicos presentes neste trabalho, que de certa forma modernizam o tango. Tem elementos eletrônicos e até mesmo do rock progressivo. É uma épica instalação sonora. Pura arte. Cinematográfico). La Farsa

- Florence + The Machine: Dance Fever (Embora o trabalho da Florence nunca tenha feito minha cabeça, me interessei ao ouvir esse disco por conta da colaboração do Jack Antonoff na produção. E não sei se foi ele ou o desenvolvimento natural da artista, mas achei um disco redondo. É interpretativamente menos afetado (e preservando sua dramaticidade característica), mais orgânico, climático e urgente. Claro, o repertório não é perfeito, mas para um disco de “pop rock etéreo-rural”, me surpreendeu). King

- Florist: Florist (Confesso que eu demorei (umas 5 audições) pra embarcar minimamente na proposta do disco. É que ao mesmo tempo que me agradavam as composições, eu me dispersava em meio a sua proposta quase íntima, em que o grupo parece estar registrando uma demo. Mas não se engane, embora cru (e quase lo-fi), há uma cristalinidade rústica na captação. Outro fator inicialmente problemático foram as abstratas vinhetas, que no decorrer das audições deram textura sonora e dramaticidade narrativa ao trabalho. A voz da cantora é lindíssima. Resumidamente, uma obra densa de canção popular americana (com um pé no folk e no dream pop). De beleza difícil). 43

- Fontaines D.C.: Skinty Fia (Disparado o disco da banda que mais me interessou. Não por acaso é o trabalho onde eles demonstram mais personalidade, desviando dos clichês post-punk revival (embora ainda dentro do estilo) e trazendo ora composições melodiosas, ora uma nuvem sonora shoegaze, ora arranjos mais trabalhados. Tem algumas escorregadas, mas também as melhores faixas do grupo. A capa é tosca). In ár gCroíthe go deo

- foxtails: fawn (Instrumentalmente parece um disco de indie rock. Vocalmente e liricamente beira o screamo. Desta surpresa temos uma sequência de faixas intensas e cheias de personalidade. Tem beleza e angústia. Adoro os momentos “chamber” (com direito a violinos), soando como se os integrantes do Arcade Fire tivessem passando por um momento difícil. Isso ao menos na primeira parte, visto que no final mais parece um Slint do inferno. Esquisito, intenso e belo). space orphan

- Freddie Gibbs: $oul $old $eparately (Ao contrário de seus últimos trabalhos, o rapper se une a diferentes produtores em cada faixa (The Alchemist, James Blake, Madlib, DJ Paul, dentre outros), trazendo ao disco uma variedade timbristica e de concepção, embora coesa via a voz, flow e temática “frenética” do Freddie Gibbs. Tem muitos momentos ganchudos que fazem até mesmo eu, um não tão adepto do pop rap, ser arrebatado pelas canções. Bem legal). Couldn’t Be Done

- GA-20: Crackdown (Não é injustiça acusar disco e banda de soarem pastiche. Todavia. acho essa emulação de sonoridades vintages bem feita. Tem válvulas fritando e bateria reverberando pelo estúdio, resultando em saturações agradáveis para qualquer um que goste do velho blues elétrico. Fora que é na medida em seus menos de 30 minutos, não chegando a cansar. Bacana). By My Lonesome

- Ghost: IMPERA (Tudo que o Weezer queria ter feito no Van Weezer. Como não levo o Ghost tão a sério, achei divertido eles emularem trejeitos do hard rock oitentista, só que numa produção moderna/encorpada e preservando os temas “satânicos” (e também políticos). Tem algumas das melhores guitarras registradas pelo grupo (mérito do Fredrik Akesson). Dito isso, é também meio vergonhoso (no sentido cômico), por mais sério que eles tentaram soar (visto que a banda é sueca e seus integrantes têm no passado associação com grupos como Crashdïet). Divertido). Hunter’s Moon

- Gilla Band: Most Normal (Nenhuma surpresa, mas essa combinação de noise rock, pós punk e pitadas de Ministry faz muito minha cabeça. Tem urgência e timbres ferozes. Tem minha atenção). Backwash

- Ginger Root: Nisemono EP (Se o city pop tá na crista da onda, nada mais natural que a sonoridade se manifestar em artistas contemporâneos, sendo que esse cantor/compositor americano foi ultra bem sucedido na proposta, apresentando canções ganchudas donas de bons arranjos e produção, trazendo a influência de forma não caricata. Grooveado, colorido e carismático. É puramente bem legal). Over The Hill


- G Jones / Eprom: Acid Disk 2 (EP não menos que estrondoso. Eis uma fusão de techno, hip hop, big beat e dubstep. As produções são volumosas, graves, pulsantes e corrosivas. Fatores técnicos que elevam a força dos ganchos rítmicos e melódicos. Poderoso). On My Mind


- G Jones: Illusory Tracks (O rapaz tá com tudo! Um dos trabalhos mais vibrantes de música eletrônica do ano. É frenético e radiante. Faixa pós faixa, nosso sentido auditivo é exposto a rajadas de timbres (bem sintéticos), melodias e ritmos poderosos. Embaçado). Operator


- Gospel: The Loser (A volta inesperada após mais de uma década de uma banda que sequer conhecia. Só li que era um grupo de post-hardcore e me interessei em ouvir esse disco. Fiquei de cara com a intensidade da execução em cima de composições complexas. Tem até um forte elemento de rock progressivo, com direito a timbres de teclados completamente setentistas. Voraz, criativo e intenso). Hyper


- Haru Nemuri: Shunka Ryougen (Por mais que esse disco não tenha feito minha cabeça quanto seu álbum anterior, ele claramente apresenta um amadurecimento da artista, soando mais versátil e igualmente inventivo, até mesmo ao mesclar electro pop com rap, rock alternativo e música japonesa. As produções estão mais lapidadas. Sua interpretação singular continua sendo um destaque. É uma carreira interessante sendo construída. Linda capa). Kick In The World (déconstructed)

- Hot Chip: Freakout/Release (Ainda esbanjando boa forma, personalidade e carisma, o Hot Chip dá mais uma amostra de como revigorar gêneros como new wave e synthpop. Não é um repertório perfeito, mas há sempre um elemento de produção para elevar as faixas. Curiosamente, liricamente há alguns dos momentos mais “humanos” do grupo. Bem bom). Freakout/Release

- Hurray For The Riff Raff: Life On Earth (Se nas primeiras músicas fiquei com a sensação de ser um “rock alternativo feminino 90’s” genérico (ainda que bem feito), fiquei surpreso como o disco evolui para canções climáticas, que abrem mão de grandes elementos rítmicos em prol de uma ambientação confortável que coloca as letras em primeiro plano. Um trabalho que cresce a cada audição). nightqueen

- Ibibio Sound Machine: Electricity (Com extrema naturalidade, o grupo funde música africana, funk, psicodelia e um peso eletrônico que, ora aponta pro synth-funk, ora até mesmo para o pós-punk. Além de muito groove, impressiona o peso extraído pela banda, tanto por conta das escolhas timbrísticas e produção (que conta com as mãos do Hot Chip), mas também pela força da execução. Isso tudo sem mencionar a belíssima voz da cantora. Mais uma vez foram muito bem sucedidos). Protection From Evil

- Immanuel Wilkins: The 7th Hand (Esse jovem e já prestigiado saxofonista comprova o porquê de ser um dos grandes nomes do jazz contemporâneo. Seu som é fluido, não só no que diz respeito a improvisos/solos, mas no desenvolvimento das faixas e na construção do disco como um todo, desaguando ao final num épico jazzístico com benção africana. Seu grupo o acompanha com categoria e virtuosismo muito acima da média. Captação soberba. Saiu pela Blue Note). Lighthouse

- Jack White: Fear Of The Dawn (Após um disco estranhíssimo (que eu adorei), Jack White encontra o meio termo entre experimentações e o blues/garage rock que o consagrou. É o velho rock n’ roll com timbres saturadissimos, interpretações eufóricas e uma visão sonora retrofuturista. Achei demais! Ele continua dando as cartas do jogo do rock contemporâneo). The White Raven

- Jack White: Entering Heaving Alive (Fui com baixa expectativa, já que o lado acústico/baladeiro do Jack White não me interessa tanto. Mas sua fase é tão inspirada que ele chegou a boas canções. Há momentos apaixonados, momentos reflexivos, mas acima de tudo, músicas tranquilas que agradam sonoramente). A Madman From Manhattan

- Jean Dawson: CHAOS NOW* (O sujeito pegou o que há de mais atrativo para os adolescentes no rap e no rock e colocou num mesmo pacote, curiosamente não soando enlatado, mas verdadeiramente em sintonia com uma estética sonora pra ele natural. O resultado nem sempre me agrada, mas há tantas qualidade (bons ganchos, surpreendentes guitarras, produção rica em texturas, interpretações vorazes) que não consigo ignorar). POSITIVE ONE NEGATIVE ONE*

- Jethro Tull: The Zealot Gene (Após 20 anos sem material de inéditas, eles lançaram um disco que pretendia ignorar, afinal, a formação está completamente desfigurada. A curiosidade remota me levou a um descompromissado play que gerou a audição completa do disco. Achei bem digno. Boas composições, a voz do Ian Anderson tá intacta, há ainda aquela magia do folk inglês imerso numa estética progressiva… é bem bom). The Fisherman Of Esphesus

- J.I.D.: The Forever Story (Num disco ambicioso, o rapper transmite energia quase paranoica via seu texto e flow riquíssimo. Seria cerebral não fossem os diversos momentos ganchudos, tanto em termos de melodia, quanto de samples. A mixagem é um show à parte. A comprovação de que o J.I.D. está no mais alto patamar do hip hop contemporâneo). Surround Sound

- João Donato: Serotonina (O veterano compositor/instrumentista num disco perfeito para as manhãs de domingo. Seu canto e ritmo relaxado são de grande encantamento. Muito bem arranjado, tocado, captado e mixado. Ora jazzy, ora latino, ora bossa. Solar na rede). Estrela do Mar

- João Gordo & Asteroides Trio: Tributo Punkabilly aos 40 Anos do Ratos de Porão (O título já explica do que se trata o projeto. O legal então é perceber o quão bem funcionam as canções do Ratos num formato trio de rockabilly à la Stray Cats. Por mais que a voz do Gordo tenha imperfeições, o carisma da sua interpretação é indiscutível. A banda é ótima, o repertório acima de qualquer suspeita e o resultado divertido. Psychobilly brasileiro na essência). Expresso da Escravidão

- Joey Bada$$: 2000 (Com enorme capacidade ao rimar, o rapper avalia sua trajetória e busca referências sonoras no rap da virada do milênio, em muitos momentos soando melhor que a referência. Seu flow se mostrou ainda em evolução. Tem ótimos momentos. Algumas produções poderiam ser menos comprimidas e os timbres mais orgânicos, mas ok, entendo a estética). Eulogy

- Josh Smith: Bird Of Passage (Não basta ele ser um excelente guitarrista, ele tem o luxo de contar com uma ótima banda de apoio, com direiro grande naipe de metais. Com isso, ele cria aquele clima de big band que o B.B. King tão bem explorou no blues. Timbres e fraseados sem equívocos). Brand New - Julian Lage: View With A Room (Por mais que não seja o registro mais inspirado do artista, ele continua a demonstrar o espetacular guitarrista que é. Seu estilo é complexamente fluido. Adorei as partes mais intrincadas. A captação orgânica é exemplar). Heart Is A Drum - Ka: Languish Arts / Woeful Studies (Dois álbuns que navegam pela mesma estética e se complementam. Mesmo para mim, que não tem um inglês afiado, essa proposta baseada no texto e com bases que prevalecem climas em detrimento dos beats (drumless), soa bela, provocativa e rica em camadas. Poderia ser difícil, mas é exitoso). Ascension / Counted Out

- Kendrick Lamar: Mr. Morale & & The Big Steppers (Em seu aguardado novo disco - o primeiro duplo da carreira -, mais uma vez o Kendrick demonstra ser dos rappers mais afiados liricamente, soando provocativo, consciente, emotivo e com personalidade. Há algumas escorregadas, principalmente nas “baladas”. Por outro lado, as faixas mais velozes e pesadas são memoráveis, apresentando produções criativas e performances arrebatadoras. O saldo final é muito positivo). United In Grief

- Kenny Beats: LOUIE (Fico admirado no poder narrativo que o Kenny Beats deu às suas produções neste disco que se desenvolve de maneira agradável, envolvente e até mesmo emocionante. Um dos melhores álbuns de hip hop instrumental que já escutei. Simples assim). Parenthesis

- Kilo Kish: American Gurl (Um disco de música pop, ora pendendo pro rasteiro (o que gera momentos ganchudos), ora trazendo certa ousadia na produção, flertando com sons corrosivos e eletrônicos (não somente no sentido timbristico, mas estilístico). No mínimo é uma aventura dançante). On The Outside

- King Gizzard & The Lizard Wizard: Ice, Death, Planets, Lungs, Mushrooms And Lava (Através de longas canções, o grupo se deixar levar pelo clima jam, em alguns momentos até mesmo remetendo ao Grateful Dead, embora com um carisma próprio. É de certa forma um disco versátil dentro da paleta sonora da banda. Muitos dos melhores momentos guitarristicos do ano e do grupo se encontram aqui). Iron Lung 


- King Gizzard & The Lizard Wizard: Laminated Denim (2 faixas, 15 minutos cada. Mais uma vez o clima de jam prevalece. Aqui chama atenção como a banda é bem resolvida, com todos grooveando juntos (que cozinha inclusive, hein!), entrosados, relaxados, soando lindamente viajante e orgânico. É uma banda de verdade. Sem destaque, ouçam as duas canções com atenção). 


- King Gizzard & The Lizard Wizard: Changes (De alguma forma, me pareceu um disco meio “Bleatles/ELO” do KG&LW. Talvez por ser doidão e psicodélico, mas também calcado em canções, melodias e bons grooves. Mas pra não ser meramente pastiche, eles também arriscaram em timbres bem “provocativos” (na falta de uma palavra melhor). Adorei a foto da capa). Hate Dancin’


- King Princess: Hold On Baby (Após transformar o som da Taylor Swift, Aaron Dessner (The National) faz agora da parceria com a King Princess uma plataforma para suas experimentações dentro do indie pop. Mais que pelas composições (que tem boas melodias), o disco funciona por sonoridades, timbres, arranjos e produção. Lembrando que o Mark Ronson também está envolvido na produção. Nada de tão especial, mas que se sua filha de 14 anos estiver escutando pode ficar orgulhoso). Crowbar


- Kikagaku Moyo: Kumoyo Island (Até onde consta, é o disco de despedida desse ótimo grupo, que trouxe o Japão para o holofote da psicodelia contemporânea. Aqui há ótimas canções, com grooves certeiros, influência de melodias orientais e guitarras delirantes. Ouvir e lamentar o fim é inevitável). Yayoi, Iyayoi


- Krallice: Crystalline Exhaustion (O peso infernalmente épico do grupo agora numa produção refinada, o que faz com que a intensidade de cada instrumento soe com uma clareza amedrontadora. Tem climas verdadeiramente soturnos, remetendo em alguns momentos ao gótico oitentista. A performance do baterista é destacável. Para quem gosta de black metal é prato cheio). Telos

- Lamb Of God: Omens (Embora eu tenha perdido sintonia com o tipo de metal “moderno” que o Lamb Of God faz, eu ainda sinto certa dose de adrenalina juvenil quando ouço seus discos. Algo nos riffs e na energia do Randy Blythe muito me agrada. É mais do mesmo, mas pra quem gosta do som do grupo funciona). Grayscale

- Larkin Poe: Blood Harmony (A dupla continua sendo um deleite para os fãs de sonoridade vintage de blues-rock. Honestamente nem considero as composições memoráveis, mas tem ótimos timbres, riffs e solos de slide. É o que espero delas, é o que tive. Tá bom). Bolt Cutters & The Family Name

- Leeo: Sem Futuro (O vocalista/guitarrista do Surra num primeiro trabalho solo, um EP de 9 músicas e 10 minutos. Tudo gravado por ele mesmo. Todas as faixas com peso, urgência e carisma. Bacana). Meu Dinheirinho

- Leikeli47: Shape Up (Não conhecia o trabalho da artista, mas fui de imediato arrebatado para o seu rap cheio de groove e peso. As batidas são divertidas e sacolejantes. Seu flow também tem muito carisma. Há ganchos memoráveis, timbres saturados e uma modernização do hip hop que era feita na virada do milênio. É bem legal). Chitty Bang

- Lil Uzi Vert: RED & WHITE (Diante de repetitivo e saturado mundo do trap, esse EP soou como um respiro vigoroso, que traz algumas experimentações embutidas em beats pesados, camadas psicodélicas e interpretações vocais inspiradas. É um disco pra ouvir no carro, na noite, rumo a festa… ou estaria esse cenário embutido nas canções e trabalhando na nossa subconsciência? Seja o que for, é uma proeza). FLEX UP

- Little Simz: NO THANK YOU (Agora no centro dos holofotes, a cantora diminui a epicidade do seu entorno, o que acentua sua voz diferenciada e esplêndida, tanto em interpretação quanto na capacidade em rimar. O resultado é uma sequência de faixas destacáveis). Broken
 
- Lizzo: Special (Embora inferior ao anterior, o carisma interpretativo da artista é tanto que eleva até mesmo as canções menos inspiradas. Há menos de disco music (que ainda dá as caras) e mais de produções com cara contemporânea, caminhando entre o pop e o r&b. Som descompromissado, dançante, de festa, pra se divertir e se motivar). About Damn Time

- Lupe Fiasco: DRILL MUSIC IN ZION (Confesso que de início achei pouco inspirado, principalmente no que diz respeito as produções. Mas o disco cresce equilibrando momentos bonitos com a inegável personalidade do Lupe Fiasco ao rimar. A incursão por sonoridades jazzisticas nos beats eleva a obra). MS. MURAL

- LustSickPuppy: AS HARD AS YOU CAN (Ah, coisa de jovem maluco né. Um rap-eletrônico-hardcore ultra saturado e visceral. Beats doidos, timbres frenéticos, vozes berradas… 12 minutos de pura onda sonora cáustica. Obs: é o GG Allin na capa?) AS HARD AS YOU CAN

- Makaya McCraven: In These Times (Existe “jazz progressivo”? Caso não, na minha percepção esse baterista acabou de inventar. Atenção, não é jazz com rock progressivo, é jazz progressivo, onde as faixas evoluem dentro de climas, dinâmicas e texturas, valendo mais o cenário criado que a performance em si (questão subjetiva, mas acho que deu pra entender onde quero chegar). Especial). This Place That Place

- Marcus King: Young Blood (De tantos jovens guitarristas de linguagem retrô/blues rock que surgiram nos últimos anos, esse é o mais talentoso. Seus timbres e fraseado é de muito bom gosto. Dito isso, se a busca for por sonoridades de classic rock, esse álbum cumpre muito bem a proposta). Aim High

- MC Kevin O Chris: Satélite (Com produção do próprio Kevin, esse EP de 5 músicas confirma o MC como um dos nomes mais talentosos do funk. Tem beats pesados (e também atmosféricos), além de um flow consistente, que nas letras não se rende ao puritanismo em prol de maior comercialismo. Aqui é o funk de putaria, jovem e sonoramente arrojado. Bem bom). Cara de Malvada

- Megadeth: The Sick, The Dying… And The Dead! (O que me faz nesta altura do campeonato ainda querer ouvir um disco do Megadeth? A busca por ótimas guitarras. Tal expectativa foi atendida com folga. A dobradinha Mustaine + Kiko tem funcionado com louvor, encavalando uma sequência de riffs imponentes. Se por um lado a temática das letras não me empolgam, eu gostei da limpidez da produção (sem abrir mão do peso caloroso) e da voz do Mustaine, que melhorou muito se comparada há alguns anos. Um pouco longo? Sim, mas conseguiu me entreter). Dogs Of Chernobyl

- Megan Thee Stallion: Traumazine (O fato dela ser uma estrela dentro da indústria musical americana faz com que muitas vezes eu olhe com desconfiança e/ou falta de interesse para seu trabalho. Todavia, superado esse preconceito e disposto a audição, sempre fico surpreso com seu flow afiado. Sua voz é consistente e provocativa. Gosto também como os beats trazem uma atmosfera sombria ao trap. Claro, ao longo dos 51 minutos há derrapadas, mas no geral o resultado é surpreendente). Not Nice

- Meridian Brothers & El Grupo Renacimiento: Meridian Brothers & El Grupo Renacimiento (Não esperava me surpreender com um disco de salsa em pleno 2022, mas esse grupo colombiano consegue com destreza e personalidade trazer relevância ao gênero via composições politicamente combativas, que não soam meramente panfletárias por virem embaladas em ritmos dançantes, complexos e quentes. Que a atenção ao pop latino se volte a esse grupo. Bem legal). Metamorfosis


- Metro Boomin: Heroes & Villains (O rapaz chamou um time de peso (Travis Scott, Young Thug, 21 Savage, The Weeknd, dentre outros) e entregou o que se espera dele: produções encorpadas, pulsantes e cristalinas de pop rap/trap. Se for sua onda não tem erro). Umbrella


- Michael Head & The Red Elastic Band: Dear Scott (O já experiente cantor-compositor centraliza suas canções no violão, elevando as músicas em arranjos elegantes, que de certa forma oxigenam o power pop e britpop). Gino And Rico


- Michael Schenker Group: Universal (Vou confessar que ouvi discos clássicos do MSG antes de escutar esse e fiquei com a sensação que o grupo (ou o guitarrista) envelheceu muito bem. Tem ótimos riffs e solos, tanto no que diz respeito à composição quanto à execução. Simon Phillips (baterista) e Ronnie Romero (voz) também entregam ótimas performances. Tudo isso pra dizer que é um disco que convence. Mas fica o adendo, é recomendado somente para quem gosta daquele hard-heavy tipicamente oitentista). Sad Is The Song


- MJ Lenderman: Boat Songs (Traga doses nada moderadas de Wilco, Dinosaur Jr. e Neil Young para canções de apelo jovem dentro de um formato “classic rock”/alt-country. Parece improvável, mas o resultado é espontaneamente encantador. Além das composições serem divertidas e cativantes, há guitarras sujas que tanto adoramos. A produção soa tão volumosa quanto acolhedora. Facilmente um dos discos de rock mais legais deste ano). Toontown


- Mukeka di Rato: Boiada Suicida (Apresentando novo vocalista, o Mukeka continua preservando sua energia avassaladora em faixas freneticamente (e surpreendentemente) melódicas e bem desenvolvidas. A produção é encorpada e suja na medida do confortável. Um grito de esperança e uma pá de terra em forma de hardcore em cima do governo Bolsonaro). Moderna Idade


- Nas: King’s Disease III (Não tem como, quando o Nas se esforça um pouquinho só, ele revela que, no quesito flow e sagacidade na escrita, é difícil bater de frente com ele. Rap old school que não soa retrô. Simplesmente Nas). Michael & Quincy


- Natalia Lafourcade: De Todas Las Flores (A cantora mexicana mais uma vez apresenta seu lirismo interpretativo (que voz!) em canções de arrojo e, até mesmo, certa densidade (principalmente na primeira metade), presente nos arranjos orquestrados altamente climáticos, que elevam a raiz folk das composições. A gravação é tão vívida que parece executada ao nosso lado. Disco lindíssimo, perfeito para nos acompanhar por longas noites solitárias). De Todas Las Flores


- NervoChaos: All Colors Of Darkness (Sem enrolação, esse consistente grupo de São Paulo apresenta em pouco mais de 30 minutos o que há de mais agressivo no death metal. Tudo com uma produção moderna comparável ao que há de melhor neste segmento no mundo. Bruto, liricamente escuro e muito bem tocado. Recomendado para os fãs do gênero). Suffer In Seclusion


- Nilüfer Yanya: PAINLESS (Mais arrojado que seu álbum de estreia, aqui vemos a jovem artista de indie rock explorando instrumentalmente diferentes texturas. Em alguns momentos até mesmo me lembrou o trabalho do Beck e do Radiohead (dada as devidas proporções). Muito disso é mérito da produção. Fora que há ritmos bem construídos. É verdade, nem todas as composições são grande coisa, mas ainda assim parece sempre haver algum elemento sonoro atrativo). midnight sun


- Odradek: Liminal (Ótima banda de Piracicaba em mais um excelente trabalho, calcado em riffs encorpados, interferências eletrônicas e muita quebradeira. Curiosamente, esse álbum me remeteu ao que alguns grupos de math rock contemporâneos têm produzido, vide o Polyphia. Claro, é menos virtuoso, mas é um paralelo que eu não sentia nos discos anteriores. Vale dizer que isso é feito de forma consistente, espontânea e primando por um desenvolvimento construtivo das faixas, não se rendendo a mero exibicionismo). Canary Wharf


- OFF!: Free LSD (Não menos que entusiasmante ouvir uma banda liderada pelo Keith Morris num dos trabalhos mais criativos de punk rock dos últimos anos. Além da pegada e captação visceral, chama atenção os elementos composicionais, que vão de letras distópicas quase surreais, passando por riffs excelentes (alguns que remetem ao Mastodon) e até mesmo vinhetas de free jazz. A mudança de formação trouxe maior liberdade pra banda. Foda). Black Widow Group


- Open Mike Eagle: Component System With The Auto Reverse (O talentoso rapper continua entregue a emoção em suas rimas contundentes. Mas o que mais gostei foi a vasta paleta de beats, indo desde momentos de jazz rap, boom bap, abstratos… tudo com bom gosto, personalidade e audácia. Capa maneira. Ótimo samples. Bonzão). Burner Account


- Orville Peck: Bronco (Muito legal e, de certa forma inusitado, ver um artista abordando temas LGBTQIA+ dentro da country music. Isso não de maneira panfletária, mas carismática e musicalmente inspirada, com direito há memoráveis melodias, bons arranjos e até mesmo uma interpretação e timbre vocal destacável. Claro, tem algumas gordurinhas no repertório, mas no geral é bem positivo). C’mon Baby, Cry


- Oso Oso: Sore Thumb (Não tinha visto grande graça no álbum anterior deste projeto encabeçado pelo Jade Lilitri, mas não é que embarquei nesse disco. Tem composições pegajosas e criativas dentro de uma estética “pop punk esquisita”. É bacana). computer exploder


- Otoboke Beaver: Super Champon (A combustão punk nada ortodoxa do grupo se mantém inflamável neste segundo trabalho igualmente explosivo ao debut. Ainda assim, é possível sentir certa evolução composicional. Execução e timbres ferozes. Disco curtinho. Eu adoro). I won’t dish out salads


- Palm: Nicks And Grazes (O grupo já nasceu soando intrincado e diferentão. Sendo assim, para onde evoluir? Sabiamente trouxeram para dentro de suas composições timbres mais amplos (metálicos, luminosos, estranhos), explorando as melodias angulares e ritmos tortos de maneira ainda mais desconcertante. Nem todas as faixas funcionam, mas só pela proposta já acho um grande acerto). Eager Copy


- Perfume Genius: Ugly Season (Embora recebido como um disco de art pop, aqui o artista se afasta do pop, buscando sonoridades complexas na música erudita contemporânea, criando belas e abstratas paisagens. O resultado é uma produção rica em texturas. Sua performance vocal dolorosa chega na alma. Um disco explicitamente belo). Teeth


- Planet Hemp: JARDINEIROS (Em seu primeiro disco em mais de duas décadas, o Planet Hemp demonstra ser a banda mais relevante da sua geração. É um disco com altos e baixos, mas que tem como principal (e grande) qualidade, não soar preso ao passado. Os riffs se mesclam à interferências “modernas” e versáteis ao som do grupo. As letras não surpreendem, mas também não dizem nada de errado ou, o pior, constrangem (algo nem tão incomum ao rock brasileiro). Tem energia, tem valor, tem risco, tem minha atenção). MEU BARRIO


- Polyphia: Remember That You Will Die (A guitarra shred sobrevive neste grupo graças não só ao talentos dos guitarrista, que tão tocando (a.k.a. milimetricamente editado) muito, mas também focando as composições/produções em estéticas contemporâneas (tem pitadas de k-pop e trap, por exemplo). Eles fazem isso não como mera forma de se diluir em favor da indústria, mas como referências genuínas de jovens que, apesar de todo o virtuosismo, ainda usam a música como instrumento de diversão). Neurotica


- Porcupine Tree: Closure / Continuation (Após mais um década em silêncio, um trabalho que coloca o grupo novamente no centro do rock progressivo. Tem alguns momentos de excesso, principalmente no que diz respeito a bateria do virtuoso Gavin Harrison (que inclusive gostaria que pintasse menos na mixagem), mas no geral é um disco muito bem construído). Harridan


- Primitive Man: Insurmountrable (Me impressiona o peso e a ferocidade que a banda alcança em suas gravações, tanto no que diz respeito aos timbres, mas principalmente a interpretação, vide o gutural monstruoso do vocalista. É um metal extremo denso, apocalíptico, fúnebre, cavernoso, arrastado… É o inferno). Cage Intimacy


- PUP: THE UNRAVELING OF PUPTHEBAND (Pode um álbum de pop punk ser ambicioso? Claro que sim! Com diferentes abordagens sônicas, o PUP reuniu um repertório consistente e atraente. Tem momentos que captam a atenção do ouvinte pelo fator inusitado, ainda que sem soar presunçoso. Vigoroso). Matilda


- Pusha T: It’s Almost Dry (Disco relativamente curto, trazendo o rapper com seus históricos parceiros (Kanye West e Pharrell Williams) em produções inspiradíssimas. São faixas cativantes, até mesmo dançantes, com beats ganchudos e performance vocal calorosa (e cocainômana). Sem invencionismo besta, mas sem soar rasteiro. O pop-rap deveria ser sempre assim). Dreaming Of The Past


- Quadeca: I Didn’t Mean To Haunt You (Se não falha minha memória, não conhecia o trabalho do artista, mas fiquei surpreso como esse disco constrói momentos etéreos diante de canções pop contemporâneas que não se prendem a fórmulas. Não é precisso esforço pra reconhecer a simbiose de gêneros como pop, rap, eletrônico e até mesmo folk. Ótima produção. Criativo, acessível, belo e arrojado). picking my hands


- Quelle Chris: Deathfame (Apostando numa produção mais abstrata (tanto no que diz respeito à construção de beats quanto a mixagem) e em rimas contínuas que soam como um fluxo hiperativo de consciência, o rapper chegou ao seu talvez disco mais complexo. Tem criatividade, humor, engajamento político e escuridão. É excelente). Feed The Heads


- Rachel Chinouriri: Better Of Without EP (4 faixas de música pop aconchegante, colorida e carismática. Bons timbres e uma interpretação diferenciada da moça. É o suficiente para ser memorável). Better Of Without


- Rachika Nayar: Heaven Come Crashing (Em posse de guitarra, efeitos e manipulação, essa jovem artista cria uma instalação sônica etérea cheia de texturas. Pode parecer cabeçudo (e é um pouco), mas na verdade há grande poder de persuasão nas escolhas timbristicas e melódicas. Em alguns momentos, ela chega até a arriscar batidas dançantes. Bonito, profundo e viajante. Sem destaque, o lance é o todo).


- Ratos de Porão: Necropolítica (O bolsonarismo e o coronavírus criaram uma combustão criativa no grupo que percorre pela temática de todo o disco, gerando momentos que não necessariamente jogam luz no problema, mas explicitam o sentimento de raiva e angústia. Isso acompanhado de um direcionamento mais cru nos arranjos se comparado aos últimos trabalhos, mas igualmente feroz, urgente e pesado). Guilhotinado Em Cristo


- Red Hot Chili Peppers: Unlimited Love (Após uma sequência de discos fraquíssimos, a volta do John Frusciante criou uma inevitável expectativa. A resposta do grupo veio através de um disco nada presunçoso. Alguns momentos parecem até pouco “trabalhado”, soando como simples jams que viraram canções sem muito rodeio. De algum modo, achei isso legal, mesmo que nem sempre de resultado inspirado, principalmente liricamente (Anthony Kiedis tá em queda já faz bom tempo). Pra contrabalancear os deslizes, todos estão tocando muito bem e a produção (orgânica, encorpada, cristalina) dentro de uma estética “banda de rock” é perfeita. O saldo final é positivo, grande parte disso por memória afetiva). These Are The Ways

- Red Hot Chili Peppers: Return Of The Dream Canteen (Se eu já tinha me empolgado com o disco anterior, neste que é bem melhor resolvido eu embarquei geral. É interessante notar algumas escolhas harmônicas e de desenvolvimento das canções pouco óbvias. Aqui o Frusciante realmente toma conta. Arrisco dizer que tem alguns dos melhores solos da sua carreira. O Flea também demonstrou amadurecimento na criação das suas linhas. A gravação (ainda da mesma sessão do trabalho anterior) é impecável. Tem gordurinhas, claro, mas é o melhor disco do grupo neste século). Fake As Fu@k

- Rex Orange County: WHO CARES? (Não imaginei que gostaria do indie pop inofensivo deste artista, mas aqui as composições me pegaram. Simplesmente me envolvi com as melodias e até mesmo com sua interpretação contida (e por vezes falha). É legal também os elementos de r&b, assim como as orquestrações (provavelmente de VST’s) embelezando os arranjos). OPEN A WINDOW

- Richard Dawson: The Ruby Cord (De cara devo dizer que, embora adore a proposta, não posso afirmar que embarquei nos 40 minutos da faixa inicial, um folk prog por vezes bonito, por outros entediante. Todavia, adorei o restante do repertório, onde mais uma vez ele demonstra ser um dos maiores representantes do progressivo atual. É um trabalho belo, provocativo e complexo. Tanto musicalmente quanto liricamente. Adoro sua voz (mesmo nos estranhos falsetes) e seus inusitados caminhos melódicos. Fora que tem cada arranjo, que exploram com sabedoria sonoridades acústicas. E ainda vale uma reflexão: imaginem o Iron Maiden fazendo uma versão para “The Tip Of An Arrow”). The Fool

- Richard Thompson: Music From Grizzly Man (Trilha sonora de um filme do Herzog que honestamente sequer assisti. Só sei que ouvir, no escuro, as guitarras deste veterano guitarrista é um deleite. Há momentos de ambientações rurais etéreas. Majestoso. Jim O’Rourke e Henry Kaiser colaboram com o projeto. Sem destaque, o lance é o todo).

- Rina Sawayama: Hold The Girl (Talvez por não estar esperando grande coisa, tive uma grata surpresa escutando esse disco. Ela abriu mão das influências de new metal e trouxe elementos mais comuns de pop rock ao seu pop quase rasteiro, que soa como o que a Lady Gaga adoraria fazer, mas sempre derrapa. Adorei sua voz e interpretação. Boa produção. Bonita capa. Exitoso). This Hell

- Roc Marciano / The Alchemist: The Elephant Man's Bones (Num perfeito equilíbrio entre temas sinistros e escolhas sonoras de pouco alvoroço, esse álbum faz da parceria uma pérola tanto no que diz respeito a escolha dos beats quanto ao flow tão sóbrio quanto conciso do Roc. Poderoso). Quantun Leap


- Rosalía: MOTOMAMI (Essa talentosa artista espanhola se joga no olho do furacão pop-latino, se apropriando com naturalidade e criatividade do reggaeton, inserindo ao estilo ritmos intrincados e eletrônicos. Sua maravilhosa voz e inteligência composicional faz com que nada disso soe rasteiro. Mais parece as tendências musicais do mercado sendo tensionadas e, ainda assim, soando dançantes. Admirável). SAOKO - Russo Passapusso, Antonio Carlos & Jocafi: Alto da Maravilha (Um encontro geracional que já nasce bem sucedido. Disco cheio de groove, divertido, além de muito bem arranjado e executado. Não tem erro. Mesmo a previsibilidade gerada à partir do resultado esperado já mostra o êxito do projeto. Agora é torcer pra que novas gerações conheçam o trabalho do Antonio Carlos & Jocafi). Alabá

- Saba: Few Good Things (Aqui há uma combinação atrativa dentro do hip hop. Engajamento lírico e beats criativos são combinados a uma produção acessível e ganchos “fáceis” à la hip hop da virada do milênio. No geral dá muito certo. Vale dizer que fui atraído pela intrigante e ótima capa). Survivor’s Guilt

- Sam Prekop / John McEntire: Sons Of (Esse álbum traz o que mais gosto na música eletrônica: sintetizadores analógicos, certa elegância no desenvolvimento das composições, ritmos pulsantes (mas não incisivos) e uma aura densa que lembra o krautrock (só que aqui numa produção muito mais cristalina). Uma viagem que se estende pelas quatro longas faixas. Essa já antiga parceria pode render muito ainda). Crossing At The Shallow

- Saxon: Carpe Diem (Acho lamentável que um lançamento do Saxon não receba 5% da atenção de um novo álbum do Iron Maiden, visto que o grupo do Biff Byford vem demonstrando muito mais competência que a banda do Steve Harris. Esse disco tem ótimas guitarras, boa performance vocal, produção encorpada e atitude na execução. É inegável os clichês composicionais, assim como é inegável que no quesito heavy metal tradicional eles estão em boa forma). Age Of Steam

- Scorpions: Rock Believer (Nem ia ouvir, mas falaram tanto que era uma “volta às origens" que decidi dar uma chance. Bem, é uma volta à fase hard oitentista, o que não necessariamente é um problema. Saíram as baladas, voltaram as guitarras ganchudas e ríspidas. Para uma banda de meio século e dada como morta, tá bom. Impossível não atribuir muito disso a entrada do ótimo baterista Mikkey Dee. Mas cuidado, é o puro suco do “dad rock”, sendo inclusive liricamente bem bobinho). Hot And Cold

- SEBii: VVYELLOW EP (Não escutem, não é nada sério ou imperdível. É apenas um moleque no seu quarto produzindo músicas que ficam entre o pop, trap e emo. O pior é que soa bem, ganchudo, eufórico, criativo nas produções… Uma bobagem exitosa, inclusive na curta duração). aywhat + supasoaka

- Sharon Van Etten: We’ve Been Going About This All Wrong (Boas canções envolto a uma estética densa de dream pop (ou algo próximo disso). Tudo musculosamente etéreo e interpretado com o já conhecido charme da artista. É o suficiente). Come Back

- Show Me The Body: Trouble The Water (Num disco mais “pé no chão”, o grupo se concentra em apresentar faixas nocauteantes de post-hardcore com interferências eletrônicas, trazendo texturas saturadas para as canções. Gosto do sentimento de urgência). Radiator

- $ilkMoney: I Don’t Give A Fuck About This Rap, Imma Just Drop Until I Don’t Feel Like It Anymore (Cheguei pela capa, que positivamente me pareceu retratar bem o caos sonoro do disco. É um rap moderno, frenético e com produções que se apropriam de ritmos e timbres da música eletrônica, assim como samples de jazz. O flow do maluco é paranoico). Cuummoney Amiliani

- Silvana Estrada: Marchita (Sem grandes floreios instrumentais (embora muito bem arranjado), eis uma obra folk-barroca-latina, onde a artista atinge nível comovente de composição e interpretação. Sua voz é lindíssima, saltando aos ouvidos, muito também devido à cristalinidade da captação. Tem momentos que parecem cantados ao pé do ouvido. Poético). Te Guardo - Skid Row: The Gang's All Here (Primeiramente, saiba em que buraco você está entrando, afinal, é um disco do Skid Row, que agora volta com um jovem vocalista e sob produção do grande Nick Raskulinecz. O resultado é um disco encorpado, com ótimas performances e todos os clichês ganchudos que prometem animar fãs de hard 80's. Dentro da proposta é ótimo. Até a capa é maneira. Grata surpresa). Nowhere Fast

- Smino: Luv 4 Rent (Até para mim que não sou lá muito chegado em r&b contemporâneo/pop rap masculino, ficou nítido que o Smino é uma voz diferenciada dentro do gênero. Em cima de bases envolventes, ele não menospreza o flow. O resultado é uma sequência de boas canções e poucos deslizes). Pro Freak

- Soccer Mommy: Sometimes, Forever (Sempre senti que faltava algo nos discos da Sophie Allison. Eis que esse algo surge aqui, via a produção do Daniel Lopatin (Oneohtrix Point Never). Uma união improvável que resultou num trabalho rico em texturas e com melhores interpretações, ainda que dentro da sua já abordagem indie pop/rock. Fora que aqui estão sem dúvida suas melhores composições. Ela chegou no ponto). With U

- Spiritualized: Everything Was Beautiful (Jason Pierce continua a aperfeiçoar sua junção de rock sessentista, blues, gospel e shoegaze em produções/arranjos grandiosos e espaciais. Nossas mentes e almas são afogadas por uma massa sonora graciosa. Ótima sequência de canções). Best Thing You Never Had

- Spear Of Cassius: Visions Of A Fragmented World (Sabe o que isso parece? “Banda de um homem só” formada por algum moleque rejeitado que no seu quartinho vociferando todo seu ódio. Gosto deste esperito. Metalcore, grind, screamo… tudo numa sujeira só). Oxygen Destroyer

- Special Interest: Endure (Um álbum que evolui conforme desenvolve, ganhando tensão peculiar. Em alguns momentos parece o que aconteceria se uma banda de pós punk executasse um repertório de pop contemporâneo. Em outros são “apenas” timbres corrosivos (principalmente de baixo) e performances abrasivas (principalmente vocal) recheadas de carisma. Doidera eletro rocker radiantemente soturna). My Displeasure

- Spoon: Lucifer On The Sofa (Das bandas já veteranas de indie rock que despontaram neste século, o Spoon é das que se mantém melhor. Aqui eles apresentam um rock n’ roll genuíno, volumoso, carismático e, dentro do possível, até mesmo versátil. Ótima execução e timbres, principalmente no que diz respeito as guitarras. Nada que vá mudar o mundo, mas que pode melhorar seu dia). Head

- SPY / Maniac: Split (As duas bandas dividem esse split que pode ser considerado um dos momentos mais pesados de hardcore deste ano. Simplesmente um soco no peito. Bruto e ruidoso. Sem destaque, ouça tudo, é curtinho).

- Stormzy: This Is What I Mean (Se o pop rap prima por melodias, nada melhor que deixar o gênero nas mãos dos ingleses. Aqui o rapper se entrega em cima de belos arranjos, que colocam o piano na linha de frente do instrumental, assim com traz referências da música gospel. É um disco longo, com algumas derrapadas, mas também um fluxo épico de beleza poucas vezes vista no hip hop). Fire + Water

- Stromae: Multitude (Ainda que não seja o tipo de som que eu comumente ouça, esse hypado artista belga tem inegavelmente um trabalho rico, principalmente por somar ao pop-eletrônico-hip hop traços étnicos que eu não necessariamente saiba a fonte, mas que colore sua arte de maneira genuína e criativa. Essa base musical serve com inteligência ao seu lirismo que, com sagacidade, aborda temas como o colonialismo. Isso tudo com uma dramática voz e rica produção). Meuvaise journée

- Sudan Archives: Natural Brown Prom Queen (De arrojo quase cinematográfico no que diz respeito aos arranjos, produção e variedade instrumental, esse disco eleva a música pop via ótimas canções, ora calcadas no r&b, ora no rap, ora simplesmente pop. Grande paleta interpretativa da moça. Capturador). Home Maker

- Superorganism: World Wide Pop (Sendo bem sincero, nem foram as composições que chamaram minha atenção neste álbum, mas sim a energia corrosiva despejada nos arranjos e na produção, escolhendo timbres inusitados e mixagem volumosa. Mesmo a interpretação vocal vem carregada de uma alegria abrasiva. É um disco pop torto/psicodélico e tecnicamente explosivo. Atente-se a participação do Stephen Malkmus). Everything Falls Apart

- Taylor Swift: Midnights (Taylor num disco menos presunçoso ao que ela vinha fazendo recentemente, se jogando no pop rasteiro com muita influência do synthpop oitentista, gerando ótimas produções (tremenda mixagem), melodias ganchudas e, claro, alguns deslizes. Mais uma vez a parceria com o Jack Antonoff se mostra eficiente. Eu gosto). Anti-Hero

- Tears For Fears: The Tipping Point (Estou numa fase de adorar Tears For Fears, de modo que veio a calhar um disco de inéditas após quase duas décadas. E por mais que as canções não sejam tão memoráveis quanto de outrora, a qualidade/maturidade composicional, de execução e produção continua afiada. Um trabalho bastante orgânico, tanto na escolha dos timbres, quanto na interação dos dois integrantes. Transmite bons momentos). No Small Thing

- Terno Rei: Gêmeos (O pop rock nacional (pra não dizer mundial) é um estilo em decadência. Dito isso, é ótimo ver o Terno Rei explorando o gênero sem cair em fórmulas rasteiras. Muito pelo contrário, há boas letras, arranjos cuidadosos e produção não pasteurizada. Engraçado sentir a influência tanto do Charlie Brown Jr. quanto do britpop (normal, são crias dessa geração). Belo trabalho. Escutei muito durante todo o ano). Esperando Você

- Thaiboy Digital: Back 2 Live (O pop trap do artista está longe de apresentar grandes qualidades formais, ao menos tempo que soa no decorrer de todo disco pegajoso e agradável. Seja sua voz com traços e pop punk, a mixagem cheia de texturas ou os ganchos melódicos, tudo funciona muito bem). True Love

- The 1975: Being Funny In A Foreign Language (O disco do grupo que mais gostei. Embarquei na proposta de uma música pop com faro oitentista, mas de produção robusta/cristalina/contemporânea. A mão do Jack Antonoff sem dúvida foi fundamental para esse acabamento. Claro, tem algumas escorregadas, que soam como se o Maroon 5 acertasse a mão (“I’m In Love With You”). Por sua vez, “Part Of The Band” tem algo de Peter Gabriel. No geral, nada que vá mudar o mundo, mas com bons momentos). Looking For Somebody (To Love)

- The Black Angels: Wilderness Of Mirrors (A capacidade dessa banda em soar tão viajante quanto pesada impressiona neste que é um dos melhores discos do grupo. Senti toque de algo do rock alternativo do começo dos 90. Tem cada som de fuzz espetacular, sendo isso que eleva as composições estruturalmente simples. Rock certeiro). Empires Falling

- The Black Keys: Dropout Boogie (Gosto dessa volta às origens do Black Keys, com canções baseadas na guitarra, no blues rock e com timbres sujos. Isso dentro de uma fórmula composicional bastante acessível. Tem momentos inspirados. Billy Gibbons dá as caras). Baby I’m Coming Home

- The Brian Jonestown Massacre: Fire Doesn’t Grow On Trees (Costumo gostar mais dos discos recentes deste grupo liderado pelo Anton Newcombe do que seus trabalhos longínquos. Esse é mais um exemplo disso. Os ritmos hipnóticos e distorcidos (quase drones) criam nuvens garageiras que intoxicam o ouvinte. É sujo, viajante e através das composições estabelece um elo com nossas memórias rockeiras. Fora que tem cada guitarra (pra quem gosta de fuzz é prato cheio). Gosto muito). You Think I’m Joking?

- The Chats: Get Fucked (Se me falassem que é um disco de 1978 de uma banda de punk rock perdida eu juraria que é verdade. O melhor é que eles conseguem fazer isso sem soar pastiche. As canções são verdadeiramente boas e memoráveis, a execução é cheia de pegada e a produção é quente. Tremendo disco). 6L GTR

- The Comet Is Coming: Hyper-Dimensional Expansion Beam (Não são muitos discos calcados no jazz que são capazes de levantar uma pista. Via elementos eletrônicos, o trio traz uma combinação de timbres explosivos e pulsantes que formam uma aura/forma hipnótica, remetendo tanto ao jazz, quanto à música eletrônica. Isso com boas composições e performance calorosa. Bem bom). ATOMIC WAVE DANCE - The Cult: Under The Midnight Sun (Confesso que eu já tinha largado mão da banda. Mas ouvi tantos elogios a esse disco que decidi dar uma conferida. Embora não tenha canções tão memoráveis (nessa altura do campeonato é difícil mesmo), achei que eles tão maduros. Curioso que, se no passado eles atiraram tanto pro gótico quanto pro hard rock, agora eles chegaram num híbrido de resultado sônico de muito bom gosto. E como o Billy Duffy toca, não?). Knife Through Butterfly Heart

- The Garden: HORSESHIT ON ROUTE 66 (Cheguei pela capa (meio glam, meio black metal). Pouco mais de 20 minutos de uma doidera que funde punk rock crust, indie rock e até mesmo intervenções de drum and bass. Tudo com uma energia descomunal. Ao que consta, a isso se dá o nome de “vada vada”. Tem timbres saradíssimos adoráveis. Acho maneiro). What Else Could I Be But A Jester

- The Mountain Goats: Bleed Out (Salvo engano, esse é o disco mais “rockeiro”/guitarristico deste ótimo projeto encabeçado pelo John Darnielle. Ecos do “Wilco noventista” são sentidos, o que muito me agrada. Adoro como as canções evoluem em clima de jam, mas sem soar virtuosa ou presunçosa. Tem momentos de grande intensidade interpretativa. Com tantos acertos sonoros, confesso que nem me prendi aos textos cinematográficos do disco. Esse álbum me serve como o escapismo dos filmes de ação que tanto influenciaram a obra). Training Montage

- The Weeknd: Dawn FM (O álbum anterior já tinha sido uma nítida evolução, só que agora o astro pop foi ainda mais assertivo ao se jogar de vez no synthpop oitentista, intercalando refrões ganchudos com uma aura dark (sem abrir mão do apelo pop, claro) à uma produção pulsante e rica em detalhes. Bem bom). Sacrifice

- Tom Zé: Língua Brasileira (Não vou mentir, não é um disco de canções memoráveis. Mas ouvir Tom Zé, aos seus 85 anos, ainda tencionando a forma da canção popular brasileira, muito me emociona. Há boas letras e o carisma interpretativo já conhecido do artista baiano. Fora que os arranjos inusitados e a produção cristalina (assinada pelo Daniel Ganjaman) estão redondíssimos. Vale muito conferir). Os Clarins Da Coragem

- Toro y Moi: MAHAL (Acho natural ao produzir soul music ou psicodelia soar com algum ranço retrô. Toro y Moi escapa disso com proeza. Sua música é grooveada, ácida e contemporânea. Esse disco é uma delícia pop, de colorido instrumental e interpretações cativantes. Algumas das melhores guitarras e linhas de baixo deste ano estão aqui. Precisa de mais alguma coisa?). The Loop

- Trog: Of Vomit Reborn (Death metal bruto, de atitude punk e momentos memoráveis, principalmente no que diz respeito a criação de riffs. Muito bem tocado, mas sem ser ultra técnico. Fora que tem o lado “cômico” de gênero). Cosmic Parasite

- Tropical Fuck Storm / King Gizzard & The Lizard Wizard: Satanic Slumber Party (Duas das melhores bandas do rock australiano atual reunidas num trabalho ruidosamente inventivo. É sujo, divertido, psicodélico, voraz e abstrato (principalmente a última longa faixa). Curioso). Satanic Slumber Party Part 2

- Tulipa Ruiz: Habilidades Extraordinárias (Às vezes eu fico com a sensação que ela nunca vai superar o Efêmera. Muito mais pelo ineditismo/novidade ali presente, visto que o repertório e a interpretação aqui expostas são do mesmo nível. Há sagazes “cutucadas” líricas e sonoras dentro de uma “forma canção” usual, que faz dela um dos melhores nomes da MPB contemporânea. O resultado atende a demora por um disco de inéditas. Linda capa). Habilidades Extraordinárias

- Two Shell: Icons EP (Em pouco mais de 20 minutos, esse duo faz da nossa cabeça uma pista de dança vibrante em timbres graves e texturas bem construídas. Em alguns momentos soa como uma ponte moderna entre a house e o techno. Robusto e pulsante). Dust

- Undeath: It’s Time…To Rise From The Grave (Neste segundo disco, eles continuam levando as chamas do death metal tradicional, desta vez com momentos mais ganchudos, incorporando elementos de thrash e, em alguns momentos, soando cômico. Acho brutalmente divertido). Rise From The Grave

- Ustalost: Before The Glinting Spell Unvest (Eu confesso, de imediato a produção ultra lo-fi foi um problema. Isso principalmente no que diz respeito a bateria, que parece captada com 2 microfones distantes e ao baixo aparentemente em linha. Todavia, esse contraponto às superproduções funcionam dentro da estética agressiva do black metal. Além disso, no que diz respeito às composições, tem ideias muito interessantes, inclusive de harmonia. O guitarrista é criativo. Curioso e infernal). White Marble Column Air

- Vein.fm: This World Is Goind To Ruin You (Essa banda faz eu ainda ter esperança no metalcore e new metal. Aqui mais uma vez eles demonstram criatividade e agressividade. A produção é na cara e a performance é intimidadora (o vocalista parece que vai saltar dos falantes a qualquer momento). O clima é de distopia. Claro que há seus equívocos, mas eles são sempre seguidos de uma tijolada que nos faz esquecer o que passou. Voraz). Lights Out

- VHOOR: Baile & Bass (Surfando no hype da sua parceria com o FBC (certo ele!), o talentoso produtor lançou esse álbum instrumental que soa como batidas de funk numa abordagem mais “etérea”, com direito a graves poderosos e nuances climáticas bem desenvolvidas. O resultado é carismático, urbano e atmosférico, alcançando um resultado eletrônico genuinamente brasileiro). Freestyle

- Viagra Boys: Cave World (A banda dá um passo à frente e incorpora novas sonoridades ao seu “rock básico”. Há muitos elementos dançantes e eletrônicos colorindo o disco (fora o já conhecido e fantástico sax). É especial como a banda trata temas sérios divertidamente, escorraçando a estupidez do nosso tempo. Para completar, o Sebastian Murphy traz performances intensas que ora ou outra remete ao Nick Cave. Fodão). Ain’t No Thief

- X-Acto / Paranoise: X-Acto / Paranoise (Estranho split álbum contendo essas duas bandas de punk rock lo-fi bizarro. Timbres, melodias e interpretações de personalidade. 6 faixas, pouco mais de 10 minutos. Doidera). Blast Beats / Flesh Vines

- Xênia França: Em Nome da Estrela (A MPB numa nova forma criativa, contemporânea e pop, trazendo os tão em voga tambores da África em produções com fortes elementos eletrônicos. Isso, claro, em cima de boas canções e uma voz elegante. Produção redondíssima). Interestelar

- Wau Wau Collectif: Mariage (Ao que parece esse projeto tem como berço o Senegal. O disco é uma amostra tão tradicional quanto moderna da música africana. Tem groove, intensidade, climas, elementos de hip hop… Bem bacana. Vale a pesquisa). Xale

- Weatherday / Asian Glow: Weatherglow (Honestamente não sei do que se trata o Asian Glow, mas o Weatherday tem se mostrado criativo ao tensionar as barreiras do indie rock, emo e lo-fi. As canções são bem boas e a produção suja traz ainda mais personalidade pra obra. Adoro as guitarras, as melodias, a energia emotiva da voz. É um ótimo EP). Clockwalk Around The Ache

- Weezer: SZNZ: Summer EP II (Todo mundo odiou, mas não eu. Trazendo mais peso, volume e astral, esse EP ao menos me animou. É daqueles momentos exitosos da banda de quando consegue soar divertida e encorpada. Isso combinando boas guitarras à arranjos quase chamber pop (quando não pop punk). Bacana, também por conta da curta duração). Lawn Chair - Weezer: SZNZ: Winter EP IV (Do projeto das estações do Weezer, provavelmente esse é o único que vou voltar para ouvir. Interessante perceber os melhores momentos da banda na última década é apostando nessa sonoridade “chamber pop”, aqui com momentos mais descontraídos e até mesmo ótimas guitarras. É bacana).

- Westside Gunn: 10 (O homem por trás da Griselda reúne um punhado de gente legal (Black Star, Run The Jewels, Benny The Butcher, dentre outros) num repertório consistente, onde se por lado não há grande surpresa, por outro mostra que ainda é possível explorar musicalmente o gangsta rap). Peppas

- Weyes Blood: And In The Darkness, Hearts Aglow (Uma sequência natural ao espetacular disco anterior. Os maravilhosos arranjos de chamber pop se mantêm cristalinos. Algumas melodias soam mais previsíveis, mas são escolhas tão certeiras que não tenho como reclamar. Agora, um salto de qualidade são as performances vocais, agora ainda mais arriscadas e exuberantes. Pena que há algumas escorregadas composicionais, principalmente na parte final (“Twin Flame” é impressionantemente ruim). Bem bom quando bom). Hearts Aglow

- Wilco: Cruel Country (As vezes fico chateado em como o Wilco instrumentalmente tirou o pé do acelerador. Neste disco, por exemplo, eles viraram uma banda de country, de sonoridade lindamente orgânica. Todavia, por mais que não haja mais a “explosão” do passado, as composições e performances continuam em excelente nível. Há belas melodias e letras, que constroem uma paisagem rural e intimista. Um disco longo e com grandes momentos). Tonight’s The Day

- Wormrot: Hiss (Não se deixe enganar pela bonita capa, aqui está um dos mais agressivos discos do ano. E por mais que seja calcado no grindcore, chama atenção algumas melodias e riffs mais ganchudos e até um certo tom “emotivo” e “épico” das composições, mesmo que elas não passem de dois minutos. A bateria é tão veloz que beira ao improvável. Um álbum ambicioso de metal extremo, ainda que sem perder a atitude quase punk. Brutal e criativo. Obs: atenção para a bateria de “samba” em “Pale Moonlight”). Desolate Landscapes

- Yard Act: The Overload (Tudo que o Fontaines D.C. queria ter sido no começo (relaxem, é mera provocação). Uma nova cara para o pós-punk britânico através de faixas que conseguem intercalar rebeldia e intensidade com uma certa descontração jovial. Formam o arsenal sônico do grupo boa guitarras, uma atenção extra aos ritmos e, principalmente, textos sagazes). The Overload

- Zeal & Ardor: Zeal & Ardor (Um disco de metal espantosamente variado. Dentre bandas que me remeteram em algum momento estão Ministry, Slipknot, Deaftheaven e Dethklok. Isso sem mencionar sua já conhecida influência da música negra americana, feita com muita propriedade e inteligência. Adorei as performances vocais (seja nos momentos agressivos, seja nos momentos “blues”), os timbres, o desenvolver das composições… achei ótimo). Hold Your Head Low

MEDIANOS (4-6)

- 3rd Secret: 3rd Secret (Convenhamos, não tivesse na formação Krist Novoselic, Matt Cameron e Kim Thayil, esse disco não teria repercussão alguma. Mas não me entenda mal, as canções funcionam. Tem uma melancolia grunge em detrimento ao esporro que eu esperava ouvir. Gostei da interpretação da cantora. É bacana e só).


- Alex G: God Save The Animals (Álbum que recebeu certa aclamação, mas que confesso não ter embarcado na proposta. Até gostei bastante dos momentos mais abstratos, dos timbres mais corrosivos e menos ortodoxos (vide a ótima “Blessing”), mas no que diz respeito às composições, pouco me apeteceu. Inclusive achei algumas melodias bem cansadas. Forte em conceito, franco em canção).


- Alex Cameron: Oxy Music (Eu adorei o disco anterior, de modo que neste me decepcionei. Achei pouco inspirado, ainda que seus vícios sejam um tema interessante a ser explorado. O problema é que musicalmente tudo desceu de nível: as interpretações vocais, as melodias, os arranjos (agora é um soft-rock sem a ironia de outrora), a produção. Não chega a ser ruim (embora algumas baladas forcem a barra), mas é fraquinho).


- Angel Olsen: Big Time (Por mais que tenha uma beleza cristalina, com direito a arranjos cuidadosos dentro do contexto da música country, confesso que achei a experiência do disco um tanto quanto arrastada. Falta paixão interpretativa. Dentro de toda a versatilidade discográfica da artista, essa foi uma das propostas que menos me interessou). 


- Animals As Leaders: Parrhesia (Eu gostei muito do álbum anterior, de modo que vi com decepção essa volta para momentos meramente virtuosos e tortos. Faltam bons ganchos. Dito isso, é ultra bem tocado, recuperando minha memória adolescente de sons guitarristicos).


- Arctic Monkeys: The Car (No álbum anterior (sei lá o que & Casino), eu gostei da proposta de trazer orquestrações à la Serge Gainsbourg para o som do grupo. Era um risco que, em boas canções, se revelou assertivo. Já seguros desta estética, The Car é menos atraente. Tem bons arranjos, timbres orgânicos e uma influência bem vinda de Bowie, mas essa voz empostada de barítono do Alex Turner é canastrona demais, atrapalhando qualquer experiência positiva que o disco poderia proporcionar. Fora que tem umas canções arrastadas demais. No geral, morno).


- Baco Exu do Blues: QVVJFA? (Dentro do cenário de “pop-rap” nacional, o Baco Exu é realmente um destaque. Mesmo diante de algumas escorregadas, é visível seu capricho lírico e nas produções, aqui bastante climáticas. Não é exatamente a minha onda, mas funciona).


- Bad Bunny: Un Verano Sin Ti (Mais uma vez o artista porto-riquenho demonstra ser diferenciado quando o assunto é o pop latino contemporâneo. Ele consegue equilibrar momentos ganchudos, dançantes e coloridos com produções criativas (quase psicodélicas) e pequenas experimentações composicionais. O problema é que nem tudo é acerto, sendo que ao longo das 23 faixas (!!!) tem escorregadas, tornando a audição do disco irregular. Melhor montar uma playlist com as prediletas).


- Beth Orton: Weather Alive (Confesso que não acompanho a discografia da já veterana artista, de modo que me surpreendeu negativamente sua voz frágil a ponto de soar "pouco musical" (parâmetro ultra subjetivo). Por sua vez, o instrumental é dos mais elegantes ao abordar na atualidade trejeitos do trip hop. Bons grooves, timbres e texturas. Somando tudo o resultado é anticlimático. Foi muito elogiado. Vale novas audições futuramente).


- Biosphere: Shortwave Memories (O veterano produtor em mais uma amostra da sua interessante fusão do techno com a música ambient. O resultado é hipnótico e de belas texturas, ao ponto que em alguns momentos fiquei disperso. É que é muito longo).


- Black Pantera: Ascensão (Queria gostar, mas não consigo. Ok, eles têm atitude, têm peso… mas as composições são fracas, tanto no que diz respeito as letras quanto aos riffs. A interpretação vocal pende para uma caricatura besta de heavy metal. De ponto positivo está o fato de cantarem em português, os timbres de baixo e a intensidade da execução instrumental, o que geral alguns poucos destaques (vide “Revolução É O Caos”). Espero honestamente que a banda evolua. Ao vivo talvez já funcione melhor).


- Bladee / Ecco2k: Crest (Já deixo claro: não gostei do disco. Entretanto, tê-lo escutado logo após ouvir o terrível álbum novo do MGK ressaltou diversas qualidades: o flerte com texturas de música ambient, a não pasteurização composicional e a produção fora da curva. Dito isso, não entra na minha cabeça as interpretações e, pra ser mais sincero, o resultado em si. Simplesmente não entendo a estética. Tô velho pra isso).


- Bladee: Spiderr (Embora tenha gostado de seu aperfeiçoamento composicional (tem momentos bem ganchudos) e até mesmo interpretativo (ressaltado nas melhores melodias), não posso dizer que embarquei na proposta como um todo. É uma sonoridade de pop moderno esquisito que é muito dificil pra mim. Mas tem sua onda).


- Blood Red Shoes: Ghosts On Tape (É engraçado como, do mesmo modo que soa intensa a proposta de rock acessível com timbragens sintéticas, soa também bobinho. É muito bem mixado, tocado e até mesmo ganchudo, mas é também ultra pastiche. Tem carinha de rock moderno dos anos 2000. Vá por sua conta em risco).


- Burial: Antidawn (4 longas faixas que não me levaram a lugar algum. São colagens eletrônicas com vocalizações e reverberações abstratas. Ao mesmo tempo, é uma proposta experimental que não me permite grandes críticas. Na real, sequer entendi). 


- Burial / Four Tet: Nova / Moth (Dois dos nomes mais criativos da música eletrônica contemporânea em faixas que não são ruins, mas também não dizem muito. Esquecível).


- CEO Trayle: HH5 (Nem ruim, nem bom. Até acho bacana o conceito dark das canções aplicado em produções densas. O problema é que não há grandes ganchos, tornando a audição (e são mais de 50 minutos) um tanto quanto monótono).


- Charli XCX: Crash (Após lançar álbuns que a colocaram no centro de um pop “vanguardista”, agora ela volta para o pop “rasteiro” de seus primeiros trabalhos. Claro, ainda há faixas bacanas, mas no geral é pouco instigante).


- Chief Keef: 4NEM (De imediato eu admirei a evolução em termos de instrumentação dentro do trap. Depois adorei a euforia da interpretação. O problema é que ambas as qualidades perdem a força no decorrer do álbum. É bom, mas repetitivo). - Clava: Sudaméfrica (Embora tenha gostado do trabalho de guitarras e das composições, preciso ser honesto e afirmar que o vocal esganiçado e a limitada produção atrapalhou no resultado final. Uma pena. Mas recomendo pra quem curte hardcore straight edge. Eu vou ficar de olho nos próximos trabalhos).


- Criolo: Sobre Viver (O trabalho mais fraco dentro de uma discografia coesa. Não curto essa estética “mpb-pop com inspiração afrobrasileira” que ele insere em diversas faixas. Prefiro quando ele está fazendo rap ao invés de cantando linhas mais melódicas. Liricamente também não há grandes sacadas. A produção (boa parte junto do Tropkillaz) também não salta aos ouvidos. Não é ruim, mas não é bom. “Quem Planta Amor Aqui Vai Morrer” é a única que verdadeiramente curti).


- death’s dynamic shroud: Darklife (Eu gostei de várias faixas do disco (vide "Judgement Bolt"), mas confesso que muitas delas tomam um rumo quase progressivo que tornam a experiência como um todo massante. Mas não dá pra ignorar que as produções são criativas, estrondosas e repletas de texturas tecnicamente avançadas. Recomendado para quem curte música eletrônica esquisita).


- Def Leppard: Diamond Star Halos (Depois de me surpreender com o novo disco do Scorpions, decidi dar uma chance a outro trabalho que foi vendido como “volta as origens”. O que me esqueci é que mesmo o auge do Def Leppard não me empolga tanto. Mas estão aqui as ótimas guitarras e os refrões poderosos típicos de hard rock oitentistas, assim como as baladas terríveis e a produção polida. Os fãs devem ter gostado).
- Dream Unending: Song Of Salvation (Com alguns momentos ambiciosos, que poderiam receber o rótulo de "progressive doom black metal melódico" (montem esse absurdo na cabeça de vocês), o grupo chega a resultado que, mesmo quando interessantes, nunca que eu me pegaria reounvindo).


- EARTHGANG: GHETTO GODS (Pensando em gêneros como pop-rap e trap, é possível admirar a consistência da produção e até mesmo do lirismo dos rappers (inclusive dos que participam, vide JID, J. Cole e Cee Lo Green), todavia, não dá pra dizer que são faixas que saltam aos ouvidos. Recomendado mais para os fãs do gênero).


- FKA twigs: CAPRISONGS (Em seu projeto mais acessível, a artista abraça tendências do pop americano (trap, r&b, latinidades) sem se render a escolhas tão óbvias, mas inevitavelmente diluindo o som. Tecnicamente tem muitos acertos, mas confesso que não me encantou).


- Future: I Never Liked You (Eu nem ia escutar, mas como fez enorme sucesso, dei uma nova chance. E vou confessar que até achei que começa bem (“712PM” é bem bacana). Tem boas produções e um flow digno dentro do trap. O problema é que tudo vira um autoplágio que dura mais de 1 hora. Fora que ali por volta de “Wait For U” a coisa despenca de qualidade. Essas baladas de trap são um saco. Ou seja, tem seus momentos, mas não são muitos. Tem que caçar).


- Ghais Guevara: There Will Be No Super-Slave (Embora esse rapper seja imponente em sua rimas, confesso que há algo no seu timbre e flow que não me agrada tanto. Parece não ter dinâmica. Por sua vez, a produção, tanto no que diz respeito a escolha de samples, beats e mixagem, traz uma aura cinematográfica quase experimental para o disco. Trabalho naturalmente muito doido e irregular, embora com momentos inspirados).


- Guerilla Toss: Famously Alive (Era um tanto quanto previsível que o grupo iria evoluir e arredondar o som até o ponto de perder parte da graça. Ainda há bons timbres, esquisitices (em menor escala) e uma inteligente apropriação de batidas dançantes. Todavia, o que fizeram no passado é tão mais legal).


- Harry Styles: Harry’s House (Ele é lindo, carismático e mostrou evolução em carreira solo. Todavia, ainda não foi dessa vez que ele acertou no repertório. Tem momentos bem legais (vide a faixa de abertura) e outros bem insossos (vide “Satellite”). A proposta de modernização de um soft rock continua. O resultado é mais uma vez morno).


- Hudson Mohawke: Cry Sugar (Esse produtor explora beats em diferentes nuances e texturas, soando muito bem principalmente nos momentos mais “explosivos” e graves. É um disco versátil, que vai do wonky ao ambient, e que justamente por essa característica, se perde na longa duração. Tem que pescar os melhores momentos).


- Huerco S.: Plonk (Por mais que eu tenha adorado diversos momentos, senti que algumas faixas duram mais do que deveriam, fazendo com que a experiência como um todo soe um tanto quanto arrastada. Ainda assim, vale se atentar às intrincadas construções rítmicas, inteligente uso de filtros como elemento de composição, apropriação da música ambient, dentre outras qualidades técnicas de um produtor talentoso).


- Jason Richardson: II (Um dos grandes nomes da guitarra shred da atualidade em uma amostra de virtuosismo, peso e influência tanto de Meshuggah quanto de John Petrucci. Soa bem, assim como empapuça. O baterista Luke Holland acompanha tudo com eficiência e pouca organicidade. Recomendado só para o nicho de fãs de rock/metal instrumental guitarristico).


- JER: Bothered / Unbothered (Fui ouvir o disco após o Fantano fazer um crítica entusiasmada. Mas por mais que concorde que há energia, talento e propriedade do artista em lançar um disco de ska punk nessa altura do campeonato, confesso que esperava algo mais divertido e estranho. A produção achei tosquinha (embora com tudo “na cara”). No fim pareceu um álbum bacana comum, mesmo dentro de um território pouco explorado atualmente. Pretendo reouvir em breve, as vezes só peguei no momento errado).


- King Gizzard & The Lizard Wizard: Omnium Gatherum (O super produtivo King Gizzard desta vez não propõe uma “nova fase”, mas sim um apanhado geral de tudo que já fizeram. Tem blues, “tameimpalices”, heavy metal, elementos eletrônicos… tudo dentro da sua atmosfera psicodelica tão conhecida. Poderia ser uma ótima ideia, mas para mim ficou soando como um álbum de sobras. Claro que tem seu colorido, carisma e intensidade, mas como um todo é um trabalho menor. Adorei a capa).


- Marília Mendonça: Decretos Reais, Vol.1 (Ao que consta, quando lançado o Spotify travou devido o grande número de acessos. Vi que eram só quatro faixas então fui conferir. Ela tem carisma, os arranjos dentro da proposta são ótimos, “Te Amo Que Mais Posso Dizer” sempre me conquista, a dobradinha “Sendo Assim / Muito Estranho” funciona otimamente… MAS, não vou fingir que é minha onda. Me agrada tanto quanto dispenso). - Mc Poze do Rodo: O Sábio (Ao mesmo tempo que o disco tem problemas (embora curto, ele perde a força numa tacada só), ficou nítido para mim a evolução do trap/funk brazuca. Há inclusive elementos psicodélicos à la Travis Scott na ótima produção. Mesmo o flow do Poze melhorou bastante. Se eu tivesse 16 anos seria minha onda (tem besteiras líricas típicas da juventude), mas no meu estágio apenas vejo com admiração à distância).


- Meshuggah: Immutable (Uma das bandas do coração num momento menos inspirado, embora sua receita de “peso bruto e moderno + fórmulas rítmicas pouco usuais” continue impressionante. O problema são as composições, que apresentam pouca variação melódica e de dinâmica, o que poderia gerar uma experiência hipnótica nocauteante, mas só soa repetitivo mesmo).


- Metric: Formentera (Essa banda já veterana até alcança momentos majestosos dentro de sua estética “indie rock com um pé no pop”, mas as composições não são memoráveis e a interpretação da Emily Haines fica devendo).


- Mitski: Laurel Hell (Lá na raiz das composições, até consigo ver algumas qualidades, entretanto, me impressionou o quão preguiçoso é esse disco. Interpretação e produção beirando o sonolento. Chega a flertar com o ruim. Queda vertiginosa se comparada ao álbum anterior da artista. Uma pena).


- Panda Bear / Sonic Boom: Reset (Embora com alguns bons achados ao emular os Beach Boys (“Edge Of The Edge”), esse dois prestigiados artistas não conseguem produzir algo que escape da monotonia psicodélica. É viajante, tem sua graça, mas também é repetitivo).


- Preoccupations: Arrangements (O pós-punk do grupo ganharares atmosféricos neste disco de resultado comum. Tem boas faixas, mas no geral dá uma sensação de que a banda perdeu a força. Preocupante).


- Sam Gendel: Blueblue (Talvez eu esteja comendo bola, mas não adentrei a experiência sonora desse elogiado álbum. Tudo bem, tem suas ricas texturas, fruto de uma captação primorosa que geram um jazz bastante climático. Todavia, o desenvolvimento das faixas me pareceu monótono. Darei nova chance no futuro).


- Shygirl: Nymph (Tudo bem, as qualidade que foram apontadas realmente estão presentes: a cantora soa sexy, há boa produção e algumas ótimas faixas. Dito isso, nem tudo me agrada. Tem momentos genuinamente pouco inspirados. E olha que o disco nem é grande, o que revela falta de estofo. Monótono mesmo nas qualidades).


- Sinistra: Sinistra (Supergrupo com gigantes do “rock pesado” brasileiro. Todos ali são tecnicamente muito talentosos (o Edu Ardanuy continua se mostrando diferenciado), o que fica ressaltado em diversos momentos, lembrando o Sabbath na fase Dio, só que cantado em português. E justamente nas letras está o principal problema. Além do conteúdo meio autoajuda, não há ganchos ou mesmo “flow” dentro da estrutura das canções. Parece não casar, embora o Nando Fernandes seja um ótimo cantor. Que falta faz um bom compositor entre instrumentistas talentosos, não?).


- Steve Lacy: Gemini Rights (Aqui parte é culpa minha, já que criei expectativas em cima do trabalho do artista, que até o momento respondeu com um repertório morno. Ao menos pro meu gosto, essa sonoridade “r&b lo-fi melosa e esquisitinha” me soa equivocada. Ele poderia tocar mais guitarra, tentar ser o Prince (olha eu criando expectativa novamente). Dito isso, há algumas boas canções, com direito até a influência de música brasileira em duas delas. Mas apesar das qualidades, o saldo final é pouco memorável).


- SZA: SOS (Mais uma vez a cantora lança um disco aclamado que eu simplesmente não consigo embarcar. Na realidade gostei de algumas faixas, principalmente as que investem na abordagem "triste e com tesão" do r&b (vide "Kill Bill", "Gone Girl", "Open Arms"). O problema é que o longo repertório abre espaços para irregularidades. Gosto das produções, mas nem todas as interpretações. Trabalho de altos e baixos).


- The Linda Lindas: Growing Up (Vou te falar que superou minhas expectativas. Tem canções legais (e outras bem bobinhas). Curioso que não chega a ser nem um pop punk, tá mais para um bubblegum punk. Ouvir na brinquedoteca junto da minha filha de 2 anos foi divertido. Qualquer coisa além disso é loucura).


- The Mars Volta: The Mars Volta (Após uma década em repouso, o grupo volta às atividades com um som mais contido/”soft”. A influência latina ainda está lá, já as pitadas frenéticas de MC5 desapareceram. As composições abordam temas maduros, mas que honestamente não roubariam minha atenção não fosse a banda que é. Agora, o ponto negativo é a performance. Uma banda que sempre teve excelentes instrumentistas e que tem um dos guitar heros deste século, soa completamente linear, sem grande personalidade, mesmo nos momentos instrumentalmente intrincados. Morno).


- Tim Bernardes: Mil Coisas Invisíveis (Acho ele muito talentoso, mas esse trabalho não me pareceu inspirado. As letras reproduzem afetações sobre término de relacionamento, os arranjos estão mais previsíveis (embora com alguns momentos exitosamente bonitos), sua voz pouco emociona (apesar de todo esforço que ele parece fazer para sofrer)... tudo isso em faixas pouco carismáticas (e são 15, ao longo de 1 hora de disco). Dito isso, não é ruim, só acho que ele é capaz de produzir algo melhor, vide seu ótimo disco anterior).


- Vince Staples: Ramona Park Broke My Heart (Transitando entre o west coast, trap e pop rap, o artista apresenta canções tecnicamente bem construídas, mas não necessariamente cativantes. Tem bons momentos, mas o gosto final é de insatisfação).


- Weezer: SZNZ: Spring EP I (O primeiro ato dos “EP’s das estações do Weezer” não empolgou. Na maior parte são canções de power pop esquecíveis, com a vantagem que eu tenho muita boa vontade com o grupo, o que faz que eu goste até mesmo das melodias e interpretações mais bobinhas que eles produzem (e aqui há muitas). Ao menos liricamente há uma questão espiritual/existencial que é novidade no grupo).


- Wet Leg: Wet Leg (Duo feminino em sua estreia pós-hype. Parece um CSS menos “maluco” e mais “garage”. Honestamente, achei meio tacanho, mas ok).


- yeule: Glitch Princess (Não consegui comprar a ideia desse disco. No geral me pareceu uma mera tentativa de fazer um pop futurista bizarro. Até tem bons ganchos (principalmente na metade final do disco) e soluções de produção interessantes, trabalhando timbres sintéticos com ousadia. Entretanto, não é algo que me instiga. Obs: vale dizer que nem cheguei a ouvir a última faixa, nada mais que quase 5 horas de uma ode à música ambient. Passo).


- Yung Kayo: DFTK (Pessoalmente, acho que o trap já saturou (tirando raras exceções). Isso se revela justamente quando um disco com bons ganchos, ótima produção e estética “psicodélica à la Travis Scott” me soa pouco entusiasmante).

- Zola Jesus: Arkhon (Eu até queria gostar mais, mas na verdade sempre fico com a sensação que falta mais “peso”, densidade e menos flerte com o pop. No fim me parece um darkwave/art pop feito para conquistar os fãs de Stranger Things que curtiram a Kate Bush. Mas não me entenda mal, tem seus bons momentos (vide “Into The Wild”), interessantes texturas na produção e a moça tem uma bela voz. Talvez só não seja a minha praia).

RUINS (0-4)

- Anitta: Versions Of Me (Das quinze faixas, gostei de uma (“Gata”) e achei outras duas ok (“I’d Rather Have Sex” e “Que Rabão”). Tá mais pra ruim que mediano, certo? Agora, analisando o disco em si, chamou atenção como ela foi infeliz na escolha dos singles. Também espanta como, embora ela “venda” a ideia de versatilidade - o que na realidade me pareceu mais como incoerência da obra como um todo diante de singles que atiraram para diferentes direções -, o que predomina são tendências do pop latino mal exploradas, não só pela interpretação e produção (que nem são das piores), mas pela raiz das composições, de ganchos chatos, melodias rasteiras e beats sem personalidade. Uma pena).


- Demi Lovato: HOLY FVCK (Eu até poderia ignorar a mediocridade pastiche das canções, que embarcam no pop punk sem nenhuma personalidade, mas o real problema é masterização tão comprimida que torna a audição incomoda. Fora a interpretação/processamento vocal da Demi, com agudos verdadeiramente irritantes, inclusive afinados digitalmente de maneira estranhamente tosca. Problemas técnicos que saltam à audição, impedindo que eu lidasse com possíveis méritos).


- Jack Harlow: Come Home The Kids Miss You (A indústria do entretenimento cria astros inócuos que por ofício devem se jogar em carreira artística, ainda que não tenham aptidão para isso. É o caso deste jovem que alcançou a fama mesmo sendo um “rapper” que parece nunca ter ouvido o gênero. Sua interpretação e texto pende para o terrível. É um sucesso que me deixa incrédulo tamanha a falta de inspiração e personalidade. Nada se salva).


- Jovem Dionisio: Acorda, Pedrinho (Esse grupo explodiu no TikTok com a canção que dá título ao disco. Embora tenha achado um saco, vi que era uma banda de indie pop e decidi dar uma chance ao disco. Não foi dessa vez que o gênero no Brasil ofereceu algo de bom. É nitidamente um trabalho bem produzido (sem criatividade, dentro dos padrões da indústria) o que só ressalta a pobreza composicional. São canções bestas, ora engraçadinhas, ora fofinhas, sempre constrangedoras. Lamentável).


- Machine Gun Kelly: mainstream sellout (A culpa é minha, claro, por que fui perder tempo com uma porcaria dessas? Nem quando tinha 10 anos eu gostava do Blink 182, não é hoje que vou curtir uma cópia genérica com pitadas do que há de pior no pop contemporâneo. Ainda mais vindo de um sujeito de personalidade tão fake. Vale dizer que é impressionante o quão comprimida é a masterização, chegando a incomodar a audição. O peso é artificial, as melodias são irritantes, a interpretação é sem carisma e atitude…. Ou seja, mais um engodo da indústria com aparência de transgressão feito para adolescentes incautos).


- Muse: Will Of The People (Esse disco foi vendido como uma aposta da banda em sons mais pesados, flertando com o heavy metal. Criei uma expectativa que foi completamente frustrada. Até para mim, que costuma “defender” os discos mais recentes do trio, foi inevitável não ficar espantado com a falta de inspiração. Esses conceitos distópicos que eles abordam já estão saturados. Musicalmente é cafona, de melodias chatas, interpretações grandiloquentes cansativas, timbres ultra sintéticos, dentre outros atributos que fazem deste o pior disco da banda. E se tratando de peso e influências de metal, honestamente senti que até mesmo o novo álbum da Demi Lovato foi melhor sucedido nisso (apesar de também ser ruim). Todas as críticas que sempre fizeram a eles ao menos agora são justas).


- Slipknot: The End, So Far (Já faz um tempo que a banda está ensaiando o fim né. Aqui ficou claro para mim que ele já chegou. Faixas nada inspiradas com timbres de plástico. Mesmo quando começa bem, as canções desandam para refrões pavorosos, ora remetendo ao A7X (em “Heirloom” é explícito), ora a nem isso. O baterista Jay Weinberg até tenta demonstrar que a banda ainda tem pra onde ir, mas o resto do grupo não o acompanha. Insípido, quando não com gosto de merda).


- Weezer: SZNZ: Autumn EP III (Tenho grande tolerância as sem-vergonhices do Weezer, mas aqui passou dos limites. Pop rock chato e fraquíssimo. Toma vergonha na cara, Rivers Cuomo). 


FILMES


- Elvis 

Como todo filme biográfico de Hollywood, tem seus clichês e cafonices, mas também tem recurso financeiro para fazer uma obra imponente. E comparado a outros longas, esse é bem sucedido. A história é narrada num bom ritmo, tem boas atuações e joga os holofotes num artista espetacular que, de tempos em tempos, precisa ser lembrado para as novas gerações. - jeen-yuhs: Uma Trilogia Kanye
Com cenas de arquivo gravadas há mais de 20 anos - como se o Kanye West previsse o fenômeno que iria virar -, esse documentário percorre detalhadamente por sua criativa fase inicial, passa correndo pelo auge da popularidade e chega nos seus devaneios atuais. O fato de trazer suas polêmicas faz com que, ao contrário de outros documentários sobre artistas contemporâneos, não pareça uma peça de publicidade. É impressionante, dramático, angustiante, divertido e esclarecedor.


- Racionais: Das Rua de São Paulo Pro Mundo
Aquele tipo de documentário que a história é tão boa que seria difícil arruinar. Por sorte, ainda há escolhas de edição que evidenciam a força do grupo. Aquela cena de mais de 2 minutos de "Domingo no Parque", com a plateia cantando em peso, é uma maravilha. Gostei também dos trechos que evidenciam o humor da banda (a guitarra quebrada, o carro sem gasolina). Filme especial, que fico feliz ter sido lançado mundialmente pela Netflix. Tomara que seja visto em outros países. Eu mostrei para os meus pais.

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